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Reinaldo: Fala de Leite não é um deslize, é uma visão de mundo

O colunista Reinaldo Azevedo disse no Olha Aqui! desta quarta (15) que a afirmação do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), de que as doações às vítimas das enchentes no estado podem atrapalhar o comércio local, é um pensamento solidificado da direita no país. Leite deu a declaração em entrevista à BandNews FM.

É tanta bobagem que mal dá pra saber por onde começar. Isso não é um deslize do Eduardo Leite, isso é uma visão de mundo. Ele disse: 'Nós já vimos isso acontecer outras vezes, eu encomendei um estudo'. Ele reitera que isso prejudica o comércio local. Ele respondia uma pergunta que tinha dois temas: qual era agora a prioridade nas doações e a carência de moradias. Ele se fixa numa das perguntas e dá essa resposta. Ele pode se desculpar o quanto for. Precisa ver se está se desculpando porque está pensando errado —infelizmente eu duvido um pouco— ou se porque viu que foi um desastre político. Há uma confusão mental enorme na resposta dele, sinal de que não estabeleceu uma hierarquia de problemas. E quem não tem uma hierarquia de problemas não tem uma leitura de realidade e, se não tem leitura da realidade, intervém mal, sobretudo na realidade caótica como está. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo disse ainda que Eduardo Leite está atuando nessa crise como se fosse um comentador.

Ele deu uma entrevista de 20 minutos em que não listou uma única medida dele, um número da atuação do estado. Ele mete o coletinho laranja mesmo quando não corre risco algum, na linha 'estou aqui esperando as coisas acontecerem', na cobrança do governo federal. É muito parco e econômico em admitir que o governo federal está fazendo um trabalho gigantesco no Rio Grande do Sul. Ele não deixa clara com a devida ênfase a ajuda que está recebendo. E, claro, está preocupado com a sua base política ultraconservadora do Rio Grande do Sul. Embora tenha recebido apoio dos progressistas contra aquele que consideravam um mal maior [nas eleições de 2022], sua base maior é bolsonarista. Ele tem visão de mundo de direita, mas tem que tomar cuidado quando dá um surto de ultraliberalismo. Isso não é um deslize, isso é uma tese: quando o estado intervém pra ajudar em situações assim, na verdade, retarda a volta à normalidade, porque você desestimula os agentes econômicos e empreendedores a agir por conta própria pra retomar a normalidade do abastecimento. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Ele não se deu conta de que aquilo que ele realmente pensa estava sendo dito ali. E aquilo que ele pensa, nesse particular, é muito ruim. De que comércio ele está falando? O que ele quer? Ele é literal: as doações que vêm de fora criam constrangimento e impedimentos para o comércio local. Que comércio local? Há cidades que o comércio local está debaixo d'água. Estudo de quê? Em que a ajuda ao pequeno comerciante tem a ver com as doações? Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Ministro extraordinário para a reconstrução

Reinaldo Azevedo comentou as críticas à nomeação do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), o deputado gaúcho Paulo Pimenta, como ministro extraordinário para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Segundo Reinaldo, a escolha de Pimenta, tido como possível candidato em 2026, só é um problema a partir do momento em que se demoniza o PT e a política.

Parte do princípio de que o [Eduardo] Leite não é político nem tem interesse político nenhum. É isso? Por que não pode ser o Pimenta? Primeiro, que ninguém vai tirar a autoridade do governador. A autoridade federal é alguém que está dialogando diretamente com o presidente, porque são muitos ministérios envolvidos. Mas, aí diz: 'Não pode ser o Pimenta, porque ele é gaúcho e tem interesses políticos. O Leite não tem interesses políticos? Essa resposta sobre o comércio não é uma resposta que está dando à base política dele? Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

O governador foi eleito pra governar o Rio Grande do Sul e o presidente Lula (PT) pra governar o Brasil. E o Pimenta é um deputado, como outros políticos que pertencem ao governo do Eduardo Leite. Ou nenhuma dessas pessoas vai pensar mais em política, só na reconstrução do Rio Grande do Sul? Esse argumento é insustentável. Eu não vou comprar essa tese de que os únicos políticos são o Lula e o Pimenta. Fica parecendo que ele [Leite] está acima do bem e do mal e os outros todos são políticos. Há um esforço pra proibir um segmento de fazer política. Por acaso, o Leite foi em cartório firmar compromisso de que ele não disputa mais nada e todo seu trabalho será recuperar o Rio Grande do Sul, ou a ambição política dele continua? Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

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