Aziz: 'Não conheço CPI que governo tenha conseguido conduzir como queria'
Allan Brito, Andreia Martins e Nathan Lopes
Do UOL, em São Paulo
20/04/2021 11h33Atualizada em 20/04/2021 13h38
O senador Omar Aziz (PSD-AM), que deve presidir a CPI da Covid, afirmou que não houve acordo com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) para nomear os parlamentares que comandarão a comissão.
"Não foi acordo com governo. O que ficou claro é que o MDB, que tem a maior bancada, indica o relator. Eduardo [Braga] abriu mão para o Renan [Calheiros]. O PSD, que é a segunda bancada, faria o presidente. Seria Otto Alencar ou eu. Ele não quis, disse que seria melhor eu. Qual é o acordo com governo?", questionou o parlamentar durante o UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Tales Faria e pelo repórter Hanrrikson de Andrade.
Aziz afirmou que a ideia da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) não é dizer que se é "a favor ou contra o governo". "Precisamos esquecer quem é governo, situação ou oposição. Não está na testa das vítimas se a pessoa é de esquerda ou direta. Temos que pensar em salvar vidas. Não conheço nenhuma CPI que o governo tenha conseguido conduzir como queria", afirmou.
Na semana passada, o Planalto agiu para que Renan Calheiros não fosse indicado relator da CPI. Além de ser crítico do governo de Bolsonaro, ele apoia o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sobre a indicação, Aziz disse que vai indicar Renan para a relatoria "sem dúvida".
"Se o governo tinha interesse [em indicar um relator], teria que procurar o líder do MDB e indicar alguém ligado a eles. Não houve essa conversa. O MDB indicou Eduardo e Renan. Por que Fernando Bezerra, que é ligado ao governo, não está na CPI? Não é o Omar Aziz que indicou o Renan. Tinha 16 nomes. Foram indicados Eduardo e Renan. Lá no MDB tem quem faz parte da base do governo e quem faz oposição. Eu faço oposição pontualmente. A maioria das propostas que o governo encaminhou eu votei a favor. Essa CPI não tem dono. Ninguém é maioria lá", afirmou.
Questionado sobre a viagem de uma comitiva do governo brasileiro a Israel, na busca de acordos de cooperação para um possível remédio contra o novo coronavírus que está em estudo e uma vacina em fase 2 de teste, Aziz disse acreditar que os senadores pedirão que o episódio seja investigado na CPI.
"Se você usa recurso público para fazer viagem, e nessa viagem de trabalho, tem que fazer relatório. Por que foi feita essa viagem? Ministro na época foi advertido por estar sem mascara em Israel", disse, citando um episódio envolvendo o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, a comitiva contou com a participação de três diplomatas, um assessor internacional, dois deputados — Eduardo Bolsonaro e Hélio Lopes, filho e amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), respectivamente —, dois técnicos em saúde, um segurança e um secretário de Comunicação. Aziz disse não ter certeza se o pedido da viagem partiu do presidente Bolsonaro.
"Você tem como saber o que foram fazer e quem mandou. Em relação ao presidente, os atos dele vão ser analisados pela CPI. O que não posso fazer é pré-julgamento para que a gente não politize. Mas sim, através dos fatos, vamos mostrar quem errou, prejudicou, prevaricou e não passa por uma pessoa", completou.
A CPI da Covid, que vai investigar ações e eventuais omissões do governo federal em meio à pandemia, além de fiscalizar recursos da União repassados a estados e municípios, começa no próximo dia 27 de abril e será realizada de forma semipresencial, com a possibilidade de participação dos senadores tanto pessoalmente quanto virtualmente.