O que é estado de sítio e por que a medida é tão extrema?
Colaboração para o UOL*
09/02/2024 17h14
A Polícia Federal encontrou nesta quinta-feira (8) um documento que anunciava a decretação de um estado de sítio no país. De autoria desconhecida, o documento estava na sede do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, em Brasília.
O que é estado de sítio?
Medida extrema para casos de guerra ou "comoção grave". Estado de sítio é um mecanismo que pode ser acionado pelo presidente da República, desde que autorizado pelo Congresso Nacional.
A medida de estado de sítio é a mais grave das três medidas excepcionais estabelecidas para retomar a normalidade constitucional. Além dela, existem também a intervenção federal e o estado de defesa.
A medida não pode ser apenas decretada pelo presidente. Primeiro, ele precisaria convocar tanto o Conselho da República quanto o Conselho de Defesa Nacional para debater o tema, como determina o artigo 137 da Constituição. Após a reunião, os conselhos —formados pelo vice-presidente, por líderes da Câmara e do Senado e por diferentes ministros do governo— emitem um parecer a favor ou contra a medida.
O presidente não é obrigado a seguir essa recomendação. Os conselhos são meramente opinativos, mas a Constituição diz que o presidente não pode decretar o estado de sítio sem antes ouvi-los.
Decisão é do Congresso. Então, apenas após ouvir esses grupos, o presidente poderia encaminhar um pedido de declaração de estado de sítio ao Congresso. Porém, se o Congresso Nacional negar autorização, o presidente não pode decretar estado de sítio.
Mais regras em caso de decreto. Para instaurar um estado de sítio sem que o Brasil seja alvo de declaração de guerra ou receba o ataque de outro país, a Constituição diz que a medida precisa preceder o estado de defesa, que só pode ser decretado quando "a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza".
Por que medida é tão grave?
Com o estado de sítio, garantias individuais são suspensas e o presidente tem poderes plenos: pode, inclusive, censurar a imprensa. Portanto, a medida possibilita restrições a direitos fundamentais ou medidas excepcionais para conter algum tipo de abalo à ordem pública.
Entre as ações excepcionais detalhadas na Constituição e permitidas durante a vigência do estado de sítio, estão: a obrigação de permanência em localidade determinada; a detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; a interceptação de comunicações; a censura à liberdade de imprensa; a suspensão da liberdade de reunião; a autorização para busca e apreensão em domicílio; a intervenção em empresas de serviços públicos; e a requisição de bens particulares.
Ainda assim, em caso de estado de sítio decretado, o Congresso Nacional permanece em funcionamento, inclusive, para fiscalizar se a medida foi executada completamente pelo presidente.
*Com reportagens publicadas em 30/03/2021 e 01/11/2022