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Interventor: Torres teve informação de risco de tomada de poder e não agiu

Vinícius Nunes

Colaboração para o UOL, em Brasília

27/01/2023 13h09Atualizada em 27/01/2023 17h54

O relatório final da intervenção da Segurança Pública do Distrito Federal aponta que o ex-secretário Anderson Torres recebeu informação sobre o risco da tomada de poder no dia 8 de janeiro, mas não agiu. O documento foi apresentado nesta sexta-feira (27), em Brasília.

Segundo o interventor Ricardo Cappelli, o gabinete do então secretário da Segurança Pública do DF foi informado ainda no dia 6 de janeiro, uma sexta-feira, sobre os atos golpistas programados para o dia 8. Havia uma "ameaça concreta" do que o interventor chamou de "tomada de poder".

"O gabinete do secretário recebeu a informação sobre (a manifestação golpista) e não houve um plano de ações integradas que é de praxe. A informação, difundida na internet, previa invasão de prédios públicos. Faltou comando e responsabilidade", disse Ricardo Cappelli.

Naquele dia 6 de janeiro, o ex-secretário Anderson Torres viajou a Orlando, nos Estados Unidos. Ele voltou no dia 14 e está preso desde então no 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal.

Acampamento em frente ao quartel

O interventor também disse que o acampamento dos bolsonaristas em frente ao QG do Exército em Brasília era o "centro do que culminou os atos do dia 8". Segundo Cappelli, o local foi um centro de construção de planos contra a democracia.

"É importante registrar que não é um acampamento comum. Porque acampamento não tem cozinha montada, não tem infraestrutura, como tinha de banheiros químicos, geradores. Era toda uma estrutura montada numa verdadeira mini cidade golpista, terrorista, montada em frente ao QG do Exército", disse.

O interventor também disse que há fatos que comprovam a interferência do Exército na impossibilidade de desmobilização do acampamento golpista.

Documento irá para ministério e para o STF

O documento será enviado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

A entrega do relatório final foi adiada em um dia. Era prevista para ontem (26), mas foi necessário mais tempo para incluir as imagens do vandalismo coletadas pelas câmeras do STF, divulgadas na quarta (25).

Até agora, 254 pessoas foram denunciadas pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Naquele dia, bolsonaristas radicalizados invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes.

O MPF (Ministério Público Federal) atua em outras frentes de investigação e apuração com o objetivo de identificar instigadores ou autores intelectuais, além de autoridades envolvidas e financiadores dos ataques.

Os denunciados vão responder por:

  • Tentativa de abolir, com grave ameaça ou violência, o Estado Democrático de Direito;
  • Golpe de Estado;
  • Dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima;
  • Associação criminosa armada.

Se a denúncia for aceita nos termos propostos, os golpistas poderão ser punidos por deterioração de patrimônio tombado.

Golpistas presos

Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes manteve 946 golpistas presos preventivamente nos presídios da Papuda e da Colmeia. Outras 464 obtiveram liberdade provisória e devem cumprir medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica.

Moraes está à frente dos inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal sobre o ato golpista de 8 de janeiro. Em um deles, a Corte apura as supostas responsabilidades de agentes públicos na facilitação para o vandalismo bolsonarista. Entre eles, Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do DF; e Ibaneis Rocha (MDB), governador afastado do DF.