Em cidade sem prefeito, interino diz "se socorrer" com barrado pelo TRE
Embora condenado por receber doação suspeita na eleição de 2016, o prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Junior (PSDB), reelegeu-se no primeiro turno das eleições de 2020 com 45% dos votos.
Barrado pela Lei da Ficha Limpa, Auricchio aguarda resposta do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a um recurso que protocolou, enquanto vê o presidente da Câmara, o aliado Anacleto Campanella Junior (Cidadania), tomar posse em seu lugar prometendo governar com seus conselhos.
Auricchio Junior foi condenado em duas instâncias por ter recebido uma doação de R$ 290 mil em 2016 de uma pessoa sem renda compatível. Então desempregada, a doadora não havia feito nem sua declaração de Imposto de Renda naquele ano, segundo a Procuradoria. A acusação diz que a mulher foi usada como laranja em um esquema de caixa 2.
Apesar de ter seu registro de candidatura negado pela 166ª Zona Eleitoral de São Caetano do Sul com base na Lei da Ficha Limpa, Auricchio Junior se lançou à reeleição, fez campanha, venceu e recorreu ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que manteve a decisão anterior.
Auricchio, então, apelou ao TSE. Se o tribunal superior voltar a recusar o recurso do reeleito, novas eleições serão convocadas para escolher o novo prefeito. A convocação ficará a cargo do vereador Campanella Junior, aliado de Auricchio e eleito presidente da Câmara Municipal em 1º de janeiro, data em que assumiu interinamente o cargo de prefeito.
Campanella, que foi líder do governo Auricchio nos quatro anos do mandato anterior, prometeu pedir conselhos ao prefeito eleito, embora ele tenha sido barrado pela Justiça.
"Já estou ambientado com os projetos e vou tentar dar continuidade com o mesmo secretariado, mesmos planos, obedecendo o projeto de campanha que a gente ajudou a elaborar", afirmou Anacletto ao UOL. "Espero que em três meses o prefeito já tenha sido julgado e absolvido e possa voltar para a cadeira da prefeitura."
Ele afirmou que "sem dúvida" pretende se aconselhar com o prefeito barrado.
Antes de tudo ele é um amigo, foi legitimamente eleito pela população, 43 mil eleitores o escolheram e avaliaram a forma de trabalhar do Auricchio e tem de ser respeitada (...) Se tiver alguma dúvida posso me socorrer com ele, trocando ideias.
Anacleto Campanella Junior, prefeito interino
Questionado se não há contradição em pedir conselhos administrativos a um prefeito impedido de tomar posse, Campanela afirmou que "a condução [da prefeitura] é minha", mas "ele tem experiência de três mandatos, essa troca de ideias é muito importante".
Até a suposta volta do eleito, o interino indica seus principais "desafios": "Ajuste fiscal, vacinação e o retorno das aulas".
Prefeito nas redes
Enquanto o TSE não se manifesta, Auricchio Junior se comporta nas redes sociais como prefeito da cidade. Além de publicar uma série "retrospectiva" de seu governo e prometer a inauguração de obras ao longo do ano, no dia 3 de janeiro ele parabenizou os alunos da rede municipal que conquistaram medalhas de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica.
No dia anterior, publicou imagem do "moderno edifício que abriga a sede da Secretaria Municipal de Educação, entregue durante a nossa gestão em 2008". Ele se refere a outro de seus mandatos: Auricchio foi eleito prefeito da cidade pela primeira vez em 2004; reeleito em 2008, voltou à prefeitura em 2016 e, agora, conquistou os votos para nova eleição em 2020.
Sobre a polêmica de não tomar posse este ano, ele divulgou uma "carta aberta à população de São Caetano no Sul".
"Venho a público (...) informar que precisaremos vencer etapas para que esta vontade popular seja concretizada", escreveu.
Aguardo confiante o julgamento do registro de candidatura, já que não incide em meu desfavor qualquer hipótese de inelegibilidade.
José Auricchio Junior, prefeito eleito
Ele comemora o fato de "terminarmos a terceira gestão sem qualquer denúncia ou corrupção" e diz que segue "serenamente, confiando em Deus, na Justiça e na minha inocência".
Procurado, o prefeito eleito não respondeu aos pedidos de entrevista do UOL.
Saul Klein disputou eleição
Se o TSE recusar o apelo de Auricchio, a nova eleição pode contar com a candidatura do segundo colocado na campanha —o ex-vereador da cidade Fábio Palacio (PSD), que em novembro recebeu 32% dos votos.
Seu vice era Saul Klein, filho de Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, investidor do histórico time do São Caetano vice-campeão brasileiro de 2000 e suspeito de estupro e aliciamento de mulheres.
A suspeita foi revelada em dezembro pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo. De acordo com o jornal, 14 mulheres denunciaram Saul Klein ao Ministério Público.
O empresário está com o passaporte retido pela Justiça e impedido de contatar as supostas vítimas. Segundo seu advogado, André Boiani e Azevedo, Klein era "sugar daddy", termo que designa homens mais velhos com fetiche em sustentar jovens mulheres em troca de afeto e/ou relações sexuais.
Segundo a defesa, o empresário contratava uma empresa para agenciar mulheres para suas festas e está sendo "vítima de um elaborado esquema de extorsão depois de cessar a contratação dela".
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