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PF indicia Bolsonaro por venda de joias recebidas na Presidência

Do UOL, em Brasília

04/07/2024 17h34Atualizada em 04/07/2024 19h31

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por peculato (desvio de dinheiro público), associação criminosa e lavagem de dinheiro na investigação sobre a venda no exterior de joias recebidas durante viagens oficiais pela Presidência. A informação foi divulgada pela Globonews e confirmada pelo UOL.

O que aconteceu

Ao UOL o STF (Supremo Tribunal Federal) informou que o indiciamento ainda não chegou ao gabinete do relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes. Segundo a assessoria do Supremo, como se trata de um processo físico, e não digital, a expectativa é que não chegue hoje à Corte.

A investigação apontou que o ex-presidente e aliados teriam agido para desviar dinheiro de presentes oficiais que Bolsonaro recebeu em visitas oficiais a outros países. Na prática, ao vender os bens, Bolsonaro teria desviado patrimônio público, pois estes presentes oficiais deveriam fazer parte do acervo nacional da Presidência.

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Além de Bolsonaro, foram indiciados 11 auxiliares do ex-presidente. Em delação premiada, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, admitiu que as joias foram vendidas para pagamento em dinheiro vivo a Bolsonaro. Ao jornal O Estado de S.Paulo, o ex-presidente negou ter ordenado a venda das joias e disse que não recebeu nenhum valor por elas.

Agora, a PF encaminha o inquérito à PGR (Procuradoria-Geral da República). Caberá à instância máxima do Ministério Público analisar as conclusões da Polícia e decidir se vai denunciar ao STF o ex-presidente e seus auxiliares envolvidos no episódio.

Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foram convocados a depor para a PF em agosto do ano passado e optaram por ficar em silêncio. A defesa do presidente chegou a pedir ao STF a anulação do processo, mas o pedido foi negado pela ministra Cármen Lúcia.

Quem são os indiciados

Outras 11 pessoas além de Bolsonaro foram indiciadas:

Fabio Wajngarten - advogado da família Bolsonaro;

Frederick Wassef - advogado da família Bolsonaro;

tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;

general Mauro Cesar Lourena Cid - pai de Mauro Cid;

almirante Bento Albuquerque - ex-ministro de Minas e Energia durante o governo Bolsonaro;

Marcos André dos Santos Soeiro - ex-assessor de Bento Albuquerque;

José Roberto Bueno Júnior - ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia durante o governo Bolsonaro;

Marcelo da Silva Vieira - ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência durante o governo Bolsonaro;

Julio Cesar Vieira Gomes - ex-secretário especial do Fisco durante o governo Bolsonaro;

Marcelo Costa Câmara - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;

Osmar Crivelatti - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Caso foi revelado em março de 2023

A venda de joias de Bolsonaro no exterior foi revelada em março de 2023. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que, em outubro de 2021, o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentara entrar no país com uma mala com joias da Arábia Saudita destinadas a Bolsonaro sem declarar, mas os itens acabaram retidos pela Receita Federal.

Inicialmente, a PF investigava dois kits de joias recebidos em 2021, mas depois descobriu um terceiro kit, de 2019. Entre os itens estavam brincos de diamantes que seriam presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, anéis, pares de abotoaduras, uma caneta da marca Chopard, um rosário árabe e dois relógios. Bolsonaro ainda precisou devolver ao TCU (Tribunal de Contas da União) um kit de armas da marca Caracol recebido em viagem à Arábia Saudita.

Kit de joias da marca Chopard recebidos por Bolsonaro Imagem: Reprodução

A investigação sobre a joia não declarada levou a PF a rastrear tentativas de vendas de kits recebidos por Bolsonaro. Seus ex-auxiliares, incluindo o ajudante de ordens Mauro Cid e seu pai, general Mauro Lourena Cid, venderam um relógio Rolex e outro da marca Patek Philippe nos Estados Unidos em junho de 2022. Eles ainda expuseram as outras joias em casas especializadas de Miami, segundo a PF.

Quando o escândalo veio à tona, Frederick Wassef , acabou recomprando o relógio nos EUA para devolver às autoridades brasileiras. A ação reforçou as suspeitas da PF sobre o grupo. Para a Polícia, a devolução dos produtos tentou "escamotear" a venda das joias no exterior. À época, Wassef negou participar da venda das joias, mas não se manifestou sobre a recompra do relógio.

A conta bancária do pai de Mauro Cid nos EUA foi usada no esquema, segundo a investigação. A suspeita da PF é de que ele teria sacado os recursos para entregar o dinheiro em espécie para Bolsonaro.

Kit de joias cravejados de diamante recebidos durante viagem de Bolsonaro à Arábia Saudita Imagem: Reprodução/TV Globo

Nova joia descoberta

Uma nova joia que teria sido colocada à venda no exterior foi descoberta pela PF na etapa final da investigação. Uma equipe da Polícia Federal viajou aos Estados Unidos em maio deste ano para investigar a negociação das joias e, em operação conjunta com o FBI, a polícia federal americana, descobriu a tentativa de venda de mais uma joia recebida pelo ex-presidente.

O novo elemento reforçou ainda mais as suspeitas contra Bolsonaro, na avaliação da PF. O caso já estava sendo finalizado, mas a conclusão foi adiada em algumas semanas com a descoberta.

Cid e seu pai não apresentaram detalhes sobre nova joia. Os dois depuseram à PF no último dia 18 de junho, mas afirmaram não ter conhecimento deste novo item.

Mauro Cid fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal e se comprometeu a revelar o que sabe em troca de benefícios. Informações da delação do ex-assistente de Bolsonaro foram usadas no inquérito das joias e em pelo menos outros dois: sobre a falsificação na carteira de vacinação do ex-presidente e sobre a descoberta de uma minuta de tentativa de golpe após a eleição presidencial de 2022.

Outro lado

Após a divulgação do indiciamento, o advogado Fabio Wajngarten disse não haver provas contra ele. Ele diz que foi indiciado por ter orientado Bolsonaro a devolver joias oficiais ao TCU (Tribunal de Contas da União). "Advogado, fui indiciado porque no exercício de minhas prerrogativas, defendi um cliente, sendo que em toda a investigação não há qualquer prova contra mim. Sendo específico: fui indiciado pela razão bizarra de ter cumprido a Lei!", escreveu ele no X (ex-Twitter).

Os outros indiciados ainda não se manifestaram.

Quem é Mauro Cid

O podcast "Cid: A Sombra de Bolsonaro", de UOL Prime, desvenda quem de fato é Mauro Cid, um militar discreto, mas que sabe muito sobre os supostos crimes do governo Bolsonaro. Abaixo, ouça aos episódios 1 e 2, também disponíveis no Spotify.

Mauro Cid tentou esconder envelopes com dinheiro vivo da PF

Os bastidores da atuação de Cid dentro do governo Bolsonaro

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