Manobras de Lira, traições e broncas: bastidores da aprovação da tributária
A semana de esforço concentrado para votar propostas econômicas do governo Lula (PT) mostrou a força do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em sintonia com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Além disso, ficaram expostos o desejo por mais espaço na Esplanada do centrão e um racha na direita.
O que aconteceu?
A estratégia de Lira. Para garantir um quórum alto, o presidente da Casa editou um ato para permitir as votações remotas. Deu certo na tributária, que teve 382 votos favoráveis no primeiro turno e 375 no segundo.
Quem está comigo? O presidente da Câmara também utilizou um requerimento de adiamento de votação como "termômetro" para saber se a PEC da reforma teria adesão dos deputados. Com 357 contra o adiamento, ele continuou com a pauta da tributária com tranquilidade.
Sai ou não sai. A discussão da reforma ocorreu em meio a uma possível troca de ministros e causou mal-estar na bancada do União Brasil. O deputado Celso Sabino (PA), cotado para ministro do Turismo, tem pressa pela nomeação, mas o líder do União, Elmar Nascimento (BA), tenta negociar a autonomia para indicar aliados a outros órgãos, como a Embratur. Enquanto isso, Daniela Carneiro fica.
Também quero. O centrão pressiona para que outros partidos também entrem na negociação por ministérios e cargos. As conversas incluem PP e Republicanos e teria apoio de Lira.
Dobradinha Haddad e Lira. Como na votação do novo arcabouço fiscal, Haddad agiu pessoalmente pela aprovação da reforma tributária. A sintonia entre ele e Lira escancara as críticas dos deputados ao restante dos ministros palacianos, acusados de não atenderem os congressistas.
Esquenta. Antes da votação, deputados governistas gravavam vídeos para as redes sociais. Houve ainda mais empenho em gravações e fotos depois da aprovação da PEC.
Líder. O centrão priorizou a reforma tributária na semana por ter sido uma demanda de Lira. Aprovado o texto, só então o grupo aceitou votar o projeto do Carf (Conselho Administrativo Fiscal). Foi também um aceno a Haddad e ao governo Lula após o empenho de recursos bilionários em emendas.
De olho no PAC. O novo Programa de Aceleração do Crescimento também está na mira de aliados de Lira. A expectativa era encerrar o semestre com o governo satisfeito com a Câmara para garantir espaço no programa para obras em todos os estados.
Queda de braço entre Bolsonaro e Tarcísio
A tramitação da reforma indicou como está a relação de forças na direita. Na quinta-feira de manhã, Jair Bolsonaro divulgou texto conclamando os deputados do PL a votarem contra o texto. Mas ele não conseguiu aglutinar o partido. O PL acabou dando 20 votos a favor da PEC.
A discussão também trouxe à tona diferenças internas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), endossou a proposta e foi decisivo para seu partido apoiar a reforma.
O movimento irritou deputados bolsonaristas. Durante participação de Tarcísio em reunião do PL, ele foi interrompido por Bolsonaro e vaiado por deputados federais.
Críticas nas redes sociais e status de "traidor". A equipe de Tarcísio precisou agir nas redes sociais para tentar conter a crise com os bolsonaristas. Vários comentários classificaram o governador como "traidor" —mesmo nome utilizado por deputados próximos de Bolsonaro na Câmara.
A situação evidenciou uma rusga que existe desde que o atual governador era ministro de Bolsonaro e tinha divergências com nomes como Ricardo Salles.
Deputados chamados de "bolsonaristas raiz" afirmaram que ele sai "queimado" com a direita. Alguns falaram que a relação pode ser reconstruída e outros afirmam que não endossam o nome dele para concorrer à Presidência em 2026.
Por outro lado, aliados de Tarcísio afirmam que a postura do governador paulista sacramentou o seu nome como um pré-candidato à Presidência.
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