Bolsonaro atribui derrota de PEC do voto impresso a medo de retaliação
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que a rejeição à proposta da PEC do voto impresso (Proposta de Emenda à Constituição 135/19) na Câmara dos Deputados foi reflexo de chantagem e medo de deputados sofrerem retaliações. Com a derrota da proposta que era defendida pelo governo, Bolsonaro reforçou seu discurso de questionamento à lisura das eleições, sem apresentar qualquer indício ou prova.
A PEC do voto impresso teve 218 votos contra, 229 votos a favor e uma abstenção. Para que a tramitação avançasse, eram necessários votos favoráveis de 308 dos 513 congressistas.
Sem apresentar provas, Bolsonaro falou em "chantagem" contra quem rejeitou a proposta e não era de "partido de esquerda" e medo de retaliações para quem não votou. Ele ainda repetiu o discurso de que o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, teria agido dentro do Congresso para barrar a PEC.
"Quero agradecer à metade do parlamento que votou de forma favorável ao voto impresso, parte da outra metade que votou contra, que entendo que votou chantageada. Uma outra parte que absteve, não todos, mas alguns lá não votaram por medo de retaliação", disse, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília.
No placar oficial, a votação teve apenas uma abstenção, a de Aécio Neves (PSDB-MG). Porém, Bolsonaro se referia à parte dos mais de 60 deputados que não apresentaram voto na sessão. Alguns deles reclamaram de problema com o sistema remoto da Câmara, o que não teria permitido que votassem. Essas ausências não tiveram interferência no resultado final, uma vez que o número mínimo de 308 deputados não seria atingido.
Em entrevista no começo desta semana, Bolsonaro já havia ensaiado o discurso da derrota afirmando que Barroso tinha "apavorado parlamentares" para que a PEC fosse derrotada. Hoje, ele repetiu indiretamente a sua teoria, que não tem qualquer indício, para explicar a falta de votos para a aprovação do voto impresso.
"Em números redondos, 450 deputados votaram ontem, foi dividido. Então é sinal que metade não acredita 100% da lisura dos trabalhos do TSE, não acredita que o resultado seja confiável. Dessa outra metade que votou contra, você tira PT, PCdoB, PSOL, e para eles é melhor voto eletrônico como esta aí", disse.
"Desses outros que votaram contra, muita gente votou preocupado. Com problemas, essas pessoas resolveram votar com o ministro, presidente do TSE. Os que se abstiveram numa votação online, abstenção é muito difícil acontecer. Sinal que ficaram preocupados com retaliações", afirmou.
"Mácula da desconfiança"
Assim como vem repetindo nos últimos discursos, Bolsonaro voltou a citar suspeitas infundadas sobre o voto eletrônico e já lançou dúvidas sobre o resultado das eleições de 2022, quando deverá tentar a reeleição.
"Sinalizamos uma eleição, não que está dividida, mas de eleições onde não vão se confiar nos resultados", disse Bolsonaro.
"Perguntaria agora para aqueles que estão trabalhando por interesses pessoais se eles querem enfrentar eleições ano que vem com a mácula da desconfiança", completou em outro trecho.
Apesar de questionadas por Bolsonaro, as urnas eletrônicas são auditáveis e testadas com regularidade sobre sua segurança. Já foi constatado que os dados principais são invioláveis e não podem ser infectados por vírus que roubem informações. O TSE afirma que não há indícios de fraude em eleições desde 1996, quando as urnas eletrônicas foram adotadas.
Ao afirmar que não tinha provas do que iria falar, o presidente Bolsonaro também acusou o PT de "receber dinheiro do narcotráfico" e recursos "de fora do Brasil".
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