Quem é o empresário preso por atacar agente da PRF com barra de ferro em SC
O empresário catarinense Willian Jaeger, 33, está preso por tentativa de homicídio após golpear um agente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) na cabeça com uma barra de ferro. A detenção em flagrante ocorreu na última segunda-feira (7) durante o bloqueio de uma rodovia por manifestantes bolsonaristas em Rio do Sul (SC), a 190 quilômetros da capital Florianópolis.
Também piloto de automobilismo, Jaeger costuma publicar imagens das corridas nas redes sociais. O carro com o qual ele compete é patrocinado pela Pré-Fabricar Construções Ltda, uma das empresas de sua família, que fornece estruturas pré-fabricadas de concreto e metal para grandes obras e atua em toda a região Sul.
O bloqueio em Santa Catarina. Jaeger atacou o policial rodoviário em um trecho da BR-470 em frente a uma loja da Havan, rede varejista pertencente ao empresário Luciano Hang, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo outros policiais que presenciaram a agressão, o agente só não se feriu com maior gravidade porque usava capacete.
Bolsonaristas estiveram acampados no local do conflito desde o dia 30 de outubro, horas após a derrota de Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas ser confirmada. No dia 2, com o bloqueio já formado, Jaeger compartilhou em seu perfil no Instagram um vídeo com imagens aéreas da paralisação, mostrando uma longa fila de veículos.
No dia seguinte, um caminhão registrado em nome da Pré-Fabricar, empresa da família, foi multado pela PRF pela participação no bloqueio. A infração ocorreu às 13h57 do dia 3 de novembro no km 136 da BR-470, a apenas 11 quilômetros da sede da empresa.
O veículo foi notificado por infração gravíssima, com multa de R$ 5.869,40, por "interromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem autorização do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre ela". A punição está prevista no artigo 253-A do Código de Trânsito Brasileiro.
A reportagem do UOL Notícias entrou em contato com a defesa de Jaeger, que não se posicionou sobre a participação dele nos atos ou sobre a prisão após o ataque à PRF.
Negacionista na pandemia. Nas redes sociais, o empresário catarinense fez publicações de teor negacionista em relação à covid-19.
Em uma delas, em janeiro deste ano, compartilhou o relato de um pastor evangélico, que divulgou a falsa informação de que a esposa teria sofrido AVC (acidente vascular cerebral) após ser vacinada. Ele também fez postagens com críticas ao PT e em defesa de Bolsonaro.
Jaeger é filho do empresário Frederico Jaeger Neto, que também é sócio da Pré-Fabricar e tem negócios em outras áreas, incluindo uma cervejaria e administradoras de bens. A maioria dos estabelecimentos está registrada no Vale do Itajaí, região no leste de Santa Catarina.
Frederico também presidiu a ACCO-SC (Associação Catarinense de Criadores de Ovinos de Santa Catarina) de 2014 a 2016. O empresário detém animais da raça Hampshire Down, cuja carne tem alto valor comercial, e frequenta feiras de criadores no Brasil e no exterior.
Elogios a Bolsonaro, a Paulo Guedes e a Luciano Hang
Em entrevista a um canal de YouTube local concedida em junho deste ano, Jaeger fez elogios a Bolsonaro e a Paulo Guedes, ministro da Economia. "Nós temos que tirar o chapéu para a condição econômica do que foi possível fazer para o Bolsonaro e para o Guedes."
Em outro trecho da conversa, citou o dono da loja onde ficou durante a paralisação no momento em que foi preso em Rio do Sul.
"Eu admiro muito o Luciano Hang. É um cara diferenciado. Duas horas com aquele homem... Isso é uma faculdade, cara. Se tu sabe absorver... Nossa, o cara é um avião. E corajoso, né?"
Pai de família, religioso e herdeiro: "Nós somos fora da curva"
Na mesma entrevista, ele demonstra preocupação em dar sequência ao legado da família na empresa onde está à frente do setor administrativo.
"Tem um legado de duas gerações já. Tem essa questão da expectativa, né? Tem a comparação. 'Pô, seu Frederico [o empresário Frederico Jaeger Neto, pai dele] é assim, o Willian é assim', isso é normal", diz.
Com 40 anos de atuação, a Pré-Fabrica conta com cerca de 450 funcionários. "Nós somos fora da curva aqui. Nós estamos trazendo bastante pessoal do Nordeste para trabalhar aqui."
Começo no automobilismo. Durante a entrevista, Jaeger revelou como começou no autonomolismo, em 2015. "Eu terminei a minha faculdade e ele [pai de Jaeger] me deu R$ 30 mil. Aí, já no outro dia, liguei: 'quer vender o teu Opala de corrida ainda?' [O dono do veículo respondeu]: 'Quero.' Então, tá bom. 'Tá aqui, ó, poft.' E aí, começou a brincadeira daí, cara", disse, aos risos.
Casado e com uma filha de 1 ano, ele diz ter se tornado uma pessoa mais religiosa.
Sou pai de família, empresário e piloto também nas horas vagas. Sou um cara que vai trabalhar de manhã cedo, volta para casa, faz exercício, fica com a família, descansa e volta para o trabalho. Hoje, eu sinto muito mais a proximidade de Deus na minha vida"
Willian Jaeger, em entrevista a um canal de YouTube
Ele diz ter começado a conviver no ambiente da empresa quando tinha apenas 8 anos. "Meu pai falou, naquela época que eu tinha que estar lá. Tinha que cumprir aquele horário."
Jaeger disse que trabalhava na produção da empresa até os 20 anos, quando começou a atuar no setor administrativo. "Eu sou responsável pela logística, pelos motoristas, manutenção de caminhão, programação de obras."
Jaeger diz ter temperamento agressivo e cita busca por equilíbrio. Já mais descontraído durante a entrevista, Jaeger faz uma reflexão sobre a própria personalidade, e reconhece ter de lidar com o temperamento agressivo.
"O equilíbrio é uma coisa que eu tenho que buscar muito, sabe? Nas minhas ações. Em tudo, cara. Porque, às vezes, eu sou um pouco agressivo em algumas coisas. Eu preciso esperar um pouco para tomar uma decisão, pensar um pouco melhor, não exagerar. Essa busca pelo equilíbrio é boa para mim", diz.
Punições aos bloqueios. A PRF informou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que já aplicou, desde o dia 30 de outubro, mais de 7.300 multas a participantes dos bloqueios nas rodovias.
Destas penalidades, no entanto, apenas 55 foram no valor máximo, de R$ 17.608,20, punição prevista para o ato de organizar as paralisações. A maioria dos veículos presentes aos atos foram alvos de multas leves, a partir de R$ 88,38, reservada para condutas como "estacionar nos acostamentos" ou "parar nos canteiros centrais/divisores de pista de rolamento".
O MP-SC (Ministério Público de Santa Catarina) informou já ter identificado ao menos doze empresários e agentes políticos, incluindo um vereador, que financiaram e organizaram manifestações nas rodovias do estado. Os nomes dos envolvidos não foram revelados.
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