OPINIÃO
Tales: Relação de Bolsonaro e Valdemar é de conveniência e não deve durar
Colaboração para o UOL, em São Paulo
16/01/2024 18h41Atualizada em 16/01/2024 18h49
A aliança política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com Valdemar da Costa Neto é de conveniência e não deve durar muito tempo, afirma o colunista do UOL Tales Faria, durante o UOL News desta terça-feira (16). Vice-líder do partido de Valdemar chegou a criticá-lo após o mandatário elogiar Lula.
Todo mundo aqui em Brasília sabe que nem Valdemar gosta muito do Bolsonaro, e nem o Bolsonaro gosta muito do Valdemar. Isso é um casamento de conveniência e esse casamento tem vida curta, não vai durar muito. Eles estão casados [politicamente]. Tales Faria, colunista do UOL
O Valdemar está casado com o Bolsonaro na expectativa que o Bolsonaro o ajude a fazer muitos [prefeitos e] vereadores na eleição agora em 2024. Após a votação, aí eles vão reavaliar a relação. O Valdemar, na verdade, está de olho no Tarcísio de Freitas. Esse é o cara com quem ele gostaria de sair em 2026. Mas Tarcísio provavelmente vai tentar a reeleição, e não sair direto para candidato à Presidência. Tales Faria, colunista do UOL
A presença de Bolsonaro no PL pode depender do tabuleiro político no partido, que será reajustado após as eleições municipais deste ano, quando Valdemar vai ver o saldo de eleitos e não abrirá mão do controle do partido e, consequentemente, do fundo eleitoral.
Não creio que eles convivam durante muito tempo. O próprio Valdemar já disse que o Bolsonaro é uma pessoa muito difícil de conviver. Com o tempo, Bolsonaro vai tentar tomar o partido de Valdemar. Partido é dinheiro para ele. O Valdemar não vai abrir mão do controle do partido para o Bolsonaro, e o Bolsonaro vai querer tomar o partido. Tales Faria, colunista do UOL
Esse é o embate depois da eleição municipal. Bolsonaro vai querer definir candidato à presidência, comandar todo o processo e ter o dinheiro na mão. [Assim] como ele tentou fazer com o PSL. Chegou um momento em que ele e o presidente do PSL [Luciano Bivar] se desentenderam. Acho que é a mesma coisa que vai ocorrer agora entre Bolsonaro e Valdemar. Tales Faria, colunista do UOL
O novo partido que não saiu e os rompimentos políticos
A avaliação do colunista Tales Faria leva em conta o histórico de Bolsonaro, que queria ter seu próprio partido — Aliança Pelo Brasil —, mas encontrou barreiras como a própria legislação.
Bolsonaro estava preso à legislação antiga [e pensou]: 'ah, eu saio do PSL, crio um partido e está resolvido'. Mas com a nova legislação está se tornando cada vez mais difícil primeiro criar um partido e depois manter. Um partido muito pequeno não sobrevive mais, a tendência é os partidos terem que se juntar. Tales Faria, colunista do UOL
[Bolsonaro] Está em uma camisa de força, que é criada até pelo temperamento dele, porque aonde ele tá ele pensa o seguinte: 'eu tenho muitos votos, e com os votos que eu tenho no partido que eu tiver, eu vou mandar'. Só que agora, a questão partidária, o presidente do partido é quem comanda. Tales Faria, colunista do UOL
O ganho político pela presença de Bolsonaro no partido não se reverte em poder, mesmo após bancadas enormes terem sido eleitas em 2018 com o PSL, e em 2022 no PL. Nenhum presidente de partido estaria disposto a ceder ao ex-presidente.
A discussão é: vou entregar o dinheiro do meu partido para Bolsonaro? Nenhum presidente de partido vai aceitar isso. Os caras aceitam [e falam]: 'vamos fazer um casamento temporário, você nos ajuda a eleger deputados, encher o caixa do partido e, se quiser, se dobre ao meu comando'. Bolsonaro nunca se deu muito bem [nos partidos]. Tales Faria, colunista do UOL
Nem antes quando ele era mero deputado, ele ficava andando de legenda em legenda, não ficava muito tempo no partido. Porque ele não aguentava nem os líderes na Câmara. Ele não é um político que convive e sabe trabalhar em equipe, ele sempre trabalhou sozinho. [...] O futuro dele é incerto, ainda mais tornado inelegível e pior: com risco de acabar preso. Tales Faria, colunista do UOL
Tales Faria lembra que outra relação que pode ser rompida é entre o governador Cláudio Castro (PL-RJ) e o clã Bolsonaro. O próprio ex-presidente não teve dificuldade de romper com a mãe de seus filhos, Rogéria Bolsonaro, por exemplo, quando ela era vereadora no Rio e disputou votos com o filho mais novo, Carlos Bolsonaro, apoiado pelo pai.
Cláudio Castro tentou ser governador, tenta ter autoridade de governador e isso não atrai o Bolsonaro, que não o trata muito bem. Aí vem Lula, de outro partido, tem uma crise de chuva que precisa de apoio do governo federal; vem um presidente de outro partido, liga para ele, se propõe a dar apoio, manda recurso, etc, ele tomou um susto. [Deve ter pensado]: 'Não tô acostumado com isso. Tales Faria, colunista do UOL
Aí o Bolsonaro fica mais irritado ainda. Os dois vão romper cedo ou tarde. O Bolsonaro só não rompeu [politicamente até hoje] com os filhos dele. Até as mulheres ele rompeu com todas. O Bolsonaro conseguiu colocar o Carlos, um dos filhos, contra a mãe, que se candidatou, ele não gostou e botou o Carlos para ser candidato e tirar votos da mãe, da mulher dele. É um sujeito que não sabe conviver, não tem condição de conviver com ninguém. Vai romper com Cláudio Castro também, é o futuro que tá desenhado. Tales Faria, colunista do UOL
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