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Ataque de Bolsonaro à eleição é 'repetição mambembe' de Trump, diz Barroso

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

17/02/2022 12h07

O ministro Luís Roberto Barroso conduziu hoje sua última sessão como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Barroso, que passará o comando do órgão a Edson Fachin na semana que vem, fez um discurso de despedida em defesa do sistema eleitoral e com ataques ao presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem tem relações tensas desde o ano passado.

O ministro declarou que os ataques à credibilidade das urnas no Brasil são uma "repetição mambembe" do que ocorreu nos Estados Unidos, quando o ex-presidente Donald Trump tentou desacreditar o resultado eleitoral.

"Uma das estratégias das vocações autoritárias em diferentes partes do mundo é procurar desacreditar o processo eleitoral, fazendo acusações falsas e propagando o discurso de que 'se eu não ganhar houve fraude. Trata-se de repetição mambembe do que fez Donald Trump nos Estados Unidos, procurando deslegitimar a vitória inequívoca do seu oponente e induzindo multidões a acreditar na mentira", disse o ministro, sem citar Bolsonaro diretamente.

A gestão do ministro à frente do TSE foi marcada pela resposta a ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. Desde o início do governo, o presidente fez afirmações esporádicas de que teria havido fraude em eleições anteriores, sem nunca apresentar provas.

A partir de julho do ano passado, porém, os ataques se tornaram constantes. Semanas antes dos atos antidemocráticos que tomaram as principais capitais no dia 7 de setembro, Bolsonaro chegou a fazer uma live apontando falsos indícios de vulnerabilidade nas urnas e, dias depois, vazou em suas redes sociais um inquérito com informações sigilosas sobre um ataque hacker ao TSE.

'Deprimente desvalorização mundial'

"Não é de surpreender que dirigentes brasileiros não sejam hoje bem-vindos em nenhum país democrático e desenvolvido do mundo. E nos eventos multilaterais, vagam pelos corredores e calçadas sem serem recebidos, acumulando recusas e pedidos de reuniões bilaterais", disse Barroso, também sem citar Bolsonaro diretamente.

Segundo o ministro, a postura antidemocrática do presidente tem levado o país a perder respeito internacional. "A marca Brasil vive um momento de deprimente desvalorização mundial. Passamos de um país querido e admirado internacionalmente a um país olhado com desconfiança e desprezo", disse.

Barroso assumiu a presidência do TSE em abril de 2020. Logo no discurso de posse, naquela ocasião, falou da necessidade de combater as correntes de desinformação sobre o sistema eleitoral, o que seria uma das marcas do período do ministro à frente do tribunal.