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Presas trans são retiradas de celas na Colmeia para acomodar bolsonaristas

Mulheres presas no DF foram transferidas para penitenciária feminina, conhecida como Colmeia - Paulo H Carvalho/Agência Brasília
Mulheres presas no DF foram transferidas para penitenciária feminina, conhecida como Colmeia Imagem: Paulo H Carvalho/Agência Brasília

Do UOL, em São Paulo

18/01/2023 04h00

Mulheres trans e travestis presas na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia, foram retiradas de suas celas para que a unidade pudesse acomodar 488 bolsonaristas transferidas para lá após a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

No CDP (Centro de Detenção Provisória) 2, no complexo da Papuda, alguns dos 894 homens presos no ato golpista e no acampamento em frente ao QG do Exército estão dormindo no chão —pois não há colchão para todos.

As informações são da DPDF (Defensoria Pública do Distrito Federal) e da DPU (Defensoria Pública da União), que têm realizado vistorias nos dois locais desde a prisão de quase 1.400 bolsonaristas, na semana passada. A reportagem procurou a Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) e aguarda retorno.

As celas

Como mostrou o UOL, dois blocos foram abertos no CDP2 para receber os novos presos. Em cada cela, ficam, em média, de 16 a 22 pessoas. Mas as convencionais —maiores— não foram suficientes, segundo o defensor público Felipe Zucchini.

Tem pessoas nas celas que seriam usadas como 'seguro', onde os presos ficam com resguardo de integridade física. Ali cabe uma ou duas pessoas."

Já na Colmeia, as celas maiores abrigam de 12 a 16 mulheres —mas também não havia espaço e estrutura para as novas presas.

14 mulheres trans e travestis foram transferidas para locais menores, onde antes ocorriam as visitas íntimas.

São celas menores, com porta de ferro. Não são celas aptas para receber pessoas por tanto tempo. Elas ficam entre 2 e 5 por cela, dependendo dos regimes [semiaberto ou fechado]."

Uma reclamação geral nas duas unidades, segundo Carolina Castelliano, defensora pública da União, é que alguns bolsonaristas não tiveram "direito ao telefonema para os familiares".

Zucchini disse que as pessoas que foram presas ainda na Praça dos Três Poderes, no domingo (8), foram encaminhadas para a delegacia e acabaram sem o direito de ligar para os familiares.

O que não teria ocorrido com os bolsonaristas presos no QG do Exército, na segunda (9), que foram deslocados para a Academia da Polícia Federal, "puderam ficar com os celulares e teriam contatado os familiares".

"O direito à ligação deveria acontecer na delegacia, quando as pessoas foram detidas. Pelo grande volume de detidos, não houve essa passagem por lá, e eles acabaram ficando sem a ligação fornecida pelo Estado", afirmou o defensor público.

Roupas confeccionadas às pressas

Os defensores também relataram que faltou uniforme nas duas penitenciárias. "Há um procedimento rígido no sistema, de só colocar as pessoas com roupas brancas. E não havia todos esses itens disponíveis", afirmou Zucchini. "Houve uma doação de tecidos e tentaram ao máximo, na maior velocidade possível, confeccionar essas roupas."

Ele relatou que ainda havia pessoas com as próprias roupas nas últimas vistorias feitas pela Defensoria, na sexta (13) e na segunda (16).

Todos os presos e as presas receberam kit higiene —que foi alvo de reclamações. "A queixa é pela má qualidade em relação ao sabão em pó, pasta de dente. São problemas que não são novos", ressaltou o defensor. "O que tem chamado atenção, na verdade, é a falta de toalhas para todos e todas."