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Covid: Com 10 deputados infectados, Alesp vive disputa por uso de máscara

Fachada da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), em foto de arquivo - Roberto Navarro/Alesp
Fachada da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), em foto de arquivo Imagem: Roberto Navarro/Alesp

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

05/09/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Aos menos 10 deputados estaduais relataram infecção pelo coronavírus
  • O número de não notificações pode ser maior, segundo deputada
  • Monica Mandata (PSOL) acusou deputados bolsonaristas de não utilizarem máscaras em plenário
  • Decreto estadual publicado em março obriga o uso do acessório em locais fechados
  • A maioria dos deputados nega a acusação

Ao menos dez deputados estaduais de São Paulo relataram ter contraído covid-19, segundo informação da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Metade das infecções teria ocorrido desde que os trabalhos presenciais da Casa voltaram, em 4 de julho.

A confirmação de novos casos gerou confusão em uma sessão na semana passada, quando uma deputada do PSOL acusou colegas alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de não usarem máscara em plenário, contrariando o decreto estadual publicado pelo governador João Doria (PSDB) em março.

A assessoria da Alesp não soube precisar quantas das dez infecções ocorreram depois do retorno das atividades. Contudo, segundo os cálculos da deputada Monica Mandata (PSOL), cinco parlamentares se infectaram nesse período: Delegado Olim (PP), Valeria Bolsonaro (PSL), Edmir Chedid (DEM), Aprígio (Pode) e Bruno Ganem (Pode), todos informados em plenário. Nenhum nome foi confirmado pela Alesp, que alegou sigilo.

"Minha equipe contabilizou 16 infectados, mas provavelmente alguns [receberam diagnósticos] negativos em teste posterior, enquanto outros não comunicaram a Alesp porque ficaram assintomáticos e só relataram a infecção depois de curados", diz.

Na semana passada, a deputada chegou a discutir com o presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB), acusado de fazer vista grossa a parlamentares bolsonaristas que se recusariam a usar máscara em plenário, violando o decreto estadual.

O texto sancionado por Doria diz que o uso do equipamento de proteção é obrigatório "no interior de (...) repartições públicas estaduais, pela população, por agentes públicos, prestadores de serviço e particulares".

No dia da briga, Monica ameaçou chamar a polícia para fazer valer o decreto, mas foi impedida por Macris, que afirmou ao UOL que "parlamentar tem que ter bom senso e cumprir as regras".

"Não tive nenhum problema nas oportunidades em que solicitei que os parlamentares colocassem as máscaras", afirmou o presidente. "Agora, não retirarei à força do plenário nenhum parlamentar legitimamente eleito pelo povo."

"Fiz um Boletim de Ocorrência e enviei ao Tribunal de Justiça um pedido de liminar para fazer valer a lei, mas ainda está sem resposta", diz Monica, que nomeia os deputados que evitariam a máscara: Frederico d'Avila (PSL), Gil Diniz (PSL), Leticia Aguiar (PSL) e Douglas Garcia (PTB).

"São deputados que continuam saindo, viajando, liberando emendas sem usar máscara, e a gente fica insegura porque o plenário é uma sala fechada, com ar-condicionado central", diz a deputada. "Alguns se recusam a usar máscara em plenário. É um risco para nós, para os servidores e os 28 parlamentares com mais de 60 anos de idade."

O UOL entrou em contato com os deputados bolsonaristas citados pela deputada. A maioria negou que deixe de usar a proteção em plenário, à exceção de Garcia que afirmou:

"No dia em que a Monica parar de fazer aglomeração na frente da Alesp, eu uso a máscara. Se ela apresentar um estudo científico de que o uso de máscara é eficaz, eu uso sem reclamar. É uma lei sim, mas de quantas leis eu discordo? Se a lei está errada, eu vou dizer que ela está errada e vou lutar para que ela seja revogada".

Em resposta, Monica disse que "houve um ato de estudantes em frente a Alesp" que ela foi saudar. "Eram 40 pessoas ao ar livre e todas de máscara."

O Ministério da Saúde brasileiro e a Organização Mundial da Saúde orientam o uso de máscaras, aliado a outras medidas de proteção, para evitar a disseminação de gotículas expelidas do nariz ou da boca do usuário no ambiente, garantindo uma barreira física.

Em nota, Leticia Aguiar declarou que tem retirado a máscara "apenas para fazer uso da palavra na tribuna". "E só quando está no local já posicionada em frente ao microfone. Como uma funcionária da limpeza realiza a desinfecção total da bancada e do microfone após cada parlamentar que utiliza a tribuna, a deputada considera que está segura e não coloca ninguém em risco."

"A deputada [Monica] deveria fiscalizar o uso do recurso público encaminhado para a área da saúde, ela deveria trabalhar e não ficar fiscalizando o uso da máscara alheia entre os deputados", provocou Leticia.

Monica respondeu que ir ao plenário votar é seu trabalho. "É como se Letícia tivesse dito: não acho que ela trabalhe (opinião dela), posso não ser solidária com a saúde dela e atentar contra sua vida."

Frederico d'Avila também disse ao UOL que retira a proteção apenas para falar na tribuna, "onde a distância excede o mínimo regulamentar". " A deputada Monica Seixas está usando a temática da 'máscara na tribuna' para se promover politicamente", acusa.

O deputado Gil Diniz afirmou em nota que "faz, sim, o uso da máscara conforme sua conveniência, usamos máscaras personalizadas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e respeitamos as regras de cada local e situação."

"A deputada Mônica não é fiscal, tampouco funcionária federal designada para tal função, ao que nos consta."

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