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Tabet: Governo Bolsonaro dá matéria-prima de sobra para fazer piada

Colaboração

de São Paulo

20/10/2021 09h33

Assim como para outros humoristas, a política também é uma fonte constante de inspiração para Antonio Tabet, um dos fundadores do Porta dos Fundos, canal de humor no YouTube, e do My News, de jornalismo independente.

Em conversa com a colunista Thaís Oyama, no programa "Jornalistas e Etc.", exibido no Canal UOL nesta terça (19), Antonio Tabet afirma que os últimos governos e, em especial, o atual têm fornecido "matéria-prima de sobra para fazer piada''.

"O atual governo não é só ruim, ele é surreal. Às vezes a gente escreve um roteiro que beira o absurdo, com recursos de exagero extremo, porque é o que ajuda o humor; quando esse roteiro está prestes a ir ao ar, a realidade faz o que está no roteiro; às vezes faz pior, dobra a aposta", explica.

Questionado se a política mudou o humor, Tabet diz que acredita que a política na verdade ''mudou o mau humor". "A gente vive numa sociedade tão polarizada que as pessoas começaram a sentir ódio do humorista. As pessoas estão muito reativas', completa.

"Se você faz uma piada criticando o governo, vira automaticamente um pária, alvo de agressão de simpatizantes do governo. Se você faz uma piada satirizando a oposição, automaticamente vira um cúmplice de fascista, racista".

Para Tabet, a vantagem do Porta dos Fundos nesse cenário é não ligar. "A gente continua fazendo nosso trabalho e quem quiser odiar a gente vai ter dois trabalhos: odiar e parar de odiar. A gente conta, claro, com a história. No futuro, quando assistirem aos vídeos do Porta e perceberem tudo o que a gente fez, vão notar que esses caras aqui não amarelaram, fizeram o dever de casa na época".

"Não existe maneira de criticar racismo sem mostrar o racista"

Piadas sobre população LGBT, negros ou que desmoralizam mulheres deixaram de fazer parte dos recursos de Antonio Tabet no humor, o que ele comemora, mas isso não quer dizer que esses assuntos não são mencionados nos seus vídeos e filmes.

A transformação da sociedade em relação a esses assuntos, por outro lado, é um pêndulo, na sua opinião, principalmente quando existem dificuldades para criticar no humor comportamentos machistas, por exemplo.

"Ainda bem que isso não é mais aceitável, mas hoje em dia para fazer uma crítica ao racismo, ao machismo, você não pode nem mostrar essas pessoas. Não existe maneira de criticar o racismo sem mostrar o racista. Tem gente que acha que isso não pode aparecer, e isso para mim é um tipo de censura".

Peçanha, do "Porta dos Fundos", estreia filme na Amazon

Tabet tem um personagem que é "tudo de ruim que um miliciano carioca pode ser" para fazer as críticas que gostaria sobre o comportamento do brasileiro e, em especial, do cidadão carioca: o policial Peçanha.

Ele estreiará um filme na Amazon Prime no dia 22 deste mês, o "Peçanha Contra o Animal". O humorista define esse personagem como um machista, racista e homofóbico que já percebeu que essas atitudes não são plenamente aceitas na socieade. No filme, o policial e colegas da delegacia de Nova Iguaçu tentam capturar o primeiro serial killer da baixada fluminense.

"No mundo polarizado que a gente vive, o Peçanha funciona porque as pessoas que veem a figura do miliciano o enxergam como a crítica que ele é. As pessoas que não veem tanto problema nele enxergam uma sátira, um exagero", diz.