Bolsonaro não consultou filhos para ato e deixou PL fora da organização
O ex-presidente Jair Bolsonaro decidiu fazer o ato na avenida Paulista amanhã sem consultar os filhos nem o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Ele bateu o martelo durante uma conversa com o pastor Silas Malafaia no domingo de Carnaval.
O que aconteceu
Os filhos atribuíram a atitude de Bolsonaro a seu "instinto político". Esta característica é considerada um ativo pela família e pavimentou o caminho para o Planalto, avaliam.
Parlamentares bolsonaristas aprovaram a iniciativa de levar milhares de pessoas a São Paulo. Eles dizem que o caminho judicial está inviabilizado pelo que consideram uma perseguição de Alexandre de Moraes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), por isso uma demonstração de popularidade se faz necessária.
A falta de consulta aos aliados foi ironizada por deputados governistas e até alguns da oposição. Os parlamentares diziam que o ex-presidente adotou o pastor como conselheiro político.
Ato de Bolsonaro, não do PL
O presidente do PL foi comunicado depois que a decisão estava tomada. Passado o Carnaval, a sede do partido em Brasília recebeu a reunião de preparação do ato, que conta com Malafaia como principal organizador.
Ficou decidido que o evento é uma iniciativa de Bolsonaro. O PL ficaria de fora do evento e não poderia ser vinculado ao que acontecer na avenida Paulista no domingo.
Anunciado com duas semanas de antecedência, vários parlamentares deram sugestões: convocar candidatos a prefeito e vereador; usar pastores para convidar evangélicos; parlamentares da bancada da bala chamarem policiais. As sugestões não foram aceitas. Um deputado contou que a decisão evita que fique caracterizado o engajamento de parlamentares na organização e planejamento, como fretamento de ônibus —o que não impediu organização de caravanas.
Bolsonaro sabe que aliados irão
Uma deputada ressaltou que quem tem cargo e é bolsonarista raiz não pode faltar, sob pena de cobrança das bases. Muitos parlamentares foram cobrados por prefeitos e vereadores para subir no trio em que o presidente estará.
De forma educada, foi dada a informação de que é preciso pulseira VIP para ter acesso. A presença no veículo é restrita a um grupo de 30 deputados, cerca de 15 senadores e três governadores.
Os advogados estão preocupados com o tom dos discursos. Eles estiveram na sede do PL e conversaram com o ex-presidente sobre a importância de não dar motivos para o evento ser chamado de golpista. Aliados fazem coro.
Silas Malafaia afirmou que somente ele vai tocar no nome de Alexandre de Moraes. O pastor falou que fará "constatações" e não haverá agressão ao STF.
Um parlamentar do PT considera pertinente a preocupação. Na avaliação dele, hoje não existe razão para prisão de Bolsonaro. Mas usar as palavras erradas e caracterizar ameaça ao Estado Democrático de Direito pode resultar em prisão preventiva. Este é o maior risco ao qual o ex-presidente está submetido no domingo na Paulista.
Muitos aliados têm medo de o ex-presidente escolher palavras ofensivas. Eles lembram que, durante a corrida presidencial, Bolsonaro se comprometia a ser polido, mas fazia o contrário no palanque e nos debates.
Advogado e porta-voz do ex-presidente, Fabio Wajngarten antecipou o que se espera da fala de Bolsonaro. Ele disse que o ex-presidente vai fazer uma retrospectiva de seu governo, vai comentar o momento do Brasil e se defender das suspeitas de que tramou um golpe de Estado.
Expectativas altas
No começo da semana, Malafaia falou em 300 mil pessoas no evento. Na quinta-feira, Fabio Wajngarten mais do que dobrou a meta. O advogado de Bolsonaro falou em 700 mil participantes.
No Congresso, o ato pró-Bolsonaro já é considerado um sucesso. A expectativa é de uma foto muito grande que mostre o tamanho da repercussão que haverá no caso de se prender o ex-presidente.
O deputado capitão Alden (PL-BA) diz esperar ainda repercussões eleitorais. O parlamentar declarou que uma grande mobilização da direita ajudará a eleger mais prefeitos e vereadores.