Twitter mantém ofensas sexuais na rede social no caso Patrícia Campos Mello
Resumo da notícia
- UOL encontrou pelo menos 60 hashtags ativas com ataques sexuais a jornalista
- Patrícia Campos Mello foi alvo de testemunha da CPI das Fake News
- Ataque orquestrado tem forte indício de uso de "robôs", diz pesquisadora
- Twitter afirma combater conteúdo ofensivo; neste caso, 150 tuítes foram banidos
Um mês após a onda de ataques virtuais à jornalista Patrícia Campos Mello, da "Folha de S.Paulo", motivados por um depoimento de testemunha na CPI das Fake News no Congresso, ainda é possível acessar mensagens sexistas e com insultos à repórter no Twitter.
O UOL analisou primeiramente publicações durante o dia 11 de fevereiro deste ano, quando Hans River do Nascimento, ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, afirmou em seu depoimento à CPI que a repórter teria oferecido sexo em troca de informações para uma reportagem.
Patrícia nega e expôs conversas com Hans para comprovar sua versão. A Folha também afirmou que as acusações do marqueteiro são mentirosas.
O Twitter afirma ter atuado em pouco mais de 584 mil contas relacionadas a conteúdo de ódio no primeiro semestre do ano passado, quando produziu seu último relatório de transparência.
Segundo a rede social, metade dos casos foram detectados sem a necessidade de denúncia. No que diz respeito a Patrícia, foram excluídos cerca de 150 tuítes.
Na plataforma, xingamentos e referências à fala do ex-funcionário da Yacows ainda são acessíveis, mesmo após denúncias feitas pelos usuários.
Na ocasião, o ataque foi ainda endossado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Congresso e em suas redes sociais — incluindo o Twitter.
O UOL mostrou como após essa data as redes de apoio ao presidente Bolsonaro no WhatsApp orquestraram a distribuição em massa de uma série de insultos em relação a Patrícia.
O presidente Bolsonaro endossou as manifestações de cunho sexista em declaração em frente ao Palácio do Alvorada.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação do Twitter, que afirmou estar tomando medidas no caso.
Sobre a permanência de mensagens caluniosas e ataques, a rede social informou que os tuítes denunciados pelos usuários passam por uma equipe que analisa qual medida tomar.
Ainda segundo a plataforma, o acompanhamento de denúncias de abuso contra jornalistas na plataforma está sendo monitorado "para dar ainda mais celeridade aos processos de análise e tomada de medidas".
Disparos contra a lei eleitoral
A convocação de Hans à CPI tinha o intuito de esclarecer o esquema de disparo em massa que beneficiou a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência, além de outros candidatos, como Fernando Haddad e Henrique Meirelles, fato noticiado pelo UOL em 2018.
O fato fere a lei eleitoral, que pode considerar os disparos um investimento não declarado (caixa 2). A lei proíbe ainda ao candidato divulgar material de propaganda com calúnias contra o adversário
A jornalista publicou diversas reportagens sobre o assunto, inclusive citando a Yacows em esquema irregular de uso de CPFs.
Monitorando o Twitter
A reportagem do UOL analisou que pelo menos 60 hashtags, exclusivamente com ataques sexuais dirigidos a Patrícia Campos Mello, que foram criados no dia do depoimento de Hans.
Palavrões, referências a prostituição e a troca de favores por atos sexuais são encontrados na listagem de hashtags de ataque sexista.
Escrita com o símbolo #, a hashtag é o modo que a rede social usa para listar assuntos e facilitar que os usuários naveguem por tópicos de interesse.
Segundo Rose Marie Santini, professora da Escola de Comunicação na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), uma grande quantidade de hashtags com o mesmo assunto, sendo usadas para linchamento virtual, é um forte indício de um ataque orquestrado, com ajuda de "robôs" (programas que enviam mensagens de forma coordenada).
O objetivo dessas milícias virtuais é diminuir a credibilidade da imprensa, intimidar os jornalistas (especialmente as mulheres) e diminuir a liberdade de expressão através da produção massiva de conteúdo que se sobrepõe à produção orgânica.
Rose Marie Santini, Escola de Comunicação da UFRJ
Para o Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), as ofensas e as ameaças contra a mulheres na internet têm, como padrão, o caráter sexual.
Quando são direcionadas ao homem, as ofensas e ameaças têm relação com o assassinato. Para a mulher, é o estupro. Não é novidade para o Twitter que as mulheres são alvo de ataques sexuais.
Fábio Malini, coordenador na UFES
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