Alesp: Jornalista que associou morte de judeus a riqueza alemã é exonerado
O deputado estadual Campos Machado (Avante) decidiu exonerar o jornalista e comentarista político José Carlos Bernardi do seu gabinete na Alesp (Assembleia Legislativa de SP). A decisão ocorreu após Bernardi afirmar que a Alemanha enriqueceu por "matar um monte de judeus", na edição de terça-feira (16) do "Jornal da Manhã", da Jovem Pan News. As falas de Bernardi com preconceitos contra judeus foram amplamente criticadas nas redes sociais.
A exoneração de Bernardi — que ocupava o cargo de assessor no gabinete da Alesp — foi publicada na edição de hoje do Diário Oficial do Estado de São Paulo. Ontem, o deputado e líder do Avante na Alesp já havia anunciado a decisão da exoneração em seu Twitter.
"Sempre respeitei o direito de opinião de qualquer cidadão, inclusive meus funcionários. Mas não poderia deixar de repudiar o infeliz comentário do meu assessor, jornalista José Carlos Bernardi, ofensivo a toda comunidade judaica, que muito respeito e admiro", começou o parlamentar.
E completou: "Ainda mais por ser autor de lei criando o Dia Estadual da Lembrança do Holocausto. Assim, não me coube outra decisão que não a de exonerar, hoje mesmo, o referido funcionário de meu gabinete."
Ainda mais por ser autor de lei criando o Dia Estadual da Lembrança do Holocausto. Assim, não me coube outra decisão que não a de exonerar, hoje mesmo, o referido funcionário de meu gabinete.
-- Campos Machado (@campos_machado) November 17, 2021
Questionada hoje pelo UOL sobre uma possível demissão de Bernardi, a Jovem Pan declarou que "não comenta assuntos internos".
MP instaura procedimento para apurar eventual crime
A promotora de Justiça Maria Fernanda Balsalobre Pinto, que comanda o Gecradi (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância), instaurou um procedimento para apurar eventual cometimento de "crime de ódio por intermédio de meios de comunicação", caracterizando antissemitismo (quando reproduz preconceitos contra pessoas de origem semita, como é o caso dos árabes, judeus e assírios), por conta de comentário feito pelo jornalista.
"De acordo com informações que chegaram ao conhecimento do Gecradi, Bernardi teria declarado que o Brasil enriqueceria 'se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles'. Na portaria que instaura o procedimento, a promotora determinou que se oficie ao grupo Jovem Pan, solicitando a mídia original do programa jornalístico no prazo de três dias", diz o MP-SP (Ministério Público de São Paulo), em nota.
A fala
O jornalista José Carlos Bernardi causou polêmica ao comentar sobre o desenvolvimento da Alemanha em discussão com a jornalista Amanda Klein na Jovem Pan News.
"Quem dera o Brasil chegar aos pés do desenvolvimento alemão", disse ela durante o debate. Bernardi respondeu dizendo que a Alemanha ficou rica por matar e assaltar judeus após a Segunda Guerra Mundial.
Este é o país que você defende. É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha após a guerra.
José Carlos Bernardi
As falas de José Carlos Bernardi foram criticadas nas redes sociais. Amanda Klein também se posicionou sobre as declarações do colega em publicação no Twitter.
"Na hora eu não ouvi direito. Ele me interrompia bastante. Quero manifestar meu mais profundo repúdio ao negacionismo histórico e à abjeta associação entre o holocausto e motivações econômicas", afirmou a jornalista.
Recuperação da Alemanha após a guerra
O comentário considerado antissemita também foi rebatido por Samy Dana, analista econômico da Jovem Pan.
Ele destaca que o desenvolvimento econômico alemão após a Segunda Guerra Mundial não tem relação com a morte dos judeus. "O país foi alvo de pesados investimentos americanos", apontou o economista.
Segundo publicação da emissora alemã Deutsche Welle em 2019, a recuperação econômica após a guerra priorizava ideias contrárias ao nazismo. O objetivo foi "constituir um estado democrático que lutava contra outras ideologias fascistas e reacionárias" mesmo separada em dois territórios (a divisão em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental permaneceu até novembro de 1989, com a queda do muro de Berlim).
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