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Doria acusa Bolsonaro de interferir na Anvisa: 'É um irresponsável'

Doria reclamou do tratamento dado pela Anvisa e o governo federal à CoronaVac - AMANDA PEROBELLI
Doria reclamou do tratamento dado pela Anvisa e o governo federal à CoronaVac Imagem: AMANDA PEROBELLI

Colaboração para o UOL

13/11/2020 08h12Atualizada em 13/11/2020 11h40

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acusou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de interferir na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ele não apresentou provas disso, mas disse que a agência agiu de forma ideológica ao interromper os testes da vacina CoronaVac por dois dias, nesta semana.

Em entrevista à revista Veja, Doria também chamou o presidente de "irresponsável" por ter comemorado a suspensão - que foi revogada, pois a morte do voluntário não teve relação direta com o imunizante.

Nem a própria Anvisa acreditou naquilo que propagou. Ficou claro que a decisão foi motivada por uma orientação ou pressão exercida pelo Palácio do Planalto. Foi um fato inédito na história da agência. Espero que ela volte ao caminho de antes - de garantir a segurança, mas também a celeridade do processo, sem fazer escolha de vacinas
João Doria, governador de SP, em entrevista à Veja

Perguntado se tem provas da interferência do presidente na Anvisa, Doria negou e disse que é uma "é uma análise das circunstâncias".

"A interrupção foi uma decisão extemporânea, sem diálogo com o Butantan, que aconteceu no mesmo dia em que se anunciou em São Paulo a chegada do primeiro lote de vacinas. Foi um ato inadequado, que causou constrangimentos ao mundo científico e até dentro da própria Anvisa", criticou o governador de São Paulo.

A postura de Doria é diferente do comportamento de seus principais aliados, como o Secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, e o diretor do Instituto Butatan, Dimas Covas, que disseram ainda ter confiança na Anvisa. Doria questionou a credibilidade da agência.

"Até esse equívoco havia uma confiança na autonomia da agência. O episódio recente mudou essa percepção. Se ela for comandada pelo Planalto, passará de agência de vigilância sanitária para de vigilância ideológica", afirmou Doria, negando que esteja interferindo igualmente na produção da vacina CoronaVac, que é feita em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

Críticas a Bolsonaro

Logo depois que a Anvisa anunciou a suspensão nos testes da CoronaVac, Jair Bolsonaro publicou no Facebook que aquilo significava uma vitória contra Doria. Esse comentário decepcionou o governador de São Paulo.

"Ele é um irresponsável. Eu me decepcionei mais do que me surpreendi. Foi chocante, não só para o Brasil, mas para o mundo. Mais de sessenta veículos de mídia publicaram reportagens condenando a posição do presidente. Não se pode celebrar a morte e comemorá-la como se fosse uma vitória. Não se comemora uma morte, se chora por ela. Bolsonaro classificou de covardes as pessoas que não estão saindo para garantir a sua sobrevivência. Ele chamou de 'maricas' quem está protegendo a própria saúde, a dos familiares e a dos amigos. É triste termos um presidente assim", lamentou.

Doria também criticou Bolsonaro por atrasar o repasse de um valor que seria destinado ao Butantan. Segundo ele, a Fiocruz já recebeu R$ 1,9 bilhão para compra de vacinas feitas pela Universidade de Oxford. Mas o Butantan não recebeu R$ 84 milhões prometidos pelo governo federal que seriam usados para obras das fábricas que produzirão a CoronaVac.

Vacinação só em 2021

Doria admitiu que a vacinação contra a covid-19 não começará em dezembro, como ele chegou a anunciar, mas afirmou que isso será possível no início de 2021. E negou que a vacina CoronaVac ou o Instituto Butantan saiam prejudicados pela suspensão dos testes nesta semana.

"Pelo contrário, eu acho que o Butantan sai valorizado. Ele é o maior produtor de vacinas da América Latina e um dos maiores do mundo. Fez o que tinha de fazer. Quem fugiu a esse princípio foi a Anvisa", criticou Doria.

Se a Anvisa não aprovar a CoronaVac, Doria explicou o que fará: vai apelar ao STF (Supremo Tribunal Federal) e tentar usar a lei que permite a importação e o uso de medicamentos autorizados por agências reguladoras internacionais.