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Entrevista com Flávio Bolsonaro foi a mais difícil, diz Andréia Sadi

Do UOL, em São Paulo

25/05/2021 14h30Atualizada em 26/05/2021 17h35

A jornalista Andréia Sadi disse hoje que a entrevista realizada com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi a mais difícil da sua carreira. A profissional da GloboNews entrevistou o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em agosto de 2019, quando a suspeita pelo esquema das "rachadinhas" no seu gabinete como deputado estadual começava a ganhar mais repercussão.

Sadi foi a entrevistada desta semana do programa do Canal UOL Jornalistas e Etc, comandado pela colunista do UOL Thaís Oyama. Você pode assistir a toda a programação do Canal UOL aqui.

Questionada se a entrevista com Flávio havia sido a mais difícil de marcar e também de conduzir, Sadi confirmou a tensão em torno da conversa com o senador, que foi exibida no programa Em Foco com Andréia Sadi, na GloboNews. "Foi, eu diria que sim, porque como você bem sabe tem o processo de convencer algumas pessoas. Ele é filho do presidente da República, estava no auge da questão do Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que apontou primeiro as possíveis ilegalidades], das rachadinhas, e foi um mês depois do ministro [do STF Dias] Toffoli suspender a investigação", disse ela.

Eu não sabia se ele [Flávio] ia querer dar aquela entrevista, tinha começado a negociação três meses antes. Era interessante para mim, e para ele também, para se explicar e falar um pouco mais. Ele cancelou algumas vezes aquela entrevista.
Andréia Sadi, jornalista da GloboNews

À época, Flávio Bolsonaro enfrentava suspeitas de "rachadinha" em seu antigo gabinete como deputado estadual pelo Rio de Janeiro. A prática consiste na devolução de parte do salário por funcionários do gabinete. Em janeiro daquele ano, um relatório do Coaf apontou 48 depósitos de R$ 2.000 em dinheiro, cada um feito entre junho e julho de 2017 na conta do hoje senador, totalizando R$ 96 mil.

Para Andréia Sadi, Flávio deixou claro na entrevista a estratégia da sua defesa, liderada então pelo advogado Frederick Wassef. O senador decidiu não questionar a veracidade do relatório do Coaf, mas sim a sua legalidade.

Só na questão do Coaf, fiquei uns 30 minutos, e foi importante porque ele [Flávio] tinha a defesa jurídica. Ele deu uma frase que o relatório não é mentiroso, mas é ilegal, e fica clara a estratégia dele.

Trabalhando online

Apesar de ter sua imagem associada à cobertura política, a jornalista da GloboNews não mora mais em Brasília desde 2019, quando passou a viver em São Paulo. No ano passado, mudou-se para o Rio de Janeiro durante a pandemia, e também precisou adaptar seu método de trabalho. Adepta do contato ao vivo, teve que ouvir mais fontes via online.

Em São Paulo, eu tive uma vida parlamentar. Ia terça para Brasília e voltava quinta. Mas quando mudei para o Rio, todo mundo estava na mesma situação e não me deu essa aflição. As fontes que não gostavam de falar no WhatsApp, que não faziam um Zoom, começaram a se adaptar também. Isso me trouxe uma calma. Senão, com toda certeza, ia ficar angustiada de não estar no dia a dia.
Andréia Sadi

Ainda assim, ela defende que nada substitui o contato pessoal com as fontes, e espera retomar essa atividade. "Quando você está em Brasília, fazendo o dia a dia, tem um 'delay' para o Rio e São Paulo. Se você está no plenário, você já sacou que aquela votação não vai acontecer, está vendo conversa de bastidores... isso a gente perdeu", lamentou.

Noticiar ou não, eis a questão

Sadi entrou na GloboNews em 2015, meses antes do início do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Ela contou que uma de suas primeiras notícias daquela cobertura lhe trouxe certa aflição.

"Eu tinha uma fonte no Supremo, e na época havia uma discussão sobre o voto do relator, e como seria o rito [de impeachment]. Me anteciparam aquele voto e eu fiquei tão insegura. Dei aquela informação, mas passei a pior manhã da minha vida, esperando aquele voto se confirmar. (...) E eu nunca mais fiz isso. Eu faço o contrário: prefiro não dar [a notícia] pela insegurança do que dar e ficar remoendo", lembrou.