Explosões serão 'apenas cicatriz na história', diz Barroso
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, chamou o ataque com explosivos contra o STF feito pelo chaveiro Francisco Wanderley Luiz de "apenas uma cicatriz na história" e fez um apelo por mais civilidade e respeito.
O que aconteceu
Ministro comentou sobre o atentado na abertura da sessão plenária desta quinta (14). Ele lamentou que o país tenha perdido sua "alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência" e reforçou a necessidade de responsabilizar todos os que atentam contra a democracia. O tribunal chegou a ficar fechado nesta manhã, devido a varreduras feitas pela polícia para assegurar que não havia mais explosivos no local. O expediente só foi retomado de tarde.
Barroso ainda fez referência à discussão sobre anistia de golpistas do 8 de Janeiro. Ele afirmou ser necessário responsabilizar quem ataca a democracia e relembrou os atos ocorridos no ano passado para exemplificar que algumas pessoas estão procurando "naturalizar o absurdo" e querendo "perdoar sem antes condenar".
Histórico de radicalismo. Na sequência da fala de Barroso, o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, disse que o episódio de ontem não foi um fato isolado e que o radicalismo foi alimentado pela chegada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao poder, em 2019. "A reconstrução histórica dos últimos acontecimentos nacionais demonstra que o ocorrido na noite de ontem, infelizmente, não é um fato isolado", afirmou o ministro.
Barroso e Gilmar relembraram episódios envolvendo bolsonaristas. Eles citaram o vídeo do ex-deputado Daniel Silveira convocando a população a agredir ministros, em 2020, e o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson, que disparou contra agentes da Polícia Federal que foram a sua casa cumprir uma ordem de prisão. Barroso ainda citou a perseguição com arma em punho a um jornalista feita pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), em São Paulo.
Tanto Jefferson quanto Silveira já foram condenados pelo STF depois destes episódios. Carla Zambelli responde a uma ação penal no STF sobre o episódio da arma.
O episódio de ontem será apenas mais uma cicatriz na história. Uma história de superação e progressiva construção de um país melhor e maior.
A democracia, digo, tem lugar tanto para conservadores como para liberais e progressistas. Somos todos livres e iguais. Só não há lugar para quem não respeita as regras da própria democracia, para quem não respeita os direitos dos outros, para quem pensa que a violência é uma estratégia de ação. Uma causa que precisa de ódio, de mentira e de violência não pode ser uma causa boa. Repito, ninguém tem o monopólio da verdade, ninguém tem o monopólio da virtude nem tampouco do amor ao Brasil.
Algumas pessoas foram da indignação à pena [em relação aos atos de 8 de Janeiro], procurando naturalizar o absurdo. Não veem que dão um incentivo para que o mesmo tipo de comportamento ocorra outras vezes. Querem perdoar sem antes sequer condenar. A gravidade do atentado de ontem nos alerta para a preocupante realidade que persiste no Brasil. A ideia de deslegitimar a democracia e suas instituições numa perspectiva autoritária e não pluralista de exercício do poder, inspirada pela intolerância, pela violência e pela desinformação. Reforça também e, sobretudo, a necessidade de responsabilização de todos os que atentem contra a democracia.
Ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF
Em 8 de janeiro de 2023, a ideologia rasteira que inspirou a tentativa de golpe de Estado não surgiu subitamente. Pelo contrário, o discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados no governo anterior. Fruto de um secretarismo infértil, o radicalismo político graçou nas eleições de 2018 em uma campanha caracterizada pela ampla utilização das redes sociais para difusão de ódio, ataques pessoais e fake news. Com o encerramento das eleições e a instalação de um novo governo em 2019, essa estratégia influenciou não apenas a comunicação oficial do Palácio do Planalto como também o discurso dos apoiadores, que radicalizaram o debate.
Ministro Gilmar Mendes, do STF
A Procuradoria-Geral da República presta plena e sentida solidariedade ao Supremo Tribunal Federal pelo lamentável episódio da noite de ontem. Fica claro que o desrespeito às instituições continua a ter sinistros desdobramentos, demonstrando a importância do esforço que vem sendo desenvolvido pela Procuradoria-Geral e pelo Supremo Tribunal na apuração de responsabilidades e punição por atos violentos de propósito antidemocrático.
Paulo Gonet, procurador-geral da República
Moraes critica 'mediocridade'
O ministro Alexandre de Moraes também dedicou sua fala inicial na sessão de hoje para falar sobre o atentado. Ele elogiou a atuação da equipe de segurança do STF e das polícias Civil e Federal, que se mobilizaram rapidamente para investigar o ocorrido, isolar a praça dos Três Poderes e desativar os artefatos explosivos. Ele, porém, não poupou críticas a autoridades que trataram o episódio apenas como suicídio, classificando isso de "mediocridade". A menção era à vice-governadora do DF, Celina Leão (PP). Ela foi evasiva quando questionada pela imprensa sobre terrorismo e afirmou que a linha que estava sendo investigada era de suicídio.
Em entrevista coletiva para jornalistas na noite de quarta-feira, a tratou o caso como suicídio.
Não poderia deixar de lamentar a mediocridade de várias pessoas que continuam querendo banalizar um gravíssimo ato terrorista. No mundo todo, alguém que coloca na cintura artefatos para explodir pessoas é considerado um terrorista. Quero lamentar essa mediocridade das pessoas que, por questões ideológicas, querem banalizar dizendo o absurdo que foi por exemplo um mero suicídio. Não. A nossa polícia judicial evitou que ele entrasse aqui para explodir. E, na hora que ele seria preso, aí ele se explodiu. Lamentar essa mediocridade que também pretende normalizar um contínuo ataque às instituições. Essas pessoas, presidente, não são só negacionistas na área da saúde, são negacionistas do Estado de Direito. Devem ser responsabilizadas e serão responsabilizadas.
Ministro Alexandre de Moraes, do STF
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Quero receberPF investiga caso como ato terrorista
Inquérito foi aberto ainda na noite de ontem. A Polícia Federal disse que, conforme o UOL havia antecipado, o caso será tratado como ato terrorista e ataque ao Estado Democrático de Direito.
Artefatos artesanais. Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, o homem chamado Francisco Wanderley Luiz portava artefatos feitos de forma artesanal, mas com alto "poder de lesibilidade", e um extintor de incêndio que simulava um lança-chamas. As investigações vão apontar de que materiais foram feitas as bombas.
Ex-mulher deu a declaração para agentes em Santa Catarina. Ela e outros familiares de Francisco Wanderley Luiz foram localizados por agentes da PF. Ela disse que o principal alvo era o ministro Alexandre de Moraes e "quem mais estivesse junto". "Ele falou que mataria ele e se mataria", disse. O chaveiro chegou a se lançar candidato a vereador no município de Rio do Sul (SC) em 2020 pelo PL, partido onde está atualmente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Wanderley Luiz compartilhava os planos e ameaças em grupo. Sua ex-mulher disse que o autor das explosões em Brasília planejava o ataque desde a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro e fazia buscas no Google para viabilizar o atentado. Ela, no entanto, nega a participação do autor de explosões nos ataques anteriores aos prédios dos três Poderes.
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