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Associação vê tentativa de intimidação de Flávio Bolsonaro contra promotora

Flavio Bolsonaro e Fabrício Queiroz estão no centro de investigações sobre suposta "rachadinha" em gabinete - Reprodução/Instragram
Flavio Bolsonaro e Fabrício Queiroz estão no centro de investigações sobre suposta 'rachadinha' em gabinete Imagem: Reprodução/Instragram

Do UOL, em Brasília

07/09/2020 14h09

A Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que representa promotores e procuradores, classificou como "flagrante tentativa de intimidação" ações do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para questionar a promotora de Justiça Patrícia do Couto Villela e os demais integrantes do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção do Ministério Público do Rio de Janeiro à frente das investigações em que está envolvido.

Na sexta (4), a revista Veja publicou reportagem afirmando que Flávio Bolsonaro pede ao Conselho Nacional do Ministério Público o afastamento dos promotores e que seja "instaurada sindicância ou processo disciplinar para apuração de eventuais infrações e até mesmo possíveis crimes de abuso de autoridade que possam ter sido cometidos" pelo grupo.

Ele questiona o vazamento à imprensa de dados do processo em sigilo e fez com que Patrícia fosse intimada a explicar um suposto arrombamento da porta da loja de chocolates que o senador mantém em um shopping da Barra da Tijuca, no Rio, em ação em dezembro de 2019 para a coleta de provas no local, segundo o texto.

A loja está no meio das investigações sobre suposta 'rachadinha' no gabinete do senador quando deputado estadual do Rio coordenada pelo ex-assessor Fabrício Queiroz. Informações também foram colhidas em outros endereços relacionados a pessoas investigadas. Segundo a Veja, Patrícia nega arrombamento e afirma que um chaveiro foi chamado.

A associação apresentou "irrestrito apoio" ao trabalho de Patrícia e do grupo de combate à corrupção e afirmou que a representação de Flávio Bolsonaro será "vã", pois os integrantes do Ministério Público exerceram o trabalho de forma independente, defende.

"Malsinada investida, conquanto personalizada, representa ataque a todos os membros do Grupo de Combate à Corrupção, bem como a Instituição do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, imputando falsamente toda sorte de irregularidades a membros da Instituição - tais como: violação de sigilo, abuso de autoridade e falta de isenção - com o único intuito de desqualificar as investigações que têm evidenciado fatos graves contra a autoridade investigada", escreveu a associação, em nota.

"Esta entidade associativa não se curvará jamais, tampouco calará diante de fatos e iniciativas que representem falso e injusto ataque pessoal e à Instituição do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, por meio dos quais pessoas alcançadas por investigações tentam subverter os mecanismos de controle disciplinar no âmbito do Conselho Nacional do Ministério Público", acrescentou.

Suposto envolvimento em 'rachadinha' quando deputado estadual

Flávio Bolsonaro é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suposto envolvimento em esquema de 'rachadinha' em seu gabinete quando deputado estadual na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo o MP-RJ, o esquema consiste no repasse de parte dos salários de funcionários do gabinete de Flávio na Alerj para a conta do ex-assessor Fabrício Queiroz. De acordo com a investigação, Queiroz recolheu mais de R$ 2 milhões repassados por 11 funcionários entre abril de 2007 e dezembro de 2018 —70% desta quantia em dinheiro vivo.

No mesmo período dos recolhimentos, os promotores identificaram saques feitos por ele que chegaram a R$ 2,9 milhões —R$ 900 mil a mais na comparação com o valor recolhido dos 11 ex-assessores (a origem desse dinheiro ainda é desconhecida). Os ex-assessores listados eram ligados a Queiroz por relações de parentesco, vizinhança ou amizade.

O procedimento de divisão do salário chegou a ser confirmado por Queiroz em depoimento por escrito ao MP-RJ, em março de 2019 —após faltar quatro vezes—, mas, segundo ele, Flávio não teria conhecimento. Segundo essa versão, o dinheiro recolhido era usado para contratar mais funcionários com o intuito de "intensificar a atuação política" do então deputado estadual.

O Ministério Público do Rio também investiga supostas irregularidades em loja de chocolates de Flávio Bolsonaro. Flávio justifica sua evolução financeira e patrimonial —na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro— com os lucros da empresa.

Para a Promotoria, a loja localizada em um shopping da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio) lavou R$ 1,6 milhão —parte dessa quantia teria sido depositada na conta bancária da empresa entre 2015 e 2018 após supostamente ser recolhida pelo ex-assessor Fabrício Queiroz a partir do esquema de rachadinha.