Witzel recebeu R$ 980 mil em dinheiro quando juiz, diz empresário ao MPF
O empresário Edson Torres, denunciado por organização criminosa junto com o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), afirmou em depoimento que ele e outro empresário deram R$ 980 mil em dinheiro vivo para o então juiz federal, ainda antes do início da campanha eleitoral de 2018. O relato consta em nova denúncia apresentada ontem pelo MPF (Ministério Público Federal) à Justiça.
Witzel, que atuou como juiz federal por 17 anos no Rio e no Espírito Santo até pedir exoneração em março de 2018, nega a acusação. "Meu patrimônio se resume à minha casa, no Grajaú, não tendo qualquer sinal exterior de riqueza que minimamente possa corroborar essa mentira", afirmou o governador afastado, por meio de nota.
Edson Torres —que controla empresas com contratos com o governo Witzel— afirmou que ele e o empresário Victor Hugo Barroso levantaram os valores. Os pagamentos foram divididos em cinco parcelas, sendo uma entregue diretamente a Witzel. Torres afirmou que estava na última entrega, quando Witzel ainda era juiz. O dinheiro teria sido dado ao presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, que o repassou ao magistrado na frente do empresário em um escritório no centro do Rio.
"A quinta e última parcela, o depoente entregou pessoalmente o dinheiro na sala da av. Rio Branco, 109, 8° andar, presentes o declarante, Everaldo e Wilson Witzel, à época ainda juiz", contou Torres, em depoimento prestado no dia 3 deste mês ao MPF depois da Operação Tris in Idem.
Segundo o MPF, Torres diz que R$ 980 mil foram entregues em cinco parcelas de R$ 150 mil "aproximadamente" —- porém, em valores exatos, a cifra chegaria a R$ 750 mil.
A última entrega foi "aproximadamente" (sic) em abril de 2018. "O declarante abriu a pasta, retirou os maços de dinheiro de R$ 50 mil cada e entregou ao Pastor Everaldo que repassou a Witzel, que colocou em uma bolsa que estava levando", disse Torres.
Essa última entrega aconteceu, segundo Torres, por volta de abril de 2018. Os outros quatro pagamentos aconteceram antes, depois de um acerto que teria sido feito entre ele, Everaldo e Victor Hugo Barroso.
"Esses pagamentos foram feitos em favor de Wilson Witzel por cerca de quatro meses até a sua desincompatibilização [do cargo de juiz federal]", afirmou o empresário, no depoimento.
Apesar de Torres dizer ter efetuado o último pagamento por volta de abril, Witzel deixou a magistratura um pouco antes, em 2 de março, como registra o Diário Oficial. Ele atuou como juiz por 17 anos. Seu último cargo foi como titular da 6ª Vara Federal Cível do Rio. A Receita Federal afirmou, em documento, que Witzel recebeu rendimentos do PSC entre abril e dezembro de 2018.
Dinheiro era "conforto" a Witzel, diz empresário
Segundo Torres, Everaldo disse a ele que era preciso dar um "conforto" a Witzel, caso perdesse o cargo de juiz e também a eleição.
"O depoente e Everaldo conversaram a necessidade de dar um conforto e segurança financeira para o então juiz federal, caso ele pedisse demissão e se perdesse a eleição não teria a garantia dos vencimentos que recebia enquanto juiz, por um período de tempo até ele se estabelecer", diz o empresário, segundo transcrição de seu depoimento, na denúncia.
No governo Witzel, empresas ligadas a Torres ganharam contratos com a companhia de saneamento de água, a Cedae, e o Detran, segundo extratos do Diário Oficial obtidos MPF e entregues ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O MPF aponta o empresário Victor Barroso, também investigado na Operação Tris in Idem, como operador financeiro de Everaldo.
Não há sinal para confirmar "mentira", diz Witzel
A assessoria do PSC distribuiu uma nota de Witzel em que ele nega ter recebido o dinheiro.
"Reafirmo minha idoneidade e desafio quem quer que seja a comprovar um centavo que não esteja declarado no meu Imposto de Renda, fruto do meu trabalho e compatível com a minha realidade financeira", disse o governador afastado.
"Todo o meu patrimônio se resume à minha casa, no Grajaú, não tendo qualquer sinal exterior de riqueza que minimamente possa corroborar essa mentira. O único dinheiro ilícito encontrado, até agora, estava com o ex-secretário Edmar Santos."
Edmar Santos, ex-secretário de Saúde, fechou colaboração premiada com o MPF. Em seus depoimentos, admite que recebia propinas de Torres, mas afirma que Witzel, Everaldo, e os empresários Gothardo Lopes Neto e Mário Peixoto participavam do esquema.
Torres não fechou colaboração premiada até onde se sabe. Ele prestou dois depoimentos depois que foi posto em liberdade pelo STJ, nos dias 3 e 8 de setembro.
À exceção de Edmar Santos e Torres, todos negam participação nos esquemas de desvios de verbas da saúde e de outras pastas do governo.
Em nota, a defesa de Everaldo disse que "não comentará trechos de processo". Os advogados dele, que segue preso preventivamente, e Witzel reclamaram que a denúncia do processo corre em sigilo e houve vazamento das informações.
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