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No WhatsApp, mobilização para ato pró-governo segue apesar de coronavírus

Manifestação a favor do governo Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios em maio de 2019 -  Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Manifestação a favor do governo Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios em maio de 2019 Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Aiuri Rebello e Cleber Souza*

Do UOL, em São Paulo

12/03/2020 15h51

Resumo da notícia

  • Mensagens em grupos dizem que notícias sobre pandemia são estratégia contra atos
  • Organizadores avaliam cancelar manifestações previstas para domingo no país
  • Presidente Jair Bolsonaro vem incentivando protestos contra STF e Congresso

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mantêm a mobilização para o ato a favor do governo federal em grupos no WhatsApp, apesar da pandemia do coronavírus, que nessa semana alastrou-se pelo país.

Incentivada pelo presidente, a manifestação está marcada para o domingo, quatro dias após ser declarada a pandemia global do vírus e em um momento em que os casos começam a multiplicar-se pelo Brasil.

Entre ontem e hoje, a reportagem do UOL acompanhou mensagens de incentivo à participação nos protestos nos 51 grupos de apoio ao presidente monitorados no aplicativo.

Grupos a favor do protesto alimentam teorias conspiratórias de que as notícias sobre o coronavírus, e também as medidas restritivas anunciadas nos estados, visam a esvaziar os atos.

"Esse bando de esquerdopatas tentando de tudo para impedir nossa manifestação a favor do nosso presidente Bolsonaro", afirmou um incentivador no grupo "Família Bolsonaro" na manhã desta quinta-feira.

O grupo monitorado conta com 231 participantes e inclui parlamentares da base do governo no Congresso.

"Galera a matemática é básica, vai ser impossível cancelar a manifestação, pq sempre vai ter alguém que vai", diz uma mensagem compartilhada em diversos grupos de WhatsApp pró-governo. "Quem tá pedindo pra cancelar = pedindo pra esvaziar. Se você não vai, fica de boa, segunda-feira o metrô e os ônibus vão estar cheios de gente de qualquer maneira", termina o texto.

Deputados incentivam participação, mas organizadores não têm certeza

Postagens de parlamentares no Twitter, como a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), também são usadas pelos participantes dos grupos de WhatsApp para reforçar a mobilização em torno do ato pró-governo.

Os grupos que organizam o ato ao redor do Brasil, no entanto, avaliam cancelar a manifestação por causa do coronavírus.

As convocações para o ato nos grupos de WhatsApp que apoiam o governo continuam com as mesmas bandeiras: apoio ao presidente Jair Bolsonaro contra a "chantagem" do Congresso, apoio à prisão após julgamento em segunda instância, além de pedidos de intervenção militar e fechamento do Congresso e do STF.

O Supremo recentemente decidiu que, na maioria dos casos, prevalece o trânsito em julgado, quando o acusado tem direito de se defender até o esgotamento das possibilidades disponíveis na lei.

Em resposta, parlamentares a favor da prisão em segunda instância apresentaram projetos de lei na Câmara e no Senado para instituir o instrumento punitivo, mas a tramitação está parada.

Os chamados para o protesto ganharam contornos mais radicais após o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, ter afirmado que o Executivo estaria sendo vítima de chantagem por parte do Congresso.

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Postagem em grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (12) reforça convocação para manifestação no domingo (15) apesar do coronavírus
Imagem: Reprodução/WhatsApp

Durante uma cerimônia no Palácio da Alvorada no último dia 18, o general criticou o Parlamento em uma conversa privada com colegas de Ministério.

O áudio, entretanto, acabou por vazar ao público em vídeo divulgado pela própria Presidência da República. "Nós não podemos aceitar esses caras chantagem a gente o tempo todo. Foda-se", disse Heleno aos ministros Paulo Guedes, da Economia, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Desde então, a agenda dos protestos se tornou francamente opositiva ao Congresso Nacional e ao STF.

* (Colaborou Vinícius Segalla, em São Paulo)