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Bolsonaro usa escudo humano de ministros e aliados para tentar se blindar

O presidente Jair Bolsonaro cercado de deputados da base aliada e integrantes do governo no Palácio do Planalto -  Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro cercado de deputados da base aliada e integrantes do governo no Palácio do Planalto Imagem: Marcos Corrêa/PR

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

29/04/2020 14h56Atualizada em 29/04/2020 16h13

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenta se blindar com o auxílio de aliados pelo segundo dia consecutivo ao deixar o Palácio da Alvorada, residência oficial do governo, em Brasília.

Na manhã de hoje, o presidente surgiu acompanhado de mais de dez deputados que compõem a sua base ideológica no Congresso e colocou todos os parlamentares para discursar.

O grupo saiu em defesa de Bolsonaro quando os jornalistas presentes o questionaram sobre a declaração de ontem acerca do recorde diário de mortes por coronavírus no país (5.017). "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre", disse, em referência ao seu nome do meio.

Na segunda-feira (27), Bolsonaro apareceu ao lado de um grupo de ministros e afastou os rumores de que, assim como ocorreu com Sergio Moro, Paulo Guedes poderia ser demitido.

Em declaração que repercutiu no mercado financeiro, o presidente afirmou que o auxiliar é o "homem que decide economia". "Ele nos dá o norte, nos dá as recomendações e o que nós realmente devemos seguir", disse Bolsonaro

A estratégia dos últimos dias, nos quais se formaram pequenas comitivas na portaria do Alvorada, teria o objetivo de questionar a avaliação de isolamento político do presidente em decorrência dos conflitos internos e também da posição bolsonarista contrária ao distanciamento social durante a pandemia de coronavírus.

Na prática, a mensagem a ser passada é a de união em torno de Bolsonaro, após enfrentamento de turbulências na semana anterior, com o pedido de demissão de Sergio Moro (ex-chefe da pasta da Justiça e Segurança Pública) e com a alta do dólar.

O presidente tem defendido a flexibilização da quarentena e, na contramão de autoridades sanitárias e especialistas, o retorno à normalidade.

Bolsonaro culpa governadores por mortes

Hoje, Bolsonaro afirmou que a imprensa tentou colocar "na conta" e "no colo" dele fatos que "não cabem" ao chefe do Executivo federal, de acordo com o seu raciocínio. Também bateu boca com os repórteres que o aguardavam na saída do Palácio da Alvorada —um deles foi chamado de "mentiroso".

Para o presidente, a culpa pelos óbitos decorrentes da covid-19 é de governadores e prefeitos porque eles foram responsáveis pelas medidas restritivas de enfrentamento, como o isolamento social.

A medida é recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e vem sendo defendida por autoridades sanitárias em todo o planeta. Para o governo, no entanto, trata-se de um grave risco à economia do país. A divergência levou à demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

"A minha opinião não vale. O que vale são os decretos de governadores e prefeitos", disse Bolsonaro. "A gente lamenta as mortes profundamente. Sabia que ia acontecer. Mas quem tomou todas as medidas restritivas foram governadores e prefeitos."

Não sejam agressivos e queiram colocar no meu colo uma conta que não é minha
Jair Bolsonaro, em resposta à imprensa na manhã de hoje

Para o chefe do Executivo federal, estrutura de poder na qual está inserido o Ministério da Saúde, é necessário "cobrar responsabilidade a quem é de direito", isto é, governadores e prefeitos.

O presidente deixou o Alvorada acompanhado de mais de dez deputados que compõem a sua base ideológica no Parlamento. A portaria da residência oficial do governo acabou virando uma espécie de palanque, no qual os congressistas disputavam espaço para poder discursar.

As declarações foram acompanhadas de reações exaltadas dos apoiadores bolsonaristas que se aglomeravam no local.

O alvo comum dos políticos foi a imprensa, desrespeitada durante todo o tempo. A deputada Major Fabiana (PSL-RJ) chegou a dizer que os veículos de comunicação e seus profissionais agiriam com "mau-caratismo" devido à repercussão da fala de ontem de Bolsonaro.

"Isso é um mau-caratismo. (...). Quem pode ficar em casa, que fique. Mas que não pode, acredite e confie no presidente", declarou a parlamentar.