Barroso: 'Recebo ameaças de morte diárias depois de ataques de Bolsonaro'
Luís Roberto Barroso, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), participou do UOL News na manhã desta quinta-feira (24) e revelou que recebe ameaças de morte diariamente. Segundo ele, isso começou depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a atacá-lo com frequência. Ele afirmou que não tem medo desses ataques.
"Depois que o presidente começou a me atacar obsessivamente, começaram a surgir ameaças de morte diárias. Tenho que andar com 5 seguranças. É um inferno. Mas não tenho medo, porque tenho essa proteção institucional. Viajo com uma pessoa dentro do avião. Não ando sozinho", revelou Barroso.
Ele também contou como são os ataques que recebe. "As ameaças chegam por telefone, porque é mais difícil de deixar rastro. Continuo com a mesma rotina, mas é lamentável. Algo aconteceu no Brasill que se liberaram todos demônios, então violentos, racistas, homofóbicos, misóginos e supremacistas, que estavam nas sombras, saíram à luz do dia. Isso aconteceu no mundo e no Brasil", analisou o ministro.
Barroso aproveitou para se defender das críticas de Bolsonaro. "Não tem lógica essa obsessão por mim. Tive duas decisões que impactaram: a instalação da CPI, que foi uma decisão de todo Supremo. E a defesa da urna eletrônica, em que todos ministros assinaram documento dizendo que não havia nada de errado. Então a obsessão por mim não se justifica. Não fiz nada sozinho. Não sei o que simbolizo no imaginário do presidente pra ele ter essa obsessão pro mim".
Barroso também contou que nunca passou por incidentes graves de segurança. E disse que não tem segurança digital - vê todos ataques online e se preocupa com a grosseria e a linguagem das pessoas. Mas tem esperança que isso vai mudar.
"Tenho esperança que aconteça com essas mentiras o que aconteceu com a pornografia. Progressivamente as fake news vão se deslocando pra margem da história. Quem quer consumir, consome. Mas isso sai do mainstream. Acho que vamos superar esse momento. O problema é que precisamos recuperar a importância da imprensa profissional", opinou Barroso.
Ao falar sobre fake news, o ministro disse que é importante "separar o que é ridículo do que é perigoso". Questionado sobre as falsas notícias de que Bolsonaro levou paz ao conflito entre Rússia e Ucrânia, ele disse que não é perigoso.
"Não vou dizer se isso é ridículo ou perigoso. Mas não corresponde à realidade dos fatos, até porque a guerra começou. Eu não vou dizer que é rídiculo, mas vou colocar no plano do não perigoso. Está mais pro divertido do que perigoso", analisou.
Sobre a guerra no leste europeu, Barroso lamentou o ocorrido, mas preferiu não opinar politicamente sobre o assunto.
"Vejo com preocupação e tristeza a deflagração de guerra que envolve potências com arsenal nuclear. Quando penso em guerra, penso em vítimas civis, pessoas inocentes, que acabam ficando como vítimas desses processos históricos. Vejo com tristeza, mas não é meu papel fazer avaliação sobre o comportamento de politica internacional do presidente. Tenho opiniões, mas só passo pra minha mulher em casa", concluiu Barroso.
Telegram
Barroso também comentou sobre as providências que tem tomado para mediar as ações do Telegram no Brasil.
"Não quero suspender nem banir Telegram. Gosto de gente disputando o mercado. Mas o Brasil não é casa da sogra. Temos regras mínimas civilizatórias. Quem quer frequentar minha casa, tem que seguir regra. Telegram tem que ter representante no Brasil e ter compromisso de seguir a legislação brasileira. Mandei comunicação para chamá-los para conversar. Não apareceram até agora".
Barroso comentou que se espelhou no exemplo da Alemanha. "Convidei o embaixador da Alemanha para ver qual estratégia utilizaram. Ele disse: ameaças de multa, cobranças na União Europeia e, no limite, suspensão. Aí eles do Telegram sentaram, fizeram videoconferência para remover grupos de ataque a democracia e nazismo. Tem que fazer o mesmo conosco", afirmou Barroso.
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