Na TV, Mourão fala a bolsonaristas e diz que Forças Armadas 'pagaram conta'
Em último pronunciamento à nação em rede nacional, o presidente em exercício Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou de forma velada integrantes dos três Poderes que teriam deixado criar um "clima de caos" no país (leia aqui a íntegra do discurso).
Mourão não menciona nominalmente Jair Bolsonaro (PL) ou os chefes do Legislativo e do Judiciário, mas diz que a atuação dessas "lideranças" fez com que as Forças Armadas "pagassem a conta". A declaração foi lida, inclusive, como uma crítica a Bolsonaro, que manteve silêncio e saiu de cena após ser derrotado nas eleições, enquanto apoiadores pediam um golpe militar na porta de quartéis.
Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social e de forma irresponsável deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe"
Hamilton Mourão, presidente em exercício
No pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, Mourão também deu um recado a apoiadores que continuam acampados nas portas de quartéis, pedindo ao grupo que volte a seus "afazeres".
Os principais pontos do pronunciamento
- Sem citar nomes, criticou integrantes dos três Poderes em razão de um "silêncio ou protagonismo inoportuno e deletério";
- Afirmou que o Brasil trocará de governo, mas não de regime;
- Pediu a apoiadores que "retornem aos seus afazeres", sem mencionar diretamente bolsonaristas que permanecem nas portas de quartéis.
Mourão criticou, sem mencionar nomes diretamente, integrantes do Legislativo e do Judiciário, afirmando que os grupos deixaram que se criasse caos "com silêncio ou protagonismo inoportuno e deletério".
"A falta de confiança de parcela significativa da sociedade nas principais instituições públicas decorre da abstenção intencional desses entes do fiel cumprimento dos imperativos constitucionais, gerando a equivocada canalização de aspirações e expectativas para outros atores públicos que, no regime vigente, carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional em curso", disse.
Aos apoiadores, Mourão pediu ao grupo que volte para suas casas. O presidente em exercício, que também é senador eleito pelo Rio Grande do Sul, prometeu que os bolsonaristas eleitos para o Congresso promoverão uma "oposição dura" ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Tranquilizemo-nos. Retornemos à normalidade da vida, aos nossos afazeres, e ao concerto de nossos lares, com fé, e com a certeza de que nossos representantes eleitos farão dura oposição ao projeto progressista do governo de turno sem, contudo, promover oposição ao Brasil"
Hamilton Mourão, presidente em exercício
Decepção em acampamento em QG
Logo que o tom do pronunciamento se mostrou ameno, a decepção tomou conta do acampamento no QG do Exército em Brasília. Um grupo ensaiou um coro pejorativo: "Hei Mourão, vai tomar no c*".
Quando ele falou que a alternância de poderes é saudável, surgiram risadas irônicas. Um grupo foi até a entrada do QG, vigiada por dezenas de soldados, e xingou os militares.
Apoio sem ideologia e falhas na Amazônia
No pronunciamento, Mourão citou alguns feitos do governo ao longo dos últimos quatro anos, sobretudo na área econômica, como a privatização de estatais e a digitalização da gestão pública, e admitiu falhas na área ambiental.
Nem todas as empreitadas obtiveram o sucesso que almejávamos. Na área ambiental, por exemplo, tivemos percalços, embora tenhamos alcançado reduções importantes no desmatamento da Amazônia, a região ainda necessita de muito trabalho e de cuidados específicos, engajando as elites e as comunidades locais, cortejadas permanentemente pela sanha predatória oriunda dos tempos coloniais."
A gestão bolsonarista registrou altas sucessivas de desmatamento na Amazônia desde o início, acelerando uma curva de crescimento que vinha desde 2017.
O presidente em exercício citou ainda as consequências da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e os impactos da pandemia da covid-19. "Apoiamos governos estaduais e municipais com recursos médicos e medicamentos independentemente da posição política ou ideológica dos chefes do Executivo", ressaltou.
Mourão afirmou também que a gestão Bolsonaro entregou ao próximo governo "um país equilibrado e livre de práticas sistemáticas de corrupção" e "com as contas públicas equilibradas".
O pronunciamento de Mourão marca o fim do governo Bolsonaro. Amanhã (1º) o presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomará posse para um mandato de quatro anos. Nos dias seguintes, ocorrerão as transmissões dos cargos dos ministros do governo petista.
Ontem, Bolsonaro deixou o país com destino aos Estados Unidos, quebrando a tradição da entrega da faixa presidencial ao seu sucessor. Ele ficará um período "sabático" na casa do ex-lutador de MMA, José Aldo, em Orlando, na Flórida.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.