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Pacheco é reeleito presidente do Senado, e Lula barra ofensiva bolsonarista

Do UOL, em Brasília, Rio e São Paulo*

01/02/2023 18h18Atualizada em 02/02/2023 14h08

Com o apoio do governo Lula, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi reeleito presidente do Senado para mais dois anos de mandato. Ele venceu a disputa com 49 votos, contra 32 de Rogério Marinho (PL-RN), candidato do campo bolsonarista.

O resultado final ficou dentro do placar estimado pelos apoiadores de Pacheco. Eles chegaram a reduzir hoje a margem, após Marinho intensificar sua campanha com o apoio de Jair Bolsonaro e de sua esposa Michelle Bolsonaro —que foi ao Senado nesta quarta pedir votos para Marinho.

Pacheco teve forte apoio do governo Lula que entrou na disputa negociando cargos e acordos para aumentar o placar —após a vitória, o petista parabenizou Pacheco por telefone.

Até o último minuto, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), articulou ao lado de Davi Alcolumbre (União-AP) para garantir a vitória do senador mineiro.

Em um aceno à direita, que cresceu na casa na última eleição, Pacheco sinalizou com a possibilidade de deixar avançar pautas que limitem os poderes do STF. Os aliados de Marinho defendem o impeachment de ministros como Alexandre de Moraes, responsável pelos inquéritos contra Bolsonaro, mas Pacheco nunca deu prosseguimento aos pedidos.

01.fev.2023 - Rodrigo Pacheco (PSD-MG) comemora reeleição à presidência do Senado - Vinicius Nunes/UOL - Vinicius Nunes/UOL
01.fev.2023 - Rodrigo Pacheco (PSD-MG) comemora reeleição à presidência do Senado
Imagem: Vinicius Nunes/UOL

Se há problema em relação a decisões monocráticas, legislaremos quanto a isso. Se há problema nos pedidos de vistas no STF, legislaremos a isso. Se há problema de competência do STF, legislaremos quanto a isso.
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado

Após a vitória, Pacheco fez um discurso duro, defendendo a democracia e descartando que haja conciliação com os golpistas que tentaram derrubar a cúpula dos três Poderes nos ataques de 8 de janeiro.

Pacificação é não se calar diante de atos antidemocráticos. Pacificação é buscar cooperação. Pacificação é lutar pela verdade. Pacificação é abandonar o discurso de nós contra eles e entender que o Brasil é imenso e diverso, mas o Brasil é um só. Pacificação é, enfim, estar do lado certo da História. Do lado que defende o Brasil e o povo brasileiro. Para isso, a polarização tóxica precisa ser definitivamente erradicada do nosso país.

Acontecimentos como os ocorridos aqui nesse Congresso Nacional e na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 não podem e não vão se repetir. Os brasileiros precisam voltar a divergir civilizadamente. Precisam reconhecer com absoluta sobriedade quando derrotados e respeitar a autoridade das instituições públicas. Só há ordem se assim o fizerem, só há patriotismo se assim o fizerem.

Marinho defendeu pauta bolsonarista

Apoiado por integrantes da extrema direita como Damares Alves (Republicanos-DF), Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Sergio Moro (União-PR), Marinho fez —antes da votação— menções a críticas dos bolsonaristas às decisões do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra ataques ao Estado Democrático de Direito e a desinformação.

Bolsonaristas afetados por decisões, como exclusão de perfis nas redes sociais, costumam afirmar que se trata de "censura" —algo desmentido por grande parte da comunidade jurídica.

Seremos intransigentes na defesa da liberdade de expressão, que vem sendo duramente atingida. Das prerrogativas do mandato parlamentar e da inviolabilidade do mandato nacional, quero deixar isso muito claro.
Rogério Marinho (PL-RN)

Apesar disso, Marinho também fez acenos de moderação, repudiando os ataques golpistas às sedes dos Poderes em 8 de janeiro.

Repudio todos que não entendem ser a democracia convivência de contrários. Tolerância entre discordâncias, conflito social legalizado e a competição civilizada pelo poder. Esse é o conceito de democracia. O país precisa de pacificação e essa é uma das mais importantes terefas do Senado Federal.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) desistiu da sua candidatura antes do início da eleição para apoiar Marinho. "Se tem alguém com mais chances de garantir a alternância do poder, esse alguém é o Rogério Marinho. O meu voto e meu apoio são seus. Que você possa ser renovação de milhões de brasileiros", disse Girão.

Mesmo derrotado, Marinho poderá usar o capital político conquistado com os seus votos para se credenciar como porta-voz do bloco bolsonarista.

Governo marca presença na eleição

Dez integrantes do governo Lula foram ao Senado para acompanhar a eleição. O movimento foi um gesto de apoio a Pacheco.

Entre os presentes, cinco são senadores que se licenciaram do governo para participar da votação:

  • Flávio Dino (Justiça)
  • Carlos Fávaro (Agricultura)
  • Wellington Dias (Desenvolvimento Social)
  • Camilo Santana (Educação)
  • Renan Filho (Transportes)

Outros seis ministros não têm mandato no Senado atualmente, mas marcam presença no plenário da Casa.

  • Simone Tebet (Planejamento)
  • Paulo Pimenta (Secom)
  • Alexandre Padilha (Relações Institucionais)
  • Waldez Góez (Integração e Desenvolvimento Regional)
  • Juscelino Filho (Comunicações)
  • Jean Paul Prates (Presidente da Petrobras)

A presença de Padilha, articulador político do governo, e de Simone Tebet, ex-senadora e terceira colocada na última disputa presidencial, sinalizam o peso que o governo deu à disputa. Apesar de apoiar Pacheco, Padilha fez questão de cumprimentar primeiramente Marinho.

Pacheco terá uma fatura a ser cobrada pelo governo Lula. Por isso, deve apoiar projetos de interesse do Executivo, como a reforma tributária, e barrar possíveis pedidos de CPI que podem partir da oposição, reforçada nessa legislatura por ex-ministros de Bolsonaro, como Damares Alves (Republicanos-DF) e Marcos Pontes (Republicanos-SP).

O presidente reeleito deve também dar espaço na Mesa Diretora a partidos que integram o ministério do petista, como MDB, PSD e União Brasil.

Quem é Rodrigo Pacheco

Natural de Porto Velho (RO), Rodrigo Pacheco é formado em Direito pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais. Foi eleito deputado federal por MG em 2014 e, em 2018, obteve um assento no Senado.

Foi eleito presidente do Senado em 2021 com o apoio do então presidente Davi Alcolumbre (União-AP), do ex-presidente Bolsonaro e de dez partidos.

Na última legislatura, rompeu com o bolsonarismo ao se opor às pautas de extrema direita na Casa Alta e quando se colocou como pré-candidato ao Palácio do Planalto. Aproximou-se de Lula em 2022 e chegou a apoiá-lo no pleito passado.

*Com reportagem de Eduardo Militão, Camila Turtelli, Vinicius Nunes, Igor Mello, Lola Ferreira, Gilvan Marques, Juliana Dal Piva e Carla Araújo