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Ciro: CPI evidencia loteamento da Saúde por militares e bandidos do centrão

Mariana Tramontina e Gabriel Toueg

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

02/07/2021 11h35Atualizada em 02/07/2021 12h46

O ex-governador Ciro Gomes (PDT-CE) disse hoje que a CPI da Covid tem evidenciado o que ele chamou de "loteamento do Ministério da Saúde por militares e por bandidos do tal centrão", em referência à distribuição de cargos na pasta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Estamos vendo em tempo real [...] a roubalheira, o loteamento do Ministério da Saúde por militares e por bandidos do tal centrão", disse Ciro. Segundo ele, o grupo que atua como base de apoio de Bolsonaro no Congresso "sempre fica no governo". "Precisamos acordar para isso", alertou.

Em conversa com os jornalistas Diego Sarza, Tales Faria e Josias de Souza no UOL Entrevista, o pré-candidato à Presidência em 2022 afirmou ainda que a comissão no Senado "está prestando um grande serviço à sociedade brasileira".

"[A CPI] Nos permitiu documentar em tempo real para a população ver, especialmente as pessoas de boa fé que foram enganadas pelo Bolsonaro, esse governo trágico", disse Ciro. "Bolsonaro claramente adotou uma política de buscar um genocídio, assassinato em massa, [pelo] que chamam de 'imunidade de rebanho'", disse. Segundo ele, isso já estaria evidenciado pela CPI.

Isso [estratégia de imunidade de rebanho] é uma estupidez inominável, mas fica flagrante que essa era a estratégia de Bolsonaro.
Ciro Gomes

Questionado se acredita que a CPI terá resultados concretos, ele disse que não está certo. "Tenho dúvida se o [relator da CPI] Renan Calheiros [MDB-AL] será um homem realmente interessado em moralizar o Brasil (...). Ele tem sido muito mais um acobertador do Bolsonaro".

Saúde sempre foi loteada

Quando questionado sobre a lisura do Ministério da Saúde em outros governos, Ciro disse que sempre houve corrupção.

"Sempre foi [uma roubalheira] e é uma coisa mais ou menos institucionalizada, que nunca mudou: o escândalo do sanguessuga, o escândalo das ambulâncias [compradas a preços superfaturados] na época do [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva (PT)], a quadrilha da Petrobras?"

"Se feudalizou a República brasileira e algumas quadrilhas se especializaram em roubalheira em determinados lugares", acusou.

Milícia no governo

Ciro também acusou a milícia de interferência na atual condução federal da pandemia. "A minha sensação é de que a milícia desceu em Brasília", disse. "Você vê um cabo de Minas Gerais [como] intermediário legitimado pelo governo Bolsonaro para [compra de] vacina [...] e depois ir [à CPI] e trazer uma gravação fraudada", acusou, em referência a Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que depôs ontem à comissão.

Segundo ele, "claramente é o que estão acostumados a fazer na milícia do Rio de Janeiro, plantar arma, alterar cena do crime". Ciro ainda acusou o filho mais velho do presidente Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), de envolvimento. "Para mim, não resta a menor dúvida de que quem está por trás de toda essa negociata se chama Flávio Bolsonaro", afirmou.

Eu já tenho muitos indícios da presença do Flávio Bolsonaro na intermediação de todo o setor de compra do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Essa é a prática de milicianos que eles são, é assim que o [Fabrício] Queiroz [ex-assessor do senador] se livra dos 10 homicídios de que foi acusado, [por isso] não se explicam os cheques na conta da primeira-dama [Michelle Bolsonaro].
Ciro Gomes

Ciro e Lula no segundo turno

Sobre a disputa à Presidência em 2022, Ciro acredita que Bolsonaro "nem estará na eleição". Segundo o candidato, a disputa será entre ele e o ex-presidente Lula. "Há muito tempo acho que o Bolsonaro não estará no segundo turno. Não sei sequer se estará na eleição".

Para o pedetista, "sairá da cabeça da nação brasileira essa espada que obriga a esquecer todas as contradições do Lula e do PT só para se livrar do mal maior, mais emergente, mais doído, que é a tragédia do genocida e corrupto Bolsonaro".

Se a previsão de Ciro estiverem certas e o segundo turno em 2022 se confirmar entre ele e Lula, segundo ele "o país [poderá] discutir as coisas em outro plano". Ele disse ainda querer unir o Brasil ao redor de um "projeto nacional de desenvolvimento".

Aliança de centro-esquerda

O político disse também que busca uma ampla aliança de centro-esquerda. "O que estou procurando fazer: quero aliança com DEM, PSD, PSB, Rede, PDT e PV. Se eu vou conseguir ou não é outra conversa", disse. "MDB não quero nem para ir para o céu", brincou.

Ainda discutindo a dicotomia entre Bolsonaro e Lula, Ciro lembrou que 70% do eleitorado brasileiro votou no atual presidente. "O que causou [Bolsonaro] foi a inexplicável conjunção da ladroeira do lulo-petismo em cima de um escândalo generalizado e a destruição da economia do Brasil", disse.

Será que agora vamos chamar toda essa gente [que votou em Bolsonaro], o nosso povo, de 'gado' ou inflexão fascista. É ou não é importante refletir sobre o sistema que causou Bolsonaro?