Steven Levitsky critica Bolsonaro e irresponsabilidade com coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro tem recebido críticas sobre a forma com que tem tratado a pandemia do novo coronavírus e uma das mais recentes vem do cientista político e professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Steven Levitsky, autor o best-seller "Como as democracias morrem".
Em entrevista ao jornal O Globo, o especialista em democratização, populismo e governos se mostra assustado com as ações do presidente e destaca que é difícil entender os motivos que têm levado Bolsonaro a lidar com a crise da forma com que tem feito.
"Não dá para saber ao certo o que ele está pensando. Talvez Bolsonaro não saiba o significado de crescimento exponencial. Ou ache que os vulneráveis terão de morrer para proteger o resto da população das agruras do impacto econômico do isolamento", afirmou durante a entrevista.
"Não sei dizer se a decisão de Bolsonaro de não ouvir o que a comunidade científica mundial está dizendo de forma quase unânime é um cálculo político ou um tremendo erro baseado no seu instinto. Mas é impressionante ver um líder colocar em risco a vida do que podem ser, no pior cenário, milhares de seus cidadãos", acrescentou.
Para Levitsky, Bolsonaro pode estar pensando no curtíssimo prazo sobre a sua aparente despreocupação com o número crescente de mortes. Além disso, o professor reforça que o presidente parece preso a um padrão baseado no confronto.
"Outra possibilidade é que ele não entenda o que a ciência diz sobre a doença. Na semana passada, ele chegou a dizer que brasileiro pula no esgoto e não acontece nada", comentou.
Perguntado sobre a proximidade no discurso de Bolsonaro e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, o professor afirmou que não conhece nenhum outro chefe de Estado que esteja agindo tão alinhado ao que o norte-americano havia fazendo— Trump tem mudado seu posicionamento nas últimas semanas e agido com medidas mais restritivas para conter a pandemia.
"É realmente incrível a semelhança. Não saberia dizer se Bolsonaro e sua equipe estudam Trump e espelham tudo o que ele diz ou se existe uma simples convergência de pensamento. Outros presidentes que estão negando os perigos da pandemia não são ligados ideologicamente a Trump. É o caso de Andrés Manuel López Obrador, do México", destacou.
Por outro lado, o ligeiro crescimento na aprovação de Trump nos Estados Unidos não parece estar se repetindo no Brasil. Diante da crise com o novo coronavírus, Bolsonaro tem enfrentado panelaços diários. Sobre isso, Levitsky acredita que a popularidade do presidente pode cair rapidamente por conta de seus erros.
"É muito raro que, durante uma crise, o presidente tenha queda de apoio. Em várias partes do mundo, líderes têm visto um aumento de apoio popular. Bolsonaro sempre foi menos popular do que Trump. O brasileiro tem tido cerca de 30% ou 35% de aprovação e o americano acima de 40%. Trump tem o apoio quase unânime do Partido Republicano, o que lhe dá uma base sólida. Bolsonaro não tem isso", explicou.
"Acho que a popularidade de Bolsonaro vai cair rapidamente por causa de seus erros. Muita gente que votou nele, mais por um antipetismo do que qualquer outra coisa, está ficando cada vez mais cética. Bolsonaro paga pelo seu comportamento irresponsável", completou.
Cuidados básicos para se proteger do coronavírus:
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