PSDB pode ficar sem vereador em SP pela primeira vez na história do partido

O PSDB deve ficar sem nenhum vereador na cidade de São Paulo a partir de sexta-feira (5), quando se encerra a janela partidária. Caso isso aconteça, será a primeira vez na história que o partido, fundado em 1988, ficará sem representação na Câmara Municipal.

O que aconteceu

Partido tinha oito vereadores, mas todos pediram desfiliação. Ao lado do PT, o PSDB elegeu a maior bancada no Legislativo paulistano em 2020. A cidade é berço eleitoral da legenda.

Debandada ocorreu após direção paulistana do partido rechaçar apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). O PSDB vai atuar em prol de uma candidatura própria na disputa pelo comando da capital. Caso os tucanos não consigam um nome eleitoralmente viável para a cabeça de chapa, existe a possibilidade de composição com outro candidato. O apoio à deputada federal Tabata Amaral (PSB) é tido como mais provável neste cenário.

Os agora ex-tucanos entendem que a gestão Nunes é uma continuidade do governo Bruno Covas (PSDB), morto em 2021. O prefeito manteve no segundo escalão do governo secretários e aliados escolhidos por Covas. Para eles, é natural, portanto, apoiar a reeleição de Nunes.

Dos oito representantes, cinco já estão em novos partidos. Eles migraram para partidos de centro e direita —a maioria já formalizou apoio à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), com quem a bancada é alinhada.

Veja para onde foram ou vão os vereadores:

  • Aurélio Nomura: PSD
  • Beto Social: Podemos
  • Fábio Riva (líder do governo Nunes na Câmara): MDB
  • Sandra Santana: MDB
  • Rute Costa: PL
  • Gilson Barreto (líder da bancada do PSDB na Câmara e um dos fundadores do partido): ainda não anunciou novo partido
  • João Jorge (filiado há 32 anos): ainda não anunciou novo partido
  • Xexéu Trípoli: ainda não anunciou novo partido.

A única possibilidade de o PSDB continuar a ter vereador na capital é se Carlos Bezerra Júnior ficar no partido. Vereador licenciado, ele ocupa o cargo de secretário de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura, mas precisa deixá-lo até sexta para concorrer à reeleição na Câmara. Procurado, Bezerra Júnior não retornou.

A decisão de não apoiar Nunes foi o estopim para uma crise que já se arrasta há meses no PSDB. Os vereadores reclamam da interferência da Executiva nas eleições paulistanas. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ex-presidente da legenda e uma das principais lideranças do partido, declarou que a associação de Nunes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não está alinhada com o projeto do partido.

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A direção da legenda minimiza o assunto e diz que a questão é "página virada". Para o grupo, a decisão de não fechar com Nunes foi tomada democraticamente, por 9 votos a 2, entre militantes históricos que compõem o diretório municipal.

"O MDB nos tratou como apêndice", declarou o presidente do PSDB em São Paulo, José Aníbal. "Foi atrás de outra freguesia", disse, em referência ao PL de Valdemar Costa Neto. Já o presidente nacional, Marconi Perillo, disse que as trocas são consequência de um "fisiologismo barato, resultado da frágil legislação eleitoral e partidária, que permite isso, um dos grandes males políticos do Brasil".

Com debandada, PSDB tem a menor bancada da história

Ainda que Carlos Bezerra Júnior fique no partido, será a menor bancada tucana na cidade desde 1992. Nas eleições municipais daquele ano e nas anteriores, apenas cinco candidatos foram eleitos pelo então recém-criado partido. Paulo Kobayashi, Arnaldo Madeira e o boxeador Eder Jofre foram alguns dos primeiros vereadores paulistanos da sigla.

Votação total do partido cresceu nas eleições seguintes. O PSDB saltou de cerca de 90 mil votos para vereador em 1988 para mais de 180 mil oito anos depois. No auge da legenda na cidade de São Paulo, em 2004, os tucanos receberam mais de 600 mil votos. Desde então, o total de votos da sigla diminui a cada eleição.

Tucanos viram número de votos para vereador cair pela metade entre 2016 e 2020. Na primeira eleição, o PSDB teve 434 mil votos para vereador, o que representou 8% da votação total para o cargo. Quatro anos depois, o partido teve pouco mais de 200 mil votos, menos de 4% do total para vereador.

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Saída de recordistas de votos ao longo dos anos chama atenção. Vereador mais votado da história do PSDB em São Paulo, com 117 mil votos em 2012, Andrea Matarazzo está hoje no PSD. Já Gabriel Chalita, outro que superou a marca dos 100 mil votos pelo partido, é filiado ao PDT atualmente.

O que dizem os vereadores ex-tucanos

Eu me filiarei a uma sigla em que poderei continuar, lado a lado com o prefeito Ricardo Nunes, a cumprir os meus deveres e a honrar meus compromissos com a sociedade. Deixei o PSDB por discordar de líderes tucanos de outros estados sobre os rumos da política da nossa cidade. Eles não conhecem São Paulo, desdenham da opinião e do desejo das ruas.
Gilson Barreto

Uma das principais razões para minha saída foi a indefinição sobre o que fazer nessa eleição, se apoia o prefeito Ricardo Nunes, se lança uma candidatura própria, se apoia outro candidato. Eu estou fechado com o Ricardo Nunes. O PSDB não tem chapa de vereador, o que torna inviável qualquer projeto eleitoral.
João Jorge

Não concordo com os últimos caminhos tomados e sinto muito que São Paulo e os vereadores tucanos não tenham sido ouvidos pelas instâncias partidárias.
Sandra Santana

O posicionamento da bancada foi unânime em sair do PSDB por conta de viabilidade eleitoral e pela falta de comando. A bancada foi ouvida, mas não foi levada em conta a gestão Bruno Covas e Ricardo Nunes, que nós apoiamos.
Fábio Riva

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No PSD, tenho certeza que encontrarei todas as condições para prosseguir com meu trabalho. O prefeito Ricardo Nunes e o trabalho que ele vem fazendo pela cidade de São Paulo têm todo meu apoio.
Aurélio Nomura

Beto do Social disse que não irá se manifestar agora. Rute Costa foi procurada via assessoria de imprensa, mas não retornou.

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