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Bebê morto na TV, Collor e olho roxo: Jefferson tem histórico de escândalos

Ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) - Mateus Bonomi/Folhapress
Ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) Imagem: Mateus Bonomi/Folhapress

Letícia Marques

Colaboração para o UOL

25/10/2022 09h57

O ex-deputado federal Roberto Jefferson, indiciado por tentativa de homicídio após atacar com granadas e tiros de fuzil agentes da Polícia Federal, tem um histórico de polêmicas e embates. Ele ganhou visibilidade na década de 1980, como apresentador de um programa de TV. Na vida política, ficou conhecido por denunciar o esquema do mensalão — do qual o próprio partido participava.

Advogado nascido em Petrópolis (RJ), Roberto Jefferson se lançou na vida pública com o programa "O Povo na TV", transmitido pela antiga TVS, atual Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) entre 1981 e 1984. Em dezembro de 1982, o programa ficou marcado pela morte ao vivo do bebê de uma espectadora.

Segundo a mãe, a criança tinha câncer, estava com sangramento nos olhos e nenhum hospital público a atendia devidamente. Por isso, ela decidiu procurar ajuda no programa de Jefferson.

O bebê morreu após permanecer no palco por 40 minutos. O corpo foi levado ao IML (Instituto Médico Legal), mas o programa não foi interrompido mesmo após a confirmação da morte.

Com a popularidade do programa de TV, Jefferson se elegeu no ano seguinte deputado federal do Rio pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Recebeu o maior número de votos (84 mil), de acordo com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O Povo na TV - Reprodução - Reprodução
Roberto Jefferson (direita) e a equipe de "O Povo na TV". Sérgio Mallandro e Chistina Rocha aparecem ao lado do ex-deputado federal
Imagem: Reprodução

'Tropa de choque' de Collor

Em 1992, Jefferson foi um dos 38 parlamentares que se opuseram à abertura do processo de impeachment do então presidente Fernando Collor, acusado de esquema de tráfico com o ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, o PC Farias.

O deputado sustentou o apoio a Collor até o dia da renúncia, em 29 de dezembro daquele ano.

A justificativa dos integrantes da "tropa de choque" de Collor, nome dado ao grupo de apoiadores, era de que nenhum presidente conseguiria governar sem apoio da Câmara e que o líder do Executivo sofria perseguições da imprensa e dos candidatos que não foram eleitos em 1989.

Todo o apoio a Collor também impulsionou a fama de Jefferson na política e nas mídias da época.

Mensalão

Durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jefferson expôs a prática de um esquema de mesadas dentro do governo federal, em que parlamentares da base aliada recebiam pagamentos para aprovarem projetos de interesse do governo Lula — o mensalão.

As acusações funcionaram e derrubaram imediatamente o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Durante a troca de acusações na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), porém, também foram expostos os benefícios financeiros recebidos pelo próprio partido de Jefferson no esquema.

Consequentemente, em 2005 o ex-parlamentar foi cassado e teve os direitos políticos vetados por 8 anos.

Olho roxo

Naquele mesmo ano, o ex-parlamentar chamou a atenção por depor com o olho roxo. Ele alegou, por meio de seus assessores, que o armário de madeira da cozinha de casa havia caído sobre ele.

Em 2014, o julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal) condenou o ex-deputado a mais de sete anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

Em 2015, Jefferson foi para prisão domiciliar e no ano seguinte foi considerado apto a receber o indulto presidencial, assinado pela então presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo ministro Luís Roberto Barroso.

Ameaças aos opositores de Bolsonaro

Em maio de 2020, o ex-deputado foi ao Twitter ameaçar opositores do presidente Jair Bolsonaro (PL)

"Bolsonaro, para atender o povo e tomar as rédeas do governo, precisa de duas atitudes inadiáveis: demitir e substituir os 11 ministros do STF, herança maldita. Precisa cassar, agora, todas as concessões de rádio e TV das empresas concessionárias GLOBO. Se não fizer, cai", escreveu na primeira mensagem.

"Estou me preparando para combater o bom combate. Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra os traidores, contra os vendilhões da Pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos", finalizou.

Milícia digital

Em agosto de 2021, o ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou que o perfil de Roberto Jefferson fosse excluído do Twitter e, no mesmo dia, o STF pediu a prisão do ex-deputado por atos antidemocráticos. Um inquérito apura a formação de uma organização criminosa digital.

O ex-deputado cumpria pena em prisão domiciliar, em Comendador Levy Gasparian (RJ), município a 140 quilômetros do Rio. Detido em casa, ele deveria seguir regras como não conceder entrevistas nem se comunicar por meio de redes sociais.

Roberto Jefferson - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
Interior de viatura da PF após tiros disparados pelo ex-deputado Roberto Jefferson
Imagem: Reprodução/Redes sociais

Segundo o STF, porém, ele descumpriu as normas. Jefferson apareceu em um vídeo no Twitter insultando a ministra do STF Cármen Lúcia — a quem chamou de "vagabunda" — e também participou de um programa na Jovem Pan.

Em uma decisão na semana passada, o Supremo revogou a prisão domiciliar. Quando foi abordado pelos agentes da Polícia Federal neste domingo (23), Jefferson resistiu à prisão e disparou tiros e até granadas de efeito moral contra os policiais. Ele está detido em Bangu 8 e também foi indiciado por tentativa de homicídio.