Amorim critica Venezuela, mas Brasil 'deve lidar com quem está no poder'
Do UOL, em São Paulo
27/11/2024 05h30
O representante especial da Palácio do Planalto, embaixador Celso Amorim, criticou a eleição na Venezuela, mas garantiu durante o UOL Entrevista, do Canal UOL, que o Brasil deve lidar com "quem estiver no poder".
O ditador Nicolás Maduro foi declarado presidente eleito sem, no entanto, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) ter divulgado as atas da votação no pleito realizado em julho. Na ocasião, o Brasil questionou a ausência de transparência na votação. O clima entre os dois países ficou tenso a ponto de o Brasil vetar a entrada da Venezuela no bloco econômico dos Brics. Muitos países — dentre eles, os Estados Unidos — declararam reconhecer o opositor Edmundo González Urrutia como presidente eleito da Venezuela.
Olha, o Brasil, com uma boa tradição do direito internacional, não só brasileiro, mas de muitos países, não reconhece governos, reconhece estados, com quem estiver no poder. Isso não quer dizer que a gente legitime o processo eleitoral. O processo eleitoral, infelizmente para nós, fracassou. Na minha opinião, fracassou tanto para o governo quanto para a oposição.
Relacionadas
A oposição teve uma estratégia de radicalização que não ajudou. E o governo também, a meu ver, não cabe a mim fazer esse julgamento. O ano que vem tem eleições parlamentares, tem eleições para governador e quem sabe a gente vê aí uma possibilidade de uma maior abertura. Estava implícito nessas partes da legislação venezuelana, a questão da divulgação dos boletins. Era uma expectativa, que não ocorreu.
Celso Amorim
Questionado sobre quem o Brasil reconhece hoje como presidente da Venezuela, Amorim respondeu. "A gente lida com o governo da Venezuela, que é o governo que de fato... hoje não há dúvida que é ele [Nicolás Maduro], porque ele tem o mandato dele."
O papel de Trump no conflito entre Rússia e Ucrânia
Ainda durante o UOL Entrevista, Amorim disse acreditar que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, será mais efetivo do que o presidente atual, Joe Biden, ao tentar solucionar o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Vejo mais possibilidades de solução com o Trump do que com o governo americano [atual], em relação à guerra na Ucrânia, por exemplo. Eu não quero fazer previsões, mas eu acho que o presidente Trump, tem uma visão mais pragmática de como as coisas não só deveriam ser, mas como elas são.
Pode ser pelo motivo que for, não vou entrar num julgamento ético, e eu acho que é essa a compreensão. O que nos interessa é a paz. Claro que não é qualquer paz. Não é uma coisa que seja equilibrada, justa, mas que não desconheça as preocupações de um lado ou de outro. Celso Amorim
A Rússia invadiu a Ucrânia e deu início a uma guerra em fevereiro de 2022. Milhares de civis já foram mortos em quase três anos de conflito. O presidente russo, Vladimir Putin, e o ucraniano, Volodimir Zelenski, têm trocado acusações publicamente, sem o anúncio de um acordo de paz em vista.
Ofensa de Janja contra Musk
Também no programa, Amorim citou o xingamento feito pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, contra o bilionário Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, e que isso teria feito no âmbito do campo pessoal.
Acho que é um julgamento pessoal. Aliás, o meu não seria muito diferente. Eu sou diplomata, sou obrigado a usar palavras suaves.
Celso Amorim
No dia 16 de novembro, a socióloga gerou polêmica internacional ao xingar o magnata com palavrão durante um evento do G20 Social, realizado no Rio de Janeiro. Em meio a uma falha no som, Janja comentou que poderia ser "culpa do Elon Musk" e, na sequência, disse "fuck you, Elon Musk", ao lado do influenciador Felipe Neto. O ato foi interpretado como um ataque direto ao empresário, que deve liderar um departamento no futuro governo de Donald Trump, nos Estados Unidos.
Musk reagiu com ironia nas redes sociais e escreveu mensagem dando a entender que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marido de Janja, perderia a próxima eleição prevista para 2026. "Eles vão perder a próxima eleição."
O episódio gerou mal-estar diplomático e ampla repercussão na mídia internacional —muitos veículos destacaram a já conturbada relação entre Musk e o Brasil, especialmente devido às posições do bilionário em temas como desinformação e liberdade de expressão na plataforma X (antigo Twitter), de sua propriedade.