Topo

Conteúdo publicado há
11 meses

Com Maduro, Lula exalta histórico contra ditaduras e pede união latina

Giovanna Galvani e Marina Sabino

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Brasília

30/05/2023 11h16Atualizada em 30/05/2023 13h23

O presidente Lula (PT) exaltou a união dos países sul-americanos em reunião hoje da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). O petista lembrou o histórico de lutas contra a ditadura da região —apesar da presença de Nicolás Maduro, ditador há dez anos da Venezuela— e sugeriu a criação de um grupo de trabalho para pensar estratégias para a América do Sul diante de desafios como a crise energética, o aquecimento global e a Guerra da Ucrânia.

O que disse o presidente?

Lula disse que o motivo do encontro em Brasília era o "sentimento de urgência de voltar a olhar coletivamente" para a América do Sul.

O presidente destacou o histórico contra ditaduras e as eleições recentes. "As recentes eleições na Colômbia, Chile, Bolívia, Brasil e Paraguai demonstraram o vigor da democracia em nossa região", disse, após citar "história de resistência, forjada nas lutas de independência e no combate às ditaduras".

Lula criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL) por ações que afastaram o Brasil dos parceiros regionais. "No Brasil, um governo negacionista atentou contra os direitos da sua própria população, rompeu com os princípios que regem a nossa política externa e fechou nossas portas a parceiros históricos. Nosso país optou pelo isolamento do mundo e do seu entorno. Essa postura foi decisiva para o descolamento do país dos grandes temas que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos."

Uma lista de sugestões para ações da Unasul foi apresentada ao fim do discurso, com temas como energia, educação e facilitação do comércio. Lula também listou a criação de um "grupo de alto nível, a ser integrado por representantes pessoais de cada presidente, para dar seguimento ao trabalho de reflexão".

Ele também anunciou uma Cúpula dos Países Amazônicos, a ser realizada em agosto.

Propostas de Lula

colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando os bancos de desenvolvimento, como a CAF, o Fonplata, o Banco do Sul e o BNDES;

aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária, mediante mecanismo de compensação mais eficientes e a criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais;

implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de exportação e importação de bens;

ampliar os mecanismos de cooperação de última geração, que envolva serviços, investimentos, comércio eletrônico e política de concorrência;

atualizar a carteira de projetos do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan), reforçando a multimodalidade e priorizando os de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira;

desenvolver ações coordenadas para o enfrentamento da mudança do clima;

reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, que nos permitirá adotar medidas para ampliar a cobertura vacinal, fortalecer nosso complexo industrial da saúde e expandir o atendimento a populações carentes e povos indígenas;

lançar a discussão sobre a constituição de um mercado sul-americano de energia, que assegure o suprimento, a eficiência do uso de nossos recursos, a estabilidade jurídica, preços justos e a sustentabilidade social e ambiental;

criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior, algo que foi tão importante na consolidação da União Europeia; e

retomar a cooperação na área de defesa com vistas a dotar a região de maior capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria miliar, de doutrina e políticas de defesa.

Leia os destaques do discurso de Lula

A integração da América do Sul depende desse sentimento de pertencer a uma mesma comunidade. Temos uma história de resistência, forjada nas lutas de independência e no combate às ditaduras."

Julgo essencial a criação de um grupo de alto nível, a ser integrado por representantes pessoais de cada presidente, para dar seguimento ao trabalho de reflexão. Com base no que decidamos hoje, esse grupo terá 120 dias para apresentar um mapa do caminho para a integração da América do Sul."

Na região, deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esforço da integração. Abandonamos canais de diálogo e mecanismos de cooperação e, com isso, todos perdemos."

Se hoje damos os primeiros passos para retomar o diálogo enquanto região, o contexto que enfrentamos é ainda mais desafiador do que foi no passado. Os foros de governança globais enfrentam severas dificuldades em oferecer respostas justas e eficazes aos problemas da atualidade."

No Brasil e em outros países, recentes ataques a instituições democráticas, inclusive às sedes dos poderes constitucionais, nos ofereceram uma trágica síntese da violência de grupos extremistas, que se valem de plataformas digitais para promover campanhas de desinformação e discursos de ódio. Face a tantas mudanças e desafios, que papel queremos para a América do Sul? Nenhum país poderá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas da atualidade. É apenas atuando unidos que conseguiremos superá-las."

Reunião tenta resgatar importância da Unasul

Vieram ao Brasil 11 presidentes latino-americanos e 1 representante do Peru no lugar de Dina Boluarte:

  • Alberto Fernández (Argentina)
  • Luís Arce (Bolívia)
  • Gabriel Boric (Chile)
  • Gustavo Petro (Colômbia)
  • Guillermo Lasso (Equador)
  • Irfaan Ali (Guiana)
  • Mário Abdo Benítez (Paraguai)
  • Chan Santokhi (Suriname)
  • Luís Lacalle Pou (Uruguai)
  • Nicolás Maduro (Venezuela)
  • Alberto Otárola (Peru, presidente do Conselho de Ministros)

Jamil: Lula busca protagonismo mirando Conselho da ONU

Os movimentos de Lula são consonantes com a intenção do presidente brasileiro de ingressar com o Brasil como um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, relatou o colunista Jamil Chade, do UOL.

Em um documento de diagnóstico do Itamaraty sobre os anos de governo Bolsonaro, o que se propõe para superar o "isolamento" do último período é uma "guinada sul-americana e latino-americana para a política externa nacional", escreve Jamil.

Bolsonaro deixou de exercer a diplomacia presidencial por motivos ideológicos e isolou o Brasil politicamente de seu entorno regional."
Documento do Itamaraty sobre intenção de Brasil liderar articulações na América do Sul