Marinha nega que deixou 'tanques prontos' para o golpe, como citou a PF
Tiago Minervino
Colaboração para o UOL, em São Paulo
27/11/2024 11h02
A Marinha negou que tenha deixado "tanques prontos" para a trama golpista que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), após o resultado das eleições em 2022, conforme apontou relatório da Polícia Federal.
O que aconteceu
"Em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados", diz Marinha. A Força rechaçou, em nota, as informações da PF de que o seu então comandante, o almirante Almir Garnier, teria colocado o órgão à disposição da trama golpista articulada por Bolsonaro e aliados ao deixar "tanques prontos".
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PF apontou que, segundo mensagens apreendidas, o ex-chefe da Marinha deixou "tanques no arsenal prontos" para a execução do plano golpista. Conforme a investigação, uma pessoa, identificada como "Riva", disse isso sobre os tanques e afirmou que o almirante Garnier "é patriota". De acordo com o relatório, as mensagens foram apreendidas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
Marinha diz que seu arsenal não foi e não será usado para "ações que tentem abolir o Estado Democrático de Direito". "Sublinha-se que a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi e nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais".
Marinha reforçou que obedece à legislação e os valores éticos e disse estar disponível para prestar esclarecimentos. "A Marinha do Brasil encontra-se à disposição dos órgãos competentes para prestar as informações que se fizerem necessárias para o inteiro esclarecimento dos fatos, reiterando o compromisso com a verdade e com a justiça".
"Mentira deslavada", diz defesa de almirante Garnier sobre relatório da PF. "Consulte o atual Comandante da Marinha, que era o responsável pelo emprego de tropas, se isso aconteceu", declarou ao UOL o advogado e ex-senador Demóstenes Torres (seu mandato no Senado foi cassado em 2012).
Chefe da Marinha apoiava golpe, diz PF
No relatório final do inquérito, a PF afirma que Jair Bolsonaro buscou o apoio das Forças Armadas em seu plano golpista. O ex-presidente não encontrou apoio dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica, mas teria recebido o aval do líder da Marinha, Almir Garnier — ele é um dos 37 indiciados pela Polícia Federal.
Garnier comandou a Marinha entre abril de 2021 e 30 de dezembro de 2022. As investigações da PF revelaram que, em 14 de dezembro de 2022, o almirante foi o único a não se opor à minuta do golpe, apresentada a ele e a outros oficiais-generais em uma reunião com o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa do governo Bolsonaro.
Relatório apresentado pela PF ao STF tem 884 páginas e aponta possível cometimento de crimes. O documento afirma que os indiciados se envolveram em casos de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de Direito e organização criminosa.
Bolsonaro nega plano de golpe
Jair Bolsonaro admitiu que estudou possibilidade de decretar estado de sítio, mas negou tentativa de golpe. "Golpe de Estado é uma coisa séria. (...) Tem que estar envolvido todas as Forças Armadas, senão não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando", rechaçou o ex-presidente, na última segunda (25), antes de o relatória da PF ter sido divulgado. Ele afirmou que analisou todas as possibilidades que existem na Constituição para "resolver o problema' e que as descartou quando "não teve como resolver".
Da minha parte, nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse pedir golpe para mim, ia falar: 'Tá, e o after day'? E o dia seguinte, como é que fica? Como fica o mundo perante a nós?' (...) A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário.
Jair Bolsonaro, sobre investigação da PF