Janaina rejeita apoio a Huck ou Datena e vê direita em areia movediça em SP
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirma que não apoiaria nomes vindos da TV - especificamente José Luiz Datena e Luciano Huck— caso esses viessem a disputar respectivamente a Prefeitura de São Paulo e a Presidência da República.
"O Datena tem que ficar onde está. Gosto dele como apresentador, acho um grande quadro, já me entrevistou, uma pessoa boa. Mas acho que não deve misturar. Se ele vier, respeito como qualquer pessoa que se candidata. Mas não faria campanha".
Sobre Huck, a toada segue a mesma, sem rodeios.
"Eu vejo da mesma forma. Se ele vai ou não vai [ser candidato], não sei. Mas não faria campanha para ele."
A deputada observa possíveis adversários, mas mostra preocupação com uma implosão da direita paulista nas eleições à Prefeitura de São Paulo, por causa do elevado número de pré-candidatos.
Em São Paulo, Arthur do Val (Patriota), Andrea Matarazzo (PSD), Joice Hasselmann (PSL), Filipe Sabará (Novo) e Bruno Covas (PSDB) podem se enfrentar no primeiro turno como candidatos a prefeito, um desgaste perigoso na visão de Janaina.
Não ter representante num eventual segundo turno é uma possibilidade remota na avaliação dela, mas um cenário de mágoas incuráveis que impeçam uma aliança da direita na reta final é uma preocupação real.
"Cada um deles sabe que o adversário no primeiro turno vai ser o colega de direita. Com certeza vão se digladiar. No ambiente hostil de uma eleição, vão se defender, vão se acusar. Não é um bom cenário."
Bolsonaro "abandonou um monte de gente"
Com isso em mente, a deputada já conversou com todos os políticos mencionados. Mas ela ainda não definiu onde colocará seu apoio com potencial dos 2 milhões de votos que recebeu em 2018.
Podem chamar de omissa, mas eu não estou nem aí. Vou fazer o que eu achar certo. Estou ouvindo os candidatos um por um.
Há, porém, um plano em curso: juntar Arthur do Val, o Mamãe Falei, com Andrea Matarazzo. A deputada enxerga neles dois perfis complementares — a juventude e o traquejo com as redes sociais aliada à experiência e conhecimento de administração pública, respectivamente.
Janaina trabalha para evitar desencontros, mas entende que a estrutura da direita já sofreu um abalo, causado pelo seu maior expoente hoje, o presidente Jair Bolsonaro, quando este deixou do PSL.
O presidente poderia ter saído do PSL com um argumento forte, dizendo que é o presidente de todos, não o presidente de um partido. Eu mesma ia adorar um discurso desse. Mas não foi isso que ele fez. Ele saiu para montar outro partido e acabou separando as pessoas. Ele abandonou um monte de gente no meio caminho.
Globo se curvou a vida toda ao dinheiro público, diz deputada
Junto a este papel de articulação política, Janaina tem um mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo a tocar. O modo como os governos gastam a verba de publicidade está na mira da deputada estadual.
Ela apresentou um projeto de lei para regular situações como contratar apresentadores renomados para fazer propaganda. A deputada considera que os gastos em publicidade configuram campanha eleitoral permanente e desperdício de dinheiro público.
Tem um outro fator que, talvez sob o ponto de vista da democracia, seja ainda pior. O controle da imprensa. É um controle indireto. Acho que escrevi até na justificativa [do projeto de lei]. Escrevi que a censura não se faz só pela força, se faz também pelo dinheiro. Porque os veículos de comunicação no Brasil criticam muito a censura e estão com razão. Mas se calam diante da força do dinheiro.
Ela não isenta nenhum grupo de mídia desta análise. Questionada se a Rede Globo também se curva à força do dinheiro, a deputada estadual foi sucinta e direta na resposta: "Se curvou a vida inteira".
"Negar ditadura é complicado. Questão histórica"
Janaina se elegeu na onda verde-amarela, mas diz que tem diferenças com este fenômeno bastante presente nas eleições de 2018. A deputada se define como uma pessoa "extremamente democrata", e que valoriza muito os direitos fundamentais. Ela ainda acrescenta:
Insistir que não houve ditadura no Brasil não dá. Pode fazer leitura diferente do momento de 64, que havia situação de conflito. Mas negar ditadura é complicado. Questão histórica de fato. Acho que fica este embate. A dinâmica da direita que ascendeu é muito a dinâmica da esquerda que caiu.
A deputada emenda com o questionamento sobre o impedimento de Dilma:
"Dizer que 64 não foi golpe é igual chamar o impeachment de golpe. É negar a realidade. Eu acho que anunciei isto na convenção do PSL, que a gente estava correndo o risco de fazer o PT ao contrário".
Reunir pessoas com posição contrária ao aborto está entre os planos de Janaina para as eleições deste ano.
A deputada ressalta que não se trata de punir mulheres, mas sim de um projeto para agregar pessoas contra interromper a gestação.
Entre as preocupações de amplo efeito, resta ainda, segundo Janaina, apaziguar uma questão particular: os ânimos em casa.
"Meus familiares não gostam de eu estar na política. Ninguém gosta. Não é algo tranquilo."
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