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Carolina Brígido

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REPORTAGEM

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Militares ajudaram golpistas a fugir do Planalto em 8/1, diz policial à PF

Técnicos verificam a tela "Mulatas", pintada em 1962 por Di Cavalcanti, que foi furada pelos golpistas durante invasão ao Palácio do Planalto no domingo (8)  - Gabriela Biló/Folhapress
Técnicos verificam a tela "Mulatas", pintada em 1962 por Di Cavalcanti, que foi furada pelos golpistas durante invasão ao Palácio do Planalto no domingo (8) Imagem: Gabriela Biló/Folhapress

Colunista do UOL

10/03/2023 15h58Atualizada em 10/03/2023 21h26

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Um servidor da Polícia Federal que estava no Palácio do Planalto durante os ataques de 8 de janeiro disse que militares escoltaram os golpistas que depredaram o local até a saída de emergência, para evitar que fossem presos.

O depoimento, obtido com exclusividade pela coluna, serviu de respaldo para o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidir, em 27 de fevereiro, que será a Corte, e não a Justiça Militar, o foro para julgar crimes de militares nos atos antidemocráticos.

"Um militar orientava a tropa do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) para fazer um corredor e liberar os manifestantes para saírem pela saída de emergência para trás do Planalto: "Vamos liberar, fazer um corredor"; que vários manifestantes ficavam no local afirmando que o Exército os estava protegendo; que, então, o Choque subiu a rampa para acessar o Planalto; que um um dos militares que tentava organizar uma liberação para os invasores se dirigiu à tropa de choque da Polícia Militar do DF, tentando impedi-los de entrar: ´aqui não, aqui não´", diz trecho do depoimento.

O servidor depôs à Polícia Federal em 11 de janeiro e, até agora, está protegido por sigilo. Na ocasião, ele disse que gravou vídeos em seu celular comprovando as cenas descritas. As imagens já estariam em posse dos investigadores. Segundo fonte que participa das investigações, o depoimento e os vídeos são provas fortes de algo que muitos suspeitavam.

Trecho do depoimento de servidor da PF sobre a atuação de militares na depredação do Palácio do Planalto - Reprodução - Reprodução
Trecho do depoimento de servidor da PF sobre a atuação de militares na depredação do Palácio do Planalto
Imagem: Reprodução

O depoente integra a Polícia Federal e está cedido à Presidência da República, atualmente na Secretaria-Geral. No dia dos atos, ele estava de folga em casa e acompanhava pela imprensa a movimentação em Brasília para a manifestação. Por volta das 15h, viu que os manifestantes se deslocavam para a Esplanada dos Ministérios e decidiu ir ao Palácio do Planalto às 16h, para verificar como estava a segurança no local.

Chegando a um anexo do Palácio do Planalto, "notou que não havia qualquer bloqueio de veículos" na via, onde pessoas desciam dos veículos vestindo camisas da seleção brasileira rumo à Esplanada. "Somente na altura do Ministério da Justiça havia uma barreira do Detran, com dois agentes de trânsito", disse o depoente.

O servidor também disse que, ao se aproximar do acesso ao Palácio do Planalto pelo anexo, "notou que a guarita de segurança, onde ficam os militares do Batalhão da Guarda Presidencia estava abandonada".

Eram 16h30 e, segundo o depoente, já havia policiamento no local e helicóptero sobrevoando a área. Na entrada do Palácio, havia seis soldados com equipamento anti distúrbio, sendo que um deles era atendido pelo socorrista do Planalto. O servidor perguntou, então, quem estava no comando da situação e os soldados não souberam responder, "sendo que estavam claramente desorientados em face do que estava acontecendo".

O depoente disse que foi para o túnel que liga o anexo 2 ao Planalto, onde há normalmente controle do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ao qual o BGP, e "não havia ninguém do GSI naquela hora, com as catracas liberadas".

Ainda, segundo o documento, "ao descer ao salão das cerimônias, no segundo andar, o declarante se deparou com centenas de pessoas com camisas da seleção brasileira no local tirando fotos, gravando vídeos, outros conversando com os militares do BGP; que, nesse momento ja estava tudo destruído no local; que os militares estavam com equipamentos anti distúrbio civil, mas não empregavam qualquer ação em face dos invasores".

O servidor contou "que alguns manifestantes estavam sentados em cadeiras, outros entravam e saiam do local tranquilamente, enquanto a tropa do BGP assistia a tudo pacificamente".

Ainda segundo ele, por volta das 17h, "chegou o maior contingente do BGP e passou a tomar posição no local, a partir de ordens do comandante". Ainda assim, "os manifestantes entravam e saiam do Palácio, subiam e desciam os andares livremente; que eles fizeram uma posição de linha de costas para o elevador de acesso aos anexos e de frente para os manifestantes e continuaram sem tomar qualquer atitude".

Por volta desse horário, do lado de fora do Planalto, já havia confrontos, o helicóptero da Polícia Federal dispersava gás nos manifestantes que quebravam o STF. O depoente teria ficado indignado e gritado para os militares "tomarem posição, avançarem contra os manifestantes, mas eles não faziam nada". Segundo o servidor, "alguns apenas diziam que aguardavam orientações" e "diversos manifestantes entravam e saiam do local livremente".

O servidor também contou à PF que "a tropa da Polícia Militar do DF que dominou o local e os manifestantes era menor do que a tropa do BGP que estava no Planalto". Disse, ainda, "que a segurança do Planalto estava desmobilizada naquele dia, não havendo comando ou preparo dos militares no local; que os militares com os escudos apenas ficavam parados e outros militares, fardados ou com coletes do GSI, circulavam pelo local, conversavam com os manifestantes".

Em nota enviada ao UOL, o Exército Brasileiro disse que "as investigações estão sendo conduzidas pelas autoridades competentes e a Força tem atendido prontamente a todas as solicitações, notadamente, pelo encaminhamento dos Inquéritos Policiais Militares ao MPM, com cópia ao STF".

"O Exército Brasileiro reafirma o seu compromisso institucional com a apuração de todos os fatos a fim de proporcionar amplo acesso da sociedade aos acontecimentos. O Exército sempre pautou suas ações pela legalidade e, nesse episódio recente da nossa história, não será diferente", diz a nota.

O UOL procurou o GSI, mas não obteve resposta.