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Após acusação contra Flávio, deputados pedem busca a celular de Bebianno

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

18/05/2020 10h42

Após as revelações do empresário Paulo Marinho (PSDB) sobre investigações envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), deputados de PSOL, PDT e Cidadania pediram ao STF (Supremo Tribunal Federal) a busca e apreensão do celular de Gustavo Bebianno (PSDB), ex-aliado de Bolsonaro que morreu em março deste ano.

O pedido dos parlamentares foi feito dentro do inquérito aberto para investigar, com base em depoimentos do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pai de Flávio, tentou interferir indevidamente na PF (Polícia Federal).

Os parlamentares também solicitaram ao ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF, para que Marinho e Flávio também sejam ouvidos pelos investigadores.

Alerta sobre operação

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no domingo (17), Marinho disse que, em outubro de 2018, Flávio foi avisado por um delegado da PF sobre uma operação que investigava deputados estaduais do Rio de Janeiro, cargo ocupado na época pelo atual senador. O aviso aconteceu durante o processo eleitoral que levou o pai de Flávio ao Planalto. A operação aconteceu apenas em novembro, após o segundo turno.

O filho do presidente teria sido aconselhado pelo delegado a demitir um dos funcionários de seu gabinete, Fabrício Queiroz. A operação detectou movimentações atípicas nas contas de Queiroz. Ele passou a ser suspeito de atuar em um esquema envolvendo salários de servidores no gabinete do hoje senador.

Pré-candidato do PSDB a prefeito do Rio, Marinho é suplente de Flávio no Senado. Por esse motivo, o filho do presidente acredita que o empresário, a partir das acusações, teria interesse em sua vaga no Parlamento. Flávio sempre negou as acusações.

Conversas com Bebianno

Na entrevista, Marinho cita mensagens trocadas por Jair Bolsonaro e Bebianno durante a campanha presidencial de 2018, período em que as investigações envolvendo Queiroz estavam em andamento, e o de formação de governo. "O Gustavo tinha esse conteúdo imenso [de mensagens], na mais alta intimidade que você pode imaginar. Eram conversas íntimas que provavelmente deviam ter revelações interessantes", disse o empresário.

Na entrevista, Marinho disse que Bebianno teria contado a Bolsonaro sobre conversas com Flávio a respeito de Queiroz.

Por esse motivo, os parlamentares pedem a apreensão do celular de Bebianno, que foi secretário-geral da Presidência no início do mandato de Bolsonaro. Segundo Marinho, o aparelho estaria com uma pessoa nos Estados Unidos.

Oitiva de Queiroz

Além do pedido de PSOL e PDT, há o pedido do deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ). Ele solicita não só as oitivas de Flávio e Marinho, mas também de Queiroz e sua filha, Nathalia Queiroz, que, assim como o pai, atuava no gabinete do hoje senador.

Para o deputado, membros do gabinete de Flávio e seus advogados também devem ser ouvidos, assim como integrantes da PF à época. Entre eles, está Alexandre Ramagem, atual diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e que foi nomeado por Bolsonaro como diretor-geral da PF. O STF, porém, barrou essa mudança de cargo. Ramagem esteve envolvido em investigações na PF do Rio que envolveram políticos e levaram à operação citada por Marinho.

Sem provas, Calero diz que "há fundada suspeita de que Alexandre Ramagem tenha sido o delegado mencionado por Paulo Marinho como o responsável pelo vazamento" a Flávio.

As petições dos parlamentares deverão ser analisadas por Celso de Mello. Não há prazo para que ele se manifeste.

A PGR (Procuradoria Geral da República), por sua vez, já pediu diretamente à PF que as falas de Marinho sejam apuradas.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.