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Após soltura, presas por 8/1 são aplaudidas e falam em 'aprendizado'

Do UOL, em Brasília

14/03/2023 04h00

Soltas por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), as presas sob acusação de tentativa de golpe após os atos de 8 de janeiro começaram a deixar o presídio da Colmeia, em Brasília, na semana passada.

Apesar de a decisão conceder liberdade provisória a 149 mulheres, foi só aos poucos que elas ganharam esse direito, sob aplausos e emoção de familiares. Os defensores recebiam no começo da manhã e da tarde uma lista com os nomes que sairiam naquele dia.

Na decisão, Moraes considerou que as presas não eram as executoras principais nem as financiadoras dos atos. Por isso considerou que não há risco para o andamento do processo se as acusadas ficassem em liberdade. Elas responderão na Justiça pelos artigos 286, de incitação ao crime, e 288, de associação criminosa.

O UOL acompanhou dois dias de liberações. Segundo relatos ouvidos por advogados de algumas detentas, há um sentimento de "aprendizado" reportado por elas.

Do presídio da Colmeia, as mulheres eram transportadas em um ônibus da administração penitenciária até o Cime (Centro Integrado de Monitoração Eletrônica) para colocar a tornozeleira eletrônica. Depois disso, podiam ter contato com advogados e familiares.

Vestindo uniformes brancos, elas desciam do ônibus enfileiradas e eram saudadas e aplaudidas por pessoas que aguardavam ansiosamente na entrada do prédio. O trâmite de instalação da tornozeleira levava em torno de 40 minutos, segundo relatos de advogados.

Em seguida, elas podiam retomar seus pertences apreendidos, como mochilas e malas de roupa. Algumas saíam correndo, emocionadas, para encontrar com a família.

Apoiadores ainda montaram uma mesa de café da manhã do lado de fora do prédio e trouxeram uma arara de roupas para que as presas pudessem trocar de vestimenta. A ajuda viria de uma igreja —descrita como "igreja patriota"— que se dispôs a doar roupas e a juntar fundos para pagar passagens de volta aos estados de origem delas.

A grande maioria, segundo advogados que conversaram com a reportagem, estava instalada no acampamento em frente ao quartel-general do Exército e não participou da destruição dos prédios dos três Poderes.

Por ter uma medida cautelar proibindo o uso de redes sociais, as liberadas não quiseram conversar com a imprensa ou dar entrevistas. Muitas foram orientadas a não se manifestar, principalmente nas redes, para evitar problemas ao longo do processo.

Um parlamentar que visitou as detentas ainda no presídio da Colmeia contou à reportagem que também aconselhou que elas não fizessem declarações e que se afastassem das redes sociais, deixando este papel para os "políticos da causa".

Alguns deputados federais, como Marcos Pollon (PL-MS), acompanharam a saída das mulheres. Em vídeo em seu Instagram, ele as chamou de "presas políticas" e disse ter feito a visita para ajudá-las. "Algumas pessoas saem e não têm celular, contato com a família, não conseguem se deslocar para o seu estado", afirmou.

No total, 407 mulheres envolvidas nos atos foram soltas. Continuam presas 82 acusadas, das quais 61 tiveram pedidos de liberdade negados.