Alesp: governistas defendem PM, e oposição culpa Tarcísio por violência
A divulgação do vídeo em que um policial militar joga um homem de uma ponte gerou repercussão entre deputados estaduais na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta terça-feira (3). Parlamentares da oposição culparam o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário Guilherme Derrite por episódios recentes de violência policial. Já os governistas saíram em defesa da PM.
O que aconteceu
Oposicionistas criticam atuação de Tarcísio e do secretário de Segurança Pública do Estado. Parlamentares ouvidos pelo UOL atribuem casos recentes de uso desproporcional da força policial a um discurso da gestão atual que incentivaria a violência por parte da PM. Deputados da oposição também ingressaram com ações no MP-SP (Ministério Público de São Paulo) e na Alesp contra o governo estadual.
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O deputado estadual Reis (PT) afirmou que o episódio demonstra que a PM saiu do controle do governo. "Esse descontrole pode ter sido pelo libera geral do governador. 'Ah, vamos combater o crime, o bandido tem que morrer'. Ele dá uma licença para matar", disse o petista, que foi investigador da Polícia Civil e é integrante da Comissão de Segurança Pública e Assuntos Penitenciários da Casa.
Líder do PT na Alesp chamou de "inadmissível" casos de violência policial que têm "se proliferado". "A instituição precisa de orientação do governo e o secretário de segurança precisa explicar o aumento absurdo de casos de letalidade policial", cobrou Paulo Fiorilo.
Cenário é "estarrecedor", diz deputada do PSOL. "A gente acompanha essa situação. Mostra um cenário de horror que a gente está acompanhando hoje, de ver um policial jogando uma pessoa no rio. Quantos morrem na periferia sem que ninguém saiba?", questionou Ediane Maria, integrante da Comissão de Segurança Pública e Assuntos Penitenciários da Casa.
Deputados do PSOL pediram afastamento de Derrite e que secretário seja convocado pela Alesp. Guilherme Cortez ingressou com representação no MP-SP pedindo que o titular da SSP e o comandante-geral da PM, Cássio Araújo Freitas, sejam retirados dos cargos. Ele ainda protocolou requerimento para que Derrite preste esclarecimentos à Casa. Já Ediane Maria quer que o MP-SP investigue o secretário por improbidade administrativa.
Aliados de Tarcísio saíram em defesa do governador e da PM. Os governistas ocuparam a tribuna da Alesp nesta tarde para rebater discursos de parlamentares da oposição contra a atual gestão.
O deputado Conte Lopes (PL) repetiu o discurso governista de que o episódio foi uma exceção. "Isso não é nada normal. Nunca vi policial nenhum jogar alguém de cima da ponte. Não é a PM. É o policial tal que jogou. Nós não podemos assumir essa responsabilidade como se qualquer um de nós jogasse alguém de cima de uma ponte. A Polícia Militar não aceita isso. Ninguém quer erros desse tipo aí, não", disse ele, integrante da Comissão de Segurança e da chamada "bancada da bala", formada por deputados com trajetória nas forças de segurança pública.
Presidente da Comissão de Segurança disse que a PM não tolera erros. "Na polícia, pode ser quem for. Se fizer coisa errada, vai pagar. Se for condenado, vai ser expulso da instituição", disse o Major Mecca (PL), também integrante da bancada da bala. Ele ainda elogiou o trabalho de Derrite à frente da SSP.
Líder do governo na Alesp preferiu não se posicionar. "Eu não conversei com ninguém, prefiro não me envolver nesse assunto. Sou apenas um espectador", disse o deputado Gilmaci Santos (Republicanos) ao ser questionado pela reportagem.
Mais cedo, governador fez publicação em suas redes sociais, com críticas a episódios recentes de violência policial. Ele criticou quem "atira pelas costas" e o "absurdo de se jogar uma pessoa da ponte", dizendo que quem faz isso "não está à altura de usar uma farda".
Casos de violência policial pressionam governo
Além de homem jogado da ponte, outros episódios recentes de violência policial geraram repercussão negativa para gestão estadual. No início de novembro, o menino Ryan, de 4 anos, foi morto durante uma ação da PM no litoral. Logo depois, um estudante de medicina foi assassinado por um PM e um homem foi morto a tiros pelas costas, também por um agente.
Tarcísio convocou reunião de emergência nesta tarde. Segundo a colunista do UOL Raquel Landim, após a repercussão negativa dos fatos, ele se encontrou com o comandante-geral da PM para discutir uma série de medidas para "corrigir o rumo" da política de segurança pública e "punir excessos" na corporação.
Derrite continua com força dentro do governo, mesmo com episódios recentes. Na avaliação de deputados governistas ouvidos pela reportagem, o secretário mantém prestígio junto a Tarcísio e não deve sofrer desgaste. O trabalho à frente da pasta é bem avaliado por parlamentares, que acreditam que ele tem feito avanços no combate ao crime organizado.