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Exército abriu sindicância para apurar conduta de militares da ativa em 8/1

8.jan.2023 - Manifestantes golpistas sobem a rampa do Planalto em invasão em Brasília - Evaristo Sá/AFP
8.jan.2023 - Manifestantes golpistas sobem a rampa do Planalto em invasão em Brasília Imagem: Evaristo Sá/AFP

Do UOL, em Brasília

10/03/2023 18h25Atualizada em 10/03/2023 19h27

O Exército brasileiro abriu duas sindicâncias (investigações internas) para apurar omissão ou participação de militares da ativa nos atos golpistas de 8 de janeiro. Elas foram abertas a pedido do comandante do Exército, general Tomás Paiva, e serão tocadas pelo Comando Militar do Planalto.

As sindicâncias têm como objetivo mostrar ao governo federal que, sob o novo comando, o Exército não será leniente com eventuais condutas equivocadas de militares. Tomás Paiva foi nomeado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro.

Ele tem dito aos pares que todos os militares podem ser ouvidos como testemunhas nos inquéritos em andamento e podem ser investigados. Justamente por isso, o comandante fez chegar ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes que não criaria obstáculos para que militares envolvidos nos atos sejam julgados como civis.

Alguns generais dizem que esse tipo de atitude pode incomodar integrantes da reserva, já que historicamente os militares agem de forma corporativista e procuram manter os casos na Justiça Militar.

Apesar disso, de acordo com integrantes do Alto Comando, o general Tomás tem afirmado que o resultado das investigações internas pode se somar às outras frentes de investigação. O comandante tenta deixar claro que o Exército não será mais conivente com possíveis crimes.

A reportagem apurou com fontes na Polícia Federal que dezenas de militares da ativa passaram a ser investigados após o ato golpista. A principal suspeita é de omissão, ao não agirem para impedir a destruição das sedes dos três Poderes, principalmente do Palácio do Planalto.

Três IPMs (Inquéritos Policial-Militares) foram encaminhados pelo Ministério Público Militar ao Supremo Tribunal Federal. Um deles, segundo apurou UOL, investiga a atuação da tropa do Exército de plantão no Planalto no dia da invasão.

Integrantes do Regime de Cavalaria de Guarda e do Batalhão da Guarda Presidencial, compostos por militares da ativa, estão sendo ouvidos. Outros dois inquéritos analisam insultos proferidos por militares contra colegas de farda de patente superior.

Um depoimento obtido pela colunista do UOL Carolina Brígido relata que um servidor da Polícia Federal que estava no Palácio do Planalto durante os ataques de 8 de janeiro disse que militares escoltaram os golpistas que depredaram o local até a saída de emergência, para evitar que fossem presos.

Generais ouvidos pela reportagem, no entanto, minimizaram o depoimento do policial federal. A avaliação é que se trata de apenas um depoimento, com "uma versão", e que há diversas apurações em andamento. No depoimento, o policial federal diz, no entanto, "que vários manifestantes ficavam no local afirmando que o Exército os estava protegendo".

Em nota enviada ao UOL, o Exército Brasileiro (EB) diz que "as investigações estão sendo conduzidas pelas autoridades competentes e a Força tem atendido prontamente a todas as solicitações, notadamente, pelo encaminhamento dos Inquéritos Policiais Militares ao MPM, com cópia ao STF".

"O Exército Brasileiro reafirma o seu compromisso institucional com a apuração de todos os fatos a fim de proporcionar amplo acesso da sociedade aos acontecimentos. O Exército sempre pautou suas ações pela legalidade e, nesse episódio recente da nossa história, não será diferente", diz a nota.