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Villas-Bôas: posts pré julgamento de Lula tiveram participação do Exército

O general Eduardo Villas Bôas lançou um livro de memórias - Pedro Ladeira/Folhapress
O general Eduardo Villas Bôas lançou um livro de memórias Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

10/02/2021 20h31

O general Eduardo Villas Bôas revelou que as postagens polêmicas que ele fez em seu perfil no Twitter, às vésperas de um julgamento de HC (habeas corpus) do ex-presidente Lula pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2018, não foram apenas a expressão de suas opiniões pessoais. De acordo com ele, os posts foram articulados e escritos com participação do Alto Comando do Exército.

No dia 3 de abril de 2018, véspera do julgamento do pedido de liberdade de Lula, Villas Bôas escreveu na rede social: "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?".

Na ocasião, ele também afirmou que "o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia".

Estas manifestações, conta Villas Bôas, foram redigidas a muitas mãos do alto comando do Exército. Ele, no entanto, ressalta que o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, não sabiam da publicação.

"O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte da expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente, até por volta das 20 horas, momento que liberei para o CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição", explicou o general.

As declarações são parte do livro "General Villas Bôas: conversa com o comandante'', recém-lançado pela Editora FGV, segundo noticiou "O Globo" hoje. A publicação, organizada por Celso Corrêa Pinto De Castro, é resultado de cerca de 13 horas de depoimentos concedidos pelo general entre agosto e setembro de 2019.

Na época, as publicações de Villas Bôas geraram fortes reações. O ministro do STF Celso de Mello, por exemplo, afirmou, sem citar nomes, que comentário realizado por "altíssima fonte" foi "claramente infringente do princípio da separação de Poderes".

Também no livro, ele justifica que a ação foi necessária para conter uma possível convulsão social, uma vez que recebiam muitas demandas por uma intervenção militar no comando do país. Ele também disse que tinha um projeto pessoal de fazer com que o "Exército voltasse a ser ouvido com naturalidade".

Villas Bôas foi comandante do Exército durante os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer, entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2019. Ele tem uma doença rara e degenerativa e hoje se locomove em cadeiras de rodas e respira com a ajuda de aparelhos.