Topo

Lira: Placar de 372 no arcabouço não significa tamanho da base do governo

Do UOL, em Brasília

24/05/2023 00h56

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou na noite desta terça-feira (23) que a votação expressiva que aprovou o texto-base do projeto que cria o novo arcabouço fiscal não serve para medir a base aliada do governo Lula (PT) no Congresso.

O que aconteceu?

  • O texto-base da proposta foi aprovado nesta noite com 372 votos favoráveis ao texto -- eram necessários ao menos 257 votos.
  • A votação foi ainda mais ampla que a análise do requerimento de urgência, que possibilitou acelerar a tramitação do projeto na Casa. Na ocasião, 367 deputados carimbaram o pedido.
  • Segundo Lira, o placar alto não significa que o governo tenha mais de 350 deputados aliados, mas abre margem para "uma evolução" na formação da base no Congresso. "Estamos trabalhando para que isso se concretize", disse.
  • O presidente da Câmara afirmou que os congressistas querem ser "facilitadores" nas matérias positivas para o país, mas há ressalvas nos casos em que o governo tenta alterar matérias já aprovadas pelo Congresso nos governos anteriores.
  • Lira evitou dizer se a aprovação do arcabouço era uma vitória da Câmara ou do Executivo, mas "reconhece o esforço de cada um e cada um fez o seu papel".
  • Mais cedo, ele se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

"Essa matéria [o arcabouço fiscal] não é uma matéria de governo, de oposição. É uma matéria de país. Mas essa, tanto quanto a tributária, vão ser tratadas absolutamente a margem de todo o problema ainda de articulação, formação de base que o governo tenha no Congresso"
Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Votação do arcabouço

  • Relator do texto, o deputado Cládio Cajado (PP-BA) conseguiu um acordo entre as bancadas para votar o projeto nesta noite. Ele fez alterações no relatório, e o entendimento foi firmado durante reunião de líderes nesta tarde na Residência Oficial da Câmara.
  • As bancadas do Novo e da federação Psol-Rede indicaram voto contrário ao texto.
  • O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, liberou a bancada, devido à divergência de opiniões. No total, 30 deputados liberais votaram favoravelmente à medida.
  • Pleito de deputados de direita e do centrão foi acatado. A principal mudança aceita por Cajado foi em relação ao limite de crescimento real da dívida pública, para que não passe de 2,5%.
  • Fundo de educação e piso da enfermagem sujeitos ao teto de gastos. Mesmo após as críticas de governistas, o relator decidiu manter o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e o piso da enfermagem dentro do teto, seguindo as novas regras fiscais.

O que é o arcabouço fiscal

  • Trata-se de uma série de regras fiscais para o gasto federal. O arcabouço trabalharia em conjunto com a reforma tributária de acordo com a receita do governo Lula para o PIB aumentar.
  • A proposta é considerada vital para o crescimento da economia, por encorajar empresários a investir e levar à queda da taxa de juros.

Como foi a negociação entre deputados

  • Cajado passou os últimos dias visitando as bancadas, ouvindo sugestões de propostas para alterar o relatório. Foram apresentadas 40 emendas. Mas a ideia era não mudar substancialmente o texto para viabilizar a votação do projeto ainda nesta semana.
  • Lira quis dar um sinal de força para negociar outras propostas econômicas, como a reforma tributária, que tem mais entraves no mercado. O presidente da Câmara escolheu a data para levar o texto ao plenário de olho em aumentar o placar da urgência da medida, que recebeu 367 votos favoráveis a 102 contrários, entre partidos de esquerda, do centrão e até da oposição.
  • Equipe de Lula vai avaliar quem foi fiel ao governo. O Palácio do Planalto também estará de olho em como cada deputado votou, porque quer descobrir quem pode integrar a base aliada nas próximas votações.
  • Mais cedo, Lira participou de um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Texto prevê gatilhos e sanções

  • Para conquistar votos do centrão, Cajado precisou fazer alterações no texto, como incluir sanções escalonadas em dois anos em caso de descumprimento da meta.
  • No primeiro ano, o governo fica proibido de: criar cargos que impliquem aumento de despesas; alterar estrutura de carreiras; criar auxílios; criar despesas obrigatórias e conceder benefício tributário.
  • No segundo ano de descumprimento, também ficam proibidos: reajustes de despesas com servidores, contratação de pessoal e realização de concurso público, exceto para reposições de cargos vagos.
  • Para agradar o governo Lula, Cajado blindou o salário mínimo e o tirou das novas regras. O Bolsa Família, por sua vez, não poderá ter aumento real (acima da inflação) em caso de descumprimento das metas.