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Puxão provocou atropelamento de bolsonaristas, diz defesa de motorista

Do UOL, em São Paulo

04/11/2022 14h28

O atropelamento de bolsonaristas que bloqueavam uma rodovia em Mirassol (interior de São Paulo) foi acidental, afirmou à Justiça o motorista Israel Lisboa Junior, 28, que negou ser petista. Ele disse em depoimento que seu pé escapou da embreagem depois de um manifestante puxar seu pescoço para trás. Os detalhes do depoimento foram contados ao UOL pelo advogado de Israel, João Carlos Araújo Zanin.

O atropelamento deixou 17 pessoas feridas, duas delas em estado grave.

A versão de Israel. A versão do motorista foi contada durante a audiência de custódia, que na tarde de ontem resultou na conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, ou seja, sem prazo.

Segundo o advogado, Israel, que é professor de inglês de crianças e adolescentes, contou que precisava comprar uma fantasia para uma festa que aconteceria na escola em que trabalha. Como sua mãe teria passado mal em razão de uma hérnia de disco, o professor decidiu sair mais cedo de casa para levá-la ao hospital, quando se deparou com o bloqueio na rodovia Washington Luís.

Depois de pedir passagem e se desentender com os manifestantes, Israel, segundo seu depoimento, disse ter sido chamado de "bixa" e "petista" antes de receber um puxão no pescoço, resultando no acidente, diz o advogado.

Segundo o que ele relatou, ele levou um puxão no pescoço, o corpo foi para trás, o pé escapou da embreagem e o carro acelerou. Repara no vídeo que depois do atropelamento, ele freia."
João Carlos Araújo Zanin, advogado de Israel

Petista? Ainda segundo o advogado, Israel negou que seja um militante do PT.

"Ele disse que não é um apoiador do Lula; declarou que nunca se manifestou em rede social porque tem alunos crianças", disse. "Ele até repreende os alunos que entram em discussão política."

O que disse a polícia? Ontem, a Polícia Civil afirmou ao UOL que Israel havia relatado agressão e xingamentos.

"Esse foi o depoimento dele. A veracidade das declarações serão investigadas", disse o plantão policial. "Não sabemos se ele foi agredido antes ou depois do atropelamento."

O que acontece agora? Após decisão judicial de manter Israel preso, sua defesa ingressou com habeas corpus pedindo a liberdade de seu cliente. Habeas corpus é uma ação judicial com o objetivo de proteger o suspeito de abuso de autoridade ou seu direito de liberdade de locomoção.

O defensor espera que seu pedido seja liminarmente (decisão urgente e provisória) julgado no começo da semana que vem. Se o juiz não conceder a liminar, o motorista ficará preso até o final do processo.

"Isso demoraria muito porque o caso ainda está em fase de investigação. Só depois disso o Ministério Público oferece ou não a denúncia e o processo começa", afirma.

Vítimas em estado grave estão conscientes. Duas das 17 vítimas estão em estado grave: I.G.M., uma mulher de 26 anos, e L.R.D., um homem de 36, foram levados para o Hospital de Base de Rio Preto, na cidade vizinha de São José de Rio Preto.

O hospital não entra em detalhes sobre o estado de saúde dos dois. O UOL apurou que não há previsão de alta. Eles estão lúcidos e respondem a perguntas com precisão, sem confusão mental.

Crianças recebem alta. Duas meninas, de 11 e 12 anos, também saíram feridas. Levadas para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Mirassol, receberam alta na noite de quarta-feira (2) por volta das 21h.

Segundo a UPA, as crianças não foram atropeladas. Elas se feriram durante o tumulto provocado pelo atropelamento, quando sofreram escoriações, como ralados pelo corpo e galos na cabeça.

atropelamento - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o momento em que o motorista atropela os manifestantes
Imagem: Reprodução/Twitter

Polícia põe fim aos bloqueios

Na noite de ontem, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que não há mais bloqueio (fluxo totalmente impedido) nas rodovias federais do Brasil, mas 24 estradas continuavam com o fluxo parcialmente impedido no Amazonas, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará e Rondônia.

Hoje, a corporação informou que esse número caiu para 13 depois de 962 manifestações desfeitas e 3.500 multas aplicadas.