Alerj dá calote de R$ 20 mi para reconstruir Museu Nacional, que pegou fogo

Uma doação de R$ 20 milhões prometida em 2019 pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e não paga até hoje atrapalha a reforma do Palácio de São Cristóvão — antiga sede do Museu Nacional, no Rio, que sofreu um incêndio cinco anos atrás.

O que aconteceu

"Pedimos com carinho que a Alerj cumpra o que prometeu", declara diretor do museu. Alexander Kellner afirma ainda que "gostaria de resolver" a situação e informou que algumas deputadas lhe ofereceram ajuda para tentar receber o dinheiro.

O Museu é um equipamento cultural fundamental para a memória da cultura brasileira e está sediado no nosso estado, sendo, portanto, também uma responsabilidade nossa. Vou procurar a mesa diretora da Alerj para reabrir o diálogo com a direção do museu no sentido de viabilizar essa ajuda de 20 milhões do Fundo Especial do Parlamento Fluminense.
Verônica Lima (PT-RJ), deputada estadual, em nota enviada ao UOL

A doação seria feita com dinheiro do Fundo Especial do Parlamento Fluminense. Pelo combinado, os recursos seriam transferidos para UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), entidade da qual o Museu Nacional é uma das unidades de ensino. Àquela altura, a expectativa era de que o espaço reabrisse em 2022.

Alerj rebate e afirma que museu "não cumpriu exigências" para doação. Segundo a assembleia, a instituição "queria receber a doação por meio da Associação dos Amigos do Museu Nacional, o que não é possível". "Legalmente o repasse deve ser feito ao órgão público responsável pelo prédio histórico, no caso, a UFRJ", afirmou a Alerj.

Questionado, o Museu Nacional explicou que transferência para associação foi "solução de comum acordo". Conforme a instituição, a Alerj não poderia fazer repasse à UFRJ em 2019 por conta de teto de gastos. Como o teto de gastos deixou de valer, o museu informa que se dispõe a receber hoje, por meio da universidade.

Todo estado brasileiro gostaria de ter um Museu Nacional. Quando reabrirmos, a expectativa é receber 1 milhão de visitantes só no primeiro ano. O que apresentamos aqui tem interesse diferenciado, por abordar temas como biodiversidade, história e muito mais.
Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional

Deputada deve se reunir com presidente da Alerj nos próximos dias para tentar liberar o dinheiro. Elika Takimoto (PT) informou que buscará "avançar na tratativa do repasse de recursos para obras de reconstrução do Museu Nacional" em encontro com Rodrigo Bacellar (PL). "Acredito que avançaremos na pauta", disse ela.

Todo trâmite indica que, da parte da universidade, está tudo pactuado: o termo de doação foi assinado em 19 de agosto de 2020 e homologado em novembro do mesmo ano, pelo Conselho Superior Executivo da instituição.
Elika Takimoto (PT), deputada estadual, em nota enviada ao UOL

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Museu contava com acervo de 20 milhões de itens; incêndio destruiu 85% do acervo. Por volta de 19h30 do dia 2 de setembro de 2018, um curto-circuito causado por superaquecimento em um aparelho de ar-condicionado deu início a um incêndio no palácio. Do foco inicial, o fogo se espalhou pelos três andares do prédio, em uma ocorrência que só foi controlada pelos bombeiros após seis horas.

A promessa de doação foi feita pela Alerj em 30 de setembro de 2019, quando o então presidente da assembleia, o ex-deputado estadual André Ceciliano (PT), se comprometeu a doar os R$ 20 milhões para reconstrução do museu em uma cerimônia com a presença de Kellner e outras autoridades.

Falta de dinheiro é problema em várias frentes da reconstrução

O projeto para reabrir o palácio depende de R$ 200 milhões para sair do papel. Além dos R$ 20 milhões prometidos pela Alerj, o Museu Nacional ainda precisa de R$ 180 milhões para transformar o prédio incendiado em um espaço exclusivamente voltado para exposições com 3 mil metros quadrados de área.

O plano é reabrir sede do Museu Nacional por etapas. Em 6 de junho de 2024, quando a instituição completa 206 anos, será aberta ao público uma sala com o meteorito Bendegó, um esqueleto de uma baleia cachalote de 15 metros e outras atrações. No ano seguinte, a restauração completa das fachadas do prédio. Já para abril de 2026, está prevista a reabertura parcial do palácio, a ser concluída até 2028.

Diferentemente do que acontecia antes, a ideia é que sede do museu passe a receber apenas exposições de história natural e antropologia. Até o incêndio de 2018, o palácio também abrigava parte das atividades de pesquisa desenvolvidas pela instituição em áreas como arqueologia, botânica e zoologia.

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Um terreno de 43 mil metros quadrados perto da antiga sede passará a abrigar um novo prédio para pesquisadores. Batizado de Laboratório de Manuseio de Coleções Líquidas, a construção depende de R$ 30 milhões para sair do papel. A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) já investiu R$ 20 milhões nessa iniciativa.

A reconstrução total do campus para os nossos pesquisadores deve levar, pelo menos, uma década. Além do laboratório, que já está em obras, o projeto prevê a criação de outros espaços. Sem o prédio do laboratório, eu não consigo refazer o palácio, porque dependo dele para abrigar o que antes ficava lá dentro
Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional

Ministério da Educação afirma que recuperação total do Museu Nacional sairá por R$ 450 milhões. De acordo com o órgão, R$ 265 milhões (ou 58% do total) já foi captado e a intenção do governo é "envolver outros parceiros estatais e privados, garantir os recursos no menor prazo possível e finalizar as obras para visitação pública até 2026". Em nota, o ministério informou que "não há atrasos e nem falta de recursos para a reconstrução do palácio".

O Museu Nacional é patrimônio da humanidade e dos brasileiros e o atual governo federal se comprometeu em devolvê-lo o mais breve possível
Denise Carvalho, secretária de Educação Superior do Ministério da Educação e ex-reitora da UFRJ

Apesar das dificuldades, o diretor do museu acredita que a recuperação do espaço será bem-sucedida.

Nosso projeto é vencedor e vai acontecer, demore mais ou menos tempo. Após cinco anos, estamos com muita esperança e confiantes de que as coisas vão acontecer
Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional

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