Topo

'Responsável maior pela pregação de ódio' arquitetou ataques, diz Lula

O presidente Lula recebe lideranças parlamentares no Planalto pela primeira vez - Ricardo Stuckert
O presidente Lula recebe lideranças parlamentares no Planalto pela primeira vez Imagem: Ricardo Stuckert

Do UOL, em Brasília

08/02/2023 12h14

O presidente Lula (PT) afirmou hoje, em café com lideranças do Congresso, que tem "certeza" que os atentados golpistas em Brasília, que completam um mês hoje, foram arquitetados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), "o responsável maior de toda a pregação do ódio" no Brasil.

Sem citar o nome do ex-presidente, Lula afirmou que a "indústria de notícias falsas" existe desde a campanha de 2018, vencida por Bolsonaro. Aos parlamentares, ele também pregou uma melhoria na relação entre Planalto e Congresso.

Esta foi a primeira reunião entre o presidente e 16 lideranças de partidos que deverão compor a base do governo na Câmara e no Senado.

Em encontro fechado no Palácio do Planalto, Lula e ministros fizeram falas em prol do debate democrático entre governo e oposição, em contraposição ao antigo governo, e criticaram as pessoas que, segundo o presidente, deram "um passo a mais" e, impulsionadas por Bolsonaro, "tentaram dar um golpe".

Hoje, eu não tenho dúvida de que isso foi arquitetado pelo responsável maior de toda a pregação do ódio, de todas as mentiras, indústria de notícias falsas que aconteceu nesse país nos últimos quatro anos.
Lula

"Porque [o discurso golpista] não vem de agora, vem desde as eleições de 2018, quando a gente ainda não tinha tido a experiência da indústria de fake news desse país", disse Lula, sem falar o nome de Bolsonaro.

O tom duro e crítico do presidente vai ao encontro de recomendação de aliados, que têm a expectativa de ligar diretamente o nome de Bolsonaro aos atos golpistas de 8 de janeiro, mas esperam que haja evolução nas evidências e nas investigações.

Conforme o UOL mostrou, um mês após a invasão e depredação das sedes dos três Poderes, ainda faltam respostas sobre a omissão de agentes de segurança, mas uma possível participação organizada de lideranças políticas, incluindo a possível influência de Bolsonaro, é um dos focos das investigações da PF e do Judiciário.

Pessoas próximas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que conduz os inquéritos, e membros de órgãos ligados às investigações, como o Ministério da Justiça, dizem que o papel de Bolsonaro precisa ser esclarecido.

Uma tentativa de golpe que possivelmente poderia ter sido organizada para o dia 1º [de janeiro, dia da posse presidencial] e que não foi por causa da quantidade de gente em Brasília, mas que eles tomaram a decisão de fazer aquele vandalismo que nenhum de nós estávamos habituados a ver no Brasil.
Lula

O presidente lembrou os anos de luta sindical, entre as décadas de 1970 e 1980, quando ia de São Paulo a Brasília para fazer protestos durante a ditadura militar, mas não "fazia vandalismo".

"Nós não tivemos nunca a intenção de invadir o Congresso Nacional, a Suprema Corte ou o Palácio do Planalto. A gente vinha aqui, fazia nosso protesto, dizia o que a gente queira e voltava pra casa", afirmou.

Planalto e Congresso

O ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, abriu a reunião falando que a época em que o governo federal queria "fuzilar a oposição", em referência a falas de Bolsonaro, havia acabado.

No mesmo tom, Lula disse que os Poderes têm de conviver "democraticamente na adversidade" e que pretende conversar com todos os parlamentares, incluindo a oposição —e o quanto antes, porque, segundo ele, quanto mais demora, fica mais caro e desarmônico negociar.

Nós queremos reestabelecer a relação mais civilizada possível com o Congresso Nacional. Nós temos que entender que o Congresso não é inimigo do governo. [...] A gente não tem que ficar protelando as soluções."
Lula, a parlamentares

"A gente tem que ser mais preciso, porque, quanto mais a gente demora para encontrar uma solução —seja num acordo simples de votação de uma medida provisória, projeto de lei ou emenda constitucional —, quanto mais tempo passa, mais fica caro aprovar aquelas coisas e fica mais crivada entre nós a desarmonia", disse o presidente.

A gente não tem que concordar em tudo. Faz parte do jogo democrático. A gente não tem que concordar com tudo que um deputado ou senador deseja, mas também é verdade que senadores e deputados não têm que aprovar tudo que o governo manda."
Lula, a parlamentares