Revista: Moraes ameaçou prender diretor da PRF para liberar vias na eleição
Colaboração para o UOL, em São Paulo
04/08/2023 21h29
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, ameaçou prender o então diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques, caso o órgão não liberasse, em até 20 minutos, as vias bloqueadas por blitze durante o segundo turno das eleições, revelou a revista Piauí.
O que aconteceu:
Em meio à tensão gerada pelas blitze da PRF, Silvinei foi se encontrar pessoalmente com Moraes, e ouviu a ameaça de prisão em uma conversa que durou cerca de 15 minutos, segundo o podcast "Alexandre", da revista Piauí. Os bloqueios dificultaram a ida de eleitores às urnas, em especial no Nordeste, reduto em que o então candidato Lula liderava nas pesquisas.
Silvinei foi acompanhado por quatro assessores fardados, "com arma em vista", "cara de preocupado" e, ao encontrar Alexandre de Moraes, teria confessado o temor da prisão. "O diretor confessou a Moraes que estava com medo de ser preso, e o ministro falou: 'ou você para os bloqueios ou você vai para a cadeia", diz trecho da reportagem.
Moraes deu 20 minutos para que Vasques liberasse as estradas, do contrário ordenaria sua prisão em flagrante por desobediência e crime eleitoral.
Entenda o caso
No segundo turno das eleições, em 30 de outubro de 2022, a PRF realizou mais de 500 operações no transporte de eleitores em várias estradas do país, com maior foco no Nordeste, região onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha maioria dos votos — Vasques é apoiador de Jair Bolsonaro (PL), que buscava a reeleição.
Nas redes sociais surgiram dezenas de relatos de eleitores que disseram ter enfrentado dificuldades para chegar aos locais de votação. Na campanha do PT, a pressão foi grande para que Moraes prendesse Vasques e estendesse o horário de votação.
Moraes, como diz a Piauí, ameaçou prender Silvinei, mas não prorrogou o horário para votar. Posteriormente, o presidente do TSE afirmou que as operações da PRF não atrapalharam o resultado das urnas.
Em dezembro de 2022, Vasques foi dispensado do comandado da PFR. Posteriormente, o órgão concedeu aposentadoria voluntária ao ex-diretor.
Vasques é investigado por improbidade administrativa por, supostamente, usar indevidamente o cargo que ocupava na PRF — em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, ele negou interferências nas eleições.