Sede no Planalto e porta-voz de peso: como seria o governo após o golpe
Com criação prevista para o dia seguinte ao golpe, o Gabinete Institucional de Gestão da Crise funcionaria em uma sala no segundo andar do Palácio do Planalto e teria um "porta-voz com notoriedade nacional e internacional", de acordo com minuta encontrada pela PF (Polícia Federal) e divulgada nesta terça-feira (26).
O que aconteceu
Porta-voz visaria "favorecer as ações planejadas e em curso", segundo a minuta. O documento não informa quem ocuparia o cargo. Outras metas eram estabelecer um discurso único e uma rede de inteligência nos níveis estadual e municipal e criar uma "assessoria de operações psicológicas" —a minuta não traz detalhes sobre como ela funcionaria.
O documento prevê que o gabinete de governo golpista teria sete militares responsáveis pela comunicação. São quatro coronéis, André Costa, Anderson Vilela, Hidenobu Yatabe e Flavio Peregrino, dois tenentes-coronéis, Darlan Sena e Letícia (o sobrenome não foi informado), e uma mulher identificada apenas como Amanda. Também havia metas como "minimizar narrativas da mídia" e estabelecer contato com lideranças do agronegócio, de povos indígenas, de caminhoneiros e outros grupos.
Uma das finalidades do gabinete de crise, segundo a PF, era criar "vínculo de confiança" entre Bolsonaro e o chefe do Exército. O objetivo foi identificado em uma troca de mensagens entre o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto, integrante dos chamados "kids pretos", e o coronel Fabrício Moreira de Bastos, hoje adido na Embaixada do Brasil em Tel Aviv, no dia 28 de novembro de 2022. Ambos foram indiciados pela PF na semana passada, junto com o ex-presidente Bolsonaro.
Minuta para criação do gabinete foi encontrada com o general da reserva Mario Fernandes. Preso em 19 de novembro, Fernandes foi o número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro. Também chegou a assumir a pasta interinamente. Segundo a PF, o arquivo de texto da minuta foi criado em 16 de dezembro de 2022, às 10h43, e modificado no mesmo dia, às 14h06, pelo próprio Fernandes. A ideia era que a medida fosse implementada via decreto presidencial.
PF diz que, inicialmente, militares planejavam instalar o gabinete no Comando de Operações Terrestres. À época, a unidade (que abriga o maior contingente de tropas entre todas do Exército) era comandada pelo general Estevam Theóphilo, outro dos indiciados por tentativa de golpe. Depois, previram a instalação no Palácio do Planalto.
Gabinete teria equipe majoritariamente militar, diz PF
A PF destaca que "várias pessoas que são investigadas ou ligadas aos investigados" integrariam o novo órgão.
Augusto Heleno seria chefe e Walter Braga Netto, coordenador-geral. Ambos são generais. Heleno comandava o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência à época dos fatos. Já Braga Netto foi vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022 e esteve à frente da Defesa e da Casa Civil com Bolsonaro.
Militares próximos a Fernandes integrariam gabinete, segundo PF. Um coronel identificado como Elcio faria parte da assessoria estratégica. Chefe de gabinete de Fernandes na Secretaria-Geral da Presidência, os coronéis Jorge Kormann, Reginaldo Abreu e Rodrigo Azevedo também comporiam a equipe.
Filipe Martins também integraria gabinete de crise. Civil, Martins era assessor especial de assuntos internacionais da presidência e cuidaria do tema no novo órgão.
As informações vieram à tona nesta terça-feira (26). No começo da tarde, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes levantou o sigilo do relatório final produzido pela PF e encaminhou o documento que indicia Jair Bolsonaro (PL) e outros 36 por tentativa de golpe à Procuradoria-Geral da República.