Bolsonaro reclama de críticas após passeio pelo DF: "Não fui passear"
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demonstrou ter ficado irritado com as críticas feitas a ele pelo "tour" de ontem em Brasília e cidades satélites do Distrito Federal. "Não fui passear, não", disse hoje ao deixar o Palácio da Alvorada, a residência oficial do governo.
Em pleno domingo (29), o mandatário saiu de casa para "falar com o povo", segundo o próprio, e passou pelas regiões de Ceilândia, Taguatinga e Sobradinho. Nesses locais, conversou com comerciantes e trabalhadores informais. Também visitou postos de gasolina, farmácias e supermercados no Plano Piloto.
A atitude vai na contramão das recomendações das autoridades de saúde em todo o planeta, que defendem o isolamento social como mecanismo essencial de combate ao alastramento do coronavírus. O gesto tem sido encarado nos bastidores como tática de esvaziamento do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), que tem opiniões contrárias às do chefe.
Enquanto Mandetta tem pedido para a população ficar em casa e reforçado a necessidade de isolamento —em consonância com as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) —, o presidente tem se manifestado pela reabertura do comércio no país e retomada da rotina em estados e municípios.
Segundo Bolsonaro, "não é apenas a questão de vida, é a questão da economia e do emprego também".
Após o tour de ontem, Bolsonaro foi criticado por várias autoridades e também por articulistas e analistas políticos. Hoje, ele não escondeu a insatisfação.
"Fui ontem a Ceilândia e Taguatinga. Folha de São Paulo: não fui passear, não. Uma imprensa que não tem caráter não podia agir de outra maneira. Não fui passear, não. Fui ver o povo."
Bolsonaro fez ainda uma provocação aos jornalistas que o aguardavam na portaria do Palácio da Alvorada. "Vocês estão todos amontoados aqui também. Vocês estão aqui porque precisam trabalhar? Sim. Para levar a informação. A imprensa sadia para levar informação. Mas também, se não puder trabalhar, vocês não vão ter salário."
'Pânico é uma doença', diz presidente
O chefe do Executivo federal declarou ainda que, em sua opinião, o isolamento social e o fechamento do comércio podem levar a casos de suicídio, depressão e mortes por "questões psiquiátricas".
"Se o emprego continuar sendo destruído da forma como está sendo, outras [mortes] virão e por outros motivos. Depressão, suicídio, questões psiquiátricas."
No entanto, ele não apresentou dados que fundamentassem as suas declarações. Limitou-se a afirmar que "o pânico é uma doença e está levando o pessoal ao estresse. Mortes virão".
A tese de Bolsonaro é que, com a economia paralisada, haverá demissão em massa e, consequentemente, os brasileiros não conseguirão colocar "um prato de comida" em casa.
"O pai que chega ou está em casa, o filho pede um prato de comida e não tem. Ele, que tem vergonha na cara, começa a se julgar responsável pelo que está acontecendo. E vai à luta. Até um animal vai à luta para trazer o sustento para os seus filhos. O ser humano não é diferente."
A reclusão social, segundo as ideias do mandatário, tem que ser restrito aos chamados grupos de risco (idosos e pessoas com complicações preexistentes). É o que ele chama de "isolamento vertical".
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