Para enterrar era Maia, Lira se alinha a Guedes e adota tom conciliador
Em busca de enterrar a era de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à frente da Câmara dos Deputados, o novo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), tem se alinhado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e adotado uma fala conciliadora quanto à agenda econômica defendida pelo governo federal.
Nos últimos meses, Maia e Guedes viviam às turras em meio a trocas de críticas. Um acusava o outro de travar os planos de tocar reformas no Congresso Nacional. Não havia um problema de ideologia ou de viés econômico entre eles, mas, sim, de ego, afirmam pessoas próximas aos dois.
Após enfrentar e vencer o candidato de Maia, Lira adotou uma postura bem diferente de seu antecessor em quase um mês à frente da Câmara. Nada de brigas públicas com o governo. Pelo contrário, a ideia é afagar interesses da gestão de Jair Bolsonaro (sem partido) no Parlamento.
Líder do centrão, Lira se aliou no primeiro semestre do ano passado ao presidente da República e foi alçado ao comando da Câmara com a ajuda do Planalto.
Além disso, sabe que surfar na popularidade de algumas pautas positivas, como o retorno do auxílio emergencial, pode trazer benefícios eleitorais. O Congresso não ficou satisfeito em como o crédito da primeira rodada da ajuda colou mais na imagem de Bolsonaro.
Lira tem inclusive apostado em dar demonstrações públicas dessa afinidade. Reuniões com Paulo Guedes e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também eleito ao posto com a força do governo, se tornaram frequentes.
No dia em que a Câmara teve que lidar com a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), Lira e Guedes foram até a residência do presidente do Senado para um encontro. Na saída, fotos, declarações conjuntas e a promessa de que tudo seria construído em consenso. Momentos antes Lira havia afirmado ao chefe da pasta da Economia que as pautas do governo não ficariam travadas.
O mesmo tem acontecido com a crise envolvendo a Petrobras. Enquanto Guedes optou pelo silêncio, Lira indicou que não pretende permitir que a mudança na presidência da petrolífera atrapalhe os planos do governo. O deputado minimizou a interferência de Bolsonaro na empresa, chamando-a de ato administrativo do presidente, e atribuiu a reação do mercado financeiro a uma "bolha histérica".
Lira priorizou a autonomia do Banco Central como o primeiro grande projeto a ser aprovado sob sua batuta e, nas últimas semanas, voltou a bater na tecla de que as reformas continuam sendo o foco para o primeiro semestre. Ele quer votar nos próximos meses a reforma administrativa, as PECs (Propostas de Emenda à Constituição) emergencial e do pacto federativo, e o Orçamento de 2021 com a desvinculação de receitas.
Para Guedes, que enfrentou problemas para impor realmente sua agenda econômica na Câmara com Rodrigo Maia, esse interesse de Lira vem em boa hora e os próximos meses serão determinantes. Ainda mais num período em que Bolsonaro não descarta mais baixas na equipe econômica.
Valor de auxílio emergencial é ponto mais sensível
O ponto mais sensível na relação entre Economia e Congresso é justamente o auxílio emergencial. Apesar de já chegarem a um consenso de que haverá que ter mais parcelas do benefício, o valor segue indefinido.
O governo estuda encaminhar ao Parlamento uma nova proposta para que o novo auxílio emergencial seja de R$ 250 por mês, pago para até 40 milhões de pessoas e em quatro parcelas. A ideia, pela proposta, é que os pagamentos ocorram entre março e junho de 2021. Parte dos parlamentares quer um valor maior. O próprio Lira tende a apoiar que seja de R$ 300.
Guedes não quer enfrentar o Congresso, tem dito que qualquer solução será elaborada em conjunto e até reforça que o protagonismo em relação ao auxílio deve ser mesmo dos parlamentares.
Em compensação, Guedes quer a aprovação da PEC emergencial, de ajuste fiscal, o mais rapidamente possível. Essa é a maneira que encontrou de tentar tocar a matéria parada no Senado por falta de consenso.
No entanto, com a benção da Economia, o parecer do texto na Casa, senador Márcio Bittar (MDB-AC), inclui medidas que deverão dificultar sua tramitação. Por exemplo, o fim do piso de investimentos para saúde e educação.
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