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Amoêdo: 'Bolsonaro vai entregar um país destruído e um PT fortalecido'

Colaboração para o UOL

11/08/2021 12h14

Ex-presidente do partido Novo, o empresário João Amoêdo diz não ser possível que alguém em "sã consciência" demonstre apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem ele atribui também uma "destruição" do Brasil e um "fortalecimento" do PT.

"Ele veio para derrotar o PT e vai entregar o Brasil destruído, com o PT fortalecido. Esse é o legado que teremos do Bolsonaro: um país que vai precisar passar por uma reconstrução", disse Amoêdo ao participar hoje do UOL Entrevista, conduzido pela jornalista Fabíola Cidral e pelos colunistas Kennedy Alencar e Josias de Souza.

Amoêdo foi candidato à Presidência nas eleições de 2018 pelo Novo, mas não chegou ao segundo turno —que acabou sendo disputado por Bolsonaro, então filiado ao PSL, e Fernando Haddad (PT). À época, o empresário declarou voto em Bolsonaro. Hoje, ele se diz favorável ao impeachment do presidente.

Ontem, em entrevista à rádio CBN, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), não descartou um possível apoio à candidatura de Bolsonaro nas eleições de 2022. Ao UOL Entrevista, Amoêdo afirmou que Zema tem o direito de fazer declarações como essa, mas lamentou o posicionamento do governador mineiro.

"Acho complicado ter pessoas dentro do partido Novo que apoiam Bolsonaro, não consigo ver nenhuma justificativa", disse o empresário.

Quando a gente olha as promessas de campanha do Bolsonaro e o que foi feito, o desmonte da Lava Jato, alinhamento ao Centrão, essa história de ataque às instituições, todo o processo que foi feito na pandemia... Bolsonaro conseguiu transformar algo que não era em problema, o voto eletrônico, em um problema. Ao mesmo tempo, tínhamos um problema enorme, que era a pandemia, e ele disse que não era um problema. Esse é o governante que temos.

Voto impresso e votações do Novo

Em derrota para Bolsonaro, a Câmara dos Deputados rejeitou ontem a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do voto impresso.

"A votação de ontem era emblemática, porque obviamente a urna eletrônica não está entre os maiores problemas do Brasil. Era uma questão política sendo colocada pelo Bolsonaro para descredibilizar as eleições de 2022, já com receio da perda e atacando o processo democrático", disse Amoêdo.

Entre os parlamentares do Novo, a maioria foi favorável à proposta: cinco votaram a favor e três, contra. O partido havia se colocado contra a proposta, mas não chegou a fechar questão em torno do tema —o que deixou os deputados livres para a votação. Mesmo assim, Amoêdo fez críticas aos votos favoráveis à PEC do voto impresso dentro do partido e defendeu que o Novo "sinalize" a esses parlamentares que eles não serão mais bem-vindos dentro da sigla caso busquem a reeleição.

"O que eu defendo é que o Novo, no processo seletivo de 2022, leve em consideração o posicionamento que esses mandatários têm adotado em relação às pautas que o partido tem se posicionado", disse ele. "Não é a primeira pauta relevante em que eles vão contra a orientação do partido. O partido já se colocou a favor do impeachment de Bolsonaro e parte da bancada é contra isso", pontuou.

Impeachment passa na Câmara?

Na entrevista, Amoêdo também disse preferir ver com "otimismo" os números da votação de ontem na Câmara. Apesar de não ter alcançado os 308 votos necessários para ser aprovado, o texto recebeu o voto favorável da maioria simples dos parlamentares presentes. Foram 218 votos contrários à proposta, 229 votos favoráveis e uma abstenção.

"Se observarmos, o PP contribuiu com 39% e o PL com 27% dos votos. A base de Bolsonaro contribuiu pouco pelo voto impresso", disse. "E 64 deputados não apareceram. Não tenho dúvida que é porque votariam contra e teriam muita pressão contra eles nas redes sociais".

Por isso, o empresário disse ainda acreditar na possibilidade de um eventual impeachment do presidente. "Muitos dos que votaram a favor [da PEC do voto impresso] já sabiam que não passaria e votaram para sair dessa pressão. Não é fácil, mas não dá para descartar totalmente o impeachment", afirmou.

Amoêdo declarou ainda que pretende ir às ruas para defender o impeachment do presidente. Organizações como o MBL e o Vem Pra Rua convocaram atos em favor do impeachment para o dia 12 de setembro.

"É importante expressar nossa rejeição de forma tranquila e pacífica contra a reeleição eventual do Bolsonaro como a volta do Lula. Chega de líderes populistas, foram essas gestões que nos trouxeram a um quadro de estagnação dos últimos 10 anos, em que a renda per capita brasileira andou para trás", disse.

Mourão 'sensato'

Amoêdo afirmou ainda que, na avaliação dele, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) tem capacidade para governar o país caso Bolsonaro venha a ser, de fato, retirado do cargo.

"O Mourão me parece uma pessoa mais sensata, e estaríamos fazendo um período de transição", disse. "Mesmo que ele não fizesse nenhuma reforma em 12 meses ou pouco menos, o fundamental é ter o processo de transição mais tranquilo e um processo eleitoral de 2022 mais pacificado. Seria positivo e para mim é suficiente".

Candidatura e eleições de 2022

Pouco depois de anunciar que disputaria a Presidência nas eleições de 2022 pelo Novo, Amoêdo desistiu da candidatura. A decisão, segundo ele, foi tomada após a constatação de que havia uma "falta de consenso" entre os dirigentes quanto aos rumos do partido.

O empresário, no entanto, não descartou a possibilidade de voltar a se lançar candidato pelo Novo. "Não acho que seja provável, mas não descarto integralmente", disse.

Ao mesmo tempo, ele refutou a hipótese de se filiar a outro partido. "Pela votação de ontem [na Câmara], vemos que os partidos não são instituições. Prefiro continuar trabalhando no Novo para voltar ao conceito de ser uma instituição forte, trabalhar nas decisões, valores e posicionamentos".